Vacinas e terapias com componentes biológicos produzidos em laboratório.| Foto: Belova59/Pixabay
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A meta é arrojada: fazer com que o Parque Tecnológico da Saúde do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), no Paraná, chegue a 2024 com uma produção de insumos biológicos que auxilie na produção de até 40 milhões de doses anuais de vacinas.

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O investimento financeiro de R$ 200 milhões anunciado na semana passada, feito exclusivamente pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), é direcionado à estrutura que existe desde 2011. A contrapartida do Governo do Paraná será feita pelo Tecpar, que gerencia o parque e entra também com o complexo laboratorial do instituto e seu corpo técnico.

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A necessidade desse investimento, que até o momento é o único desse tipo no país, surgiu de percepções de pesquisadores sobre o futuro das vacinas/terapias e de aprendizagens com a pandemia do novo coronavírus.

A grande dependência de insumos vindos de fora e as boas experiências com novas tecnologias apontaram soluções. “Para desenvolver uma vacina de mRNA, por exemplo, são quatro meses para que os insumos cheguem ao país. A ideia deste investimento é atender esse campo carente, aproveitando um parque fabril que já produz ácidos nucleicos e enzimas como base e investir em vacinas e terapias de nova geração”, diz Marco Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação da Fiocruz. As vacinas, segundo ele, serão finalizadas em outra planta da Fiocruz, na Bio Manguinhos, localizada no Rio de Janeiro.

No Parque, localizado no campus CIC do Tecpar, em Curitiba, estão instalados ainda o Instituto Carlos Chagas (ICC/Fiocruz), unidade regional da fundação no Paraná; e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), parceria da Fiocruz com o governo estadual. Entre as instituições ali presentes, o Tecpar é a única que produz vacinas hoje no estado, mas a antirrábica, destinada apenas a animais.

Foco do investimento

São três os focos principais desse investimento: o primeiro, a implantação de uma planta para bioprocessos, capaz de produzir biofármacos para lotes clínicos de novos produtos; o segundo, uma planta industrial para produzir insumos para vacinas e biofármacos de nova geração; e o terceiro, a retomada da planta industrial do Tecpar para proteínas monoméricas e outros biofármacos.

Esta planta chegou a fornecer ao Bio-Manguinhos/Fiocruz, desde 2006, a Proteína Monomérica Tetânica (PMT), insumo para vacina tetravalente bacteriana, que compunha o Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde. “Em 2012, sua produção foi descontinuada, assim como a de PMT, na planta”, revela o Tecpar, consultado pela Gazeta do Povo.

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A modernização da planta que produz proteínas carregadoras, usadas em várias vacinas que o Brasil hoje importa, como a meningocócica ACWY; a contra o pneumococo; e a hexavalente, vai ajudar o país a suprir uma demanda anual de 40 milhões de doses. “Os equipamentos estão prontos para o uso, e a produção deve começar já no segundo semestre, sendo escalonada até 2023 e atingindo a capacidade total em 2024”, diz Krieger.

A retomada da produção da PMT já tem um grupo de trabalho instalado, formado por especialistas das três instituições. “A ideia é apoiar a autossuficiência nacional na produção de vacinas, tendo em vista que a PMT é insumo fundamental para o desenvolvimento de vacinas”, explica o Tecpar. Neste momento também a instituição tem edital aberto para prospecção de parcerias para a produção das vacinas pentavalente e meningocócica.

A força dos biológicos

Krieger explica que, no Brasil, há quatro plantas para biológicos em funcionamento ou capazes de funcionar, e que a do Paraná será usada em escala piloto, para lotes clínicos, permitindo a transferência e internalização de tecnologia. “Os remédios biológicos representam quase 65% dos gastos dos medicamentos de alta complexidade da Atenção Farmacêutica do Ministério da Saúde, como anticorpos monoclonais e outras proteínas terapêuticas produzidas em células. Como são moléculas maiores e mais complexas de produzir, dominar a tecnologia é importante para criar novos produtos”, diz ele.

Com o avanço da ciência, novos medicamentos poderiam ficar, no futuro, inacessíveis ao sistema público de saúde caso investimentos não sejam feitos. “Então, a única forma de garantir esse acesso é com investimento na transferência e domínio das tecnologias, com desenvolvimento próprio e domínio da cadeia de produção”, explica Krieger.

Aprendizagem com as lições da pandemia

O aprendizado trazido pela pandemia em relação a novas tecnologias de produção de vacinas, que se mostraram rápidas e eficientes, como as vacinas de mRNA e de vetor viral, abriram os olhos dos pesquisadores para a importância desse investimento. “Essas tecnologias têm convergência com terapias avançadas usadas hoje contra câncer e doenças raras, que usam ferramentas de manipulação genética para tratá-los. Hoje não produzimos esses insumos no Brasil, mesmo sabendo, por exemplo, que uma das tecnologias para tratar alguns tipos de câncer utiliza tecnologia igual a que a Fiocruz usa em vacinas de vetor viral”, diz ele.

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O principal resultado desse tipo de investimento, segundo Krieger, será a ampliação do alcance dessas terapias, pela redução dos custos envolvidos. “Um tratamento de câncer tem um custo estimado de R$ 2 milhões, nossa pretensão é que caia para, no máximo, R$ 100 mil, um vinte avos do valor total”, diz ele, citando que há tratamentos de doenças raras que estão entre os mais caros do mundo, que envolvem até R$ 7 milhões e que podem ser beneficiados.

A ideia é que se possa fazer a produção desses insumos já usados em vacina mRNA e vetor viral e que poderão ser usados tanto pela Fiocruz como por outras instituições, permitindo ao Brasil ter autonomia na produção de vacinas para doenças infectocontagiosas e doenças crônico-degenerativas. “O que queremos fazer agora com a vacina é o que fizemos recentemente na área de diagnóstico: a partir do RT-PCR desenvolvido no IBMP, quando chegou a monkeypox, a varíola dos macacos, ao Brasil, produzimos reagentes e o teste em uma semana, um avanço para o Brasil e toda América Latina”, diz Krieger.

Nesse caso, por não depender da compra de nenhum insumo especial – foram usados tanto insumos comuns, quanto específicos - e de se ter o controle ideal para validação das reações, isso fez com que a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) viesse à Curitiba solicitar insumos para que fossem distribuídos em países da região que não conseguiriam produzir.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]