O que era uma experiência para conhecer o funcionamento do sistema legislativo acabou se tornando uma aspiração política e, agora, ex-participantes da Câmara Municipal Universitária (CMU) e do Parlamento Universitário (PU) - projetos que simulam o processo legislativo e permitem que estudantes atuem como deputados e vereadores durante duas semanas - estão se preparando para lançar candidaturas para as eleições 2020. De acordo com a Câmara Municipal de Curitiba e a Assembleia Legislativa do Paraná, são pelo menos nove os pré-candidatos oriundos dos programas. Eles devem disputar cadeiras tanto na capital quanto nos municípios da Região Metropolitana.
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Parte deles, mesmo interessada em temas políticos, não se imaginava concorrendo a um cargo eletivo antes de vivenciar a rotina de parlamentar. Foi o caso estudante de direito Jonathan Henrique Ortener, pré-candidato pelo Partido dos Trabalhadores (PT). “Eu tinha essa ideia senso comum de que a política não funcionava e o projeto acabou amadurecendo minhas ideias”, conta. A mudança de mentalidade o levou a outro programa em dezembro de 2019, desta vez no Congresso Nacional, e à filiação ao partido no início do ano.
O empresário do ramo do motofrete e também estudante de direito Edevaldo Silva conta que passou por transformação semelhante. “Eu nunca tive interesse em ser candidato. Até demonizava a política, como muita gente faz. Mas depois da CMU, vi a relevância desse trabalho”, complementa. Inicialmente, essa percepção fez com que ele buscasse uma forma de se tornar um cidadão mais atuante. Assim, começou a fazer solicitações à administração pública e compartilhá-las em perfis de redes sociais, para que outros também pudessem acompanhar os processos. Foi só no início deste ano que ele se filiou ao PSL e começou a conversar com membros do partido sobre uma possível candidatura.
O estudante de ciências sociais Lucas Nekel, pré-candidato pelo Democratas, e o engenheiro elétrico recém-formado Victor Lopes, que pretende se candidatar pelo Novo, encaravam a situação de forma uma pouco diferente: não viam, na política, espaço para eles, seja por não serem de famílias tradicionais ou se decepcionarem com algumas práticas. “Mas participando eu vi que tinha onde atuar, onde agir. E percebi que o vereador tem um impacto direto na vida do cidadão. Isso me motivou a entrar no processo”, diz Lopes.
Vontade antiga de entrar para a política
No grupo dos ex-parlamentares universitários que devem se candidatar também há os que já vinham pensando na carreira política há algum tempo. A estudante de direito e ciências sociais Camila Gonda é umas delas. “Sempre tive interesse pela vida política e quando vi o projeto, vi a chance de expor um pouco mais a minha voz, as minhas opiniões”, conta.
Camila integrou o Parlamento Universitário, da Alep, em 2018 e, no ano seguinte, não só se filiou ao Partido Democrático Trabalhista (PDT) como contribuiu para a estruturação do programa para universitários da Câmara dos Vereadores. Agora, aos 19 anos, quer concorrer para defender os direitos da juventude. “Temos pautas muito necessárias e que não são ouvidas”, diz.
Também pré-candidato pelo PDT, o estudante de história e conselheiro municipal da juventude pela regional do Tatuquara Luan Azevedo conta que a política está nos seus planos desde que foi representante do estado no Parlamento Jovem Brasileiro, do Congresso Nacional, em 2015, e que a passagem pela CMU foi importante para entender como o processo funciona. “Você compreende que se for eleito, não vai ser sozinho. Junto contigo tem 37 vereadores e tem que saber conversar, congregar forças”, avalia.
O estudante de direito Leonardo Sanches, que vai concorrer pelo Podemos a uma vaga na Câmara Municipal de Piraquara, aproveitou a oportunidade para concretizar uma vontade antiga. “Sempre acompanhei a política local, procurei participar de projetos em prol da comunidade, trabalhei como assessor parlamentar na Câmara de Piraquara. É uma coisa que sempre me chamou a atenção”, diz.
Pautas diversas
Além da educação e da saúde, frequentemente citadas como prioridades pelos ex-parlamentares universitários, temas variados estão no radar dos pré-candidatos. Edevaldo Silva, por exemplo, pretende apresentar propostas relacionadas à acessibilidade e aos direitos dos motofretistas. “Busco mais respeito e mais credibilidade para a categoria. É preciso valorizá-la”, afirma.
Já Luan Azevedo, que já desenvolve um trabalho voltado para defesa dos direitos da juventude, pretende apresentar projetos relacionados ao passe estudantil e outras políticas públicas que digam respeito aos jovens. A juventude também é prioridade para a pré-candidata Camila Gonda, mas ela quer defender ainda os direitos da mulher, além de pautas voltadas para o meio ambiente e para a cultura.
A organização administrativa e a eficiência da máquina pública são temas sobre os quais os pré-candidatos Victor Lopes e Lucas Nekel pretendem se debruçar. “Estou estudando a possibilidade de fazer um trabalho, a exemplo de outros vereadores, de revisar as leis do município para verificar quais são aplicadas de fato e propor um ‘revogaço’ das que não são”, diz Lopes.
O fomento do turismo ainda é citado como prioridade pelo pré-candidato à Câmara Municipal de Piraquara Leonardo Sanches. “A cidade tem muito potencial para crescer nesse sentido”, diz.
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