Diferentemente de anos anteriores, quando escolheu políticos experientes para disputar a prefeitura de Curitiba, neste ano o Partido dos Trabalhadores (PT) resolveu apostar em uma cara nova. Rosto novo para a maioria da população, mas longe de ser um novato na política. Advogado e professor de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Paulo Opuszka vai disputar sua primeira eleição como candidato, após ter coordenado várias campanhas eleitorais, trabalhado em gabinetes e órgãos administrativos.
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“Nos últimos 30 anos, os quatro nomes que disputaram a prefeitura e o governo estadual pelo PT são os mesmos. Não tem como fugir dessa transição geracional, os partidos precisam de novos quadros”, afirma Opuszka à Gazeta do Povo. A experiência adquirida em diferentes funções na administração pública é apontada pelo petista como um diferencial, no sentido de aliar “eficiência, produtividade e efetividade”. “O administrador têm que ter coragem de ouvir e enfrentar os principais problemas”, defende. Acompanhe a entrevista:
Essa é a primeira vez que o senhor disputa um cargo político eletivo. A escolha do seu nome pelo PT, em detrimento de outros políticos mais experientes, é uma tentativa do partido de se renovar?
Na eleição de 2008, o perfil da Gleisi [Hoffmann] era muito parecido, um quadro técnico que tinha conhecimento em relação à base, bom trânsito nas diferentes tendências, unia o partido na coordenação, mas não era um nome que já havia se projetado como figura pública. Nos últimos 30 anos, os quatro nomes que disputaram a prefeitura e o governo estadual pelo PT são os mesmos. Não tem como fugir dessa transição geracional, os partidos precisam de novos quadros. Na política em geral, em Curitiba, os nomes que estão fazendo sucesso são os que estão fazendo essa mudança geracional. Mas não foi só por isso. Passa também pelo entendimento do que é a tarefa do PT, um partido que tem uma questão social muito forte, um compromisso com o desenvolvimento das comunidades menos favorecidas, uma opção pelo orçamento nas comunidades da periferia, pela democratização da justiça. Passa por uma necessidade de discutir com as novas lideranças do PT.
O senhor esteve por quatro anos na superintendência do Instituto Municipal de Administração Pública (Imap). O que essa experiência lhe mostrou sobre a gestão da cidade e de que maneira pretende aproveitá-la?
O Imap é um órgão voltado ao desenvolvimento pessoal e à capacitação dos servidores municipais. Na nossa gestão, o que acontecia era o seguinte: a prefeitura tinha que terceirizar, contratar uma escola que certificasse os servidores. Nós fizemos com que o instituto virasse uma escola de governo e emitisse a certificação. A experiência no Imap pode contribuir no olhar, em conhecer a eficiência do serviço público aliada à produtividade e a efetividade. Se você só conhece o serviço público por dentro e não tem relação para fora, faz uma gestão eficaz, mas que não atende o povo. Se só atende a população e não entende de orçamento, você faz gastos imensos, comete ações ineficientes. Todo candidato a prefeito deveria entender de eficiência administrativa aliada à efetividade e cidadania. O prefeito atual entende de eficiência e não entende de efetividade, por isso atende um terço da população.
Hoje o PT, de forma geral, está focado na oposição ao governo federal. Em que medida isso deverá influenciar a sua campanha?
Eu não diria que ele está focado na oposição ao governo federal, mas está focado naquilo que sempre foi o foco dos governos do PT, que é o atendimento de fato à população. Hoje, o interesse do governo federal é completamente diverso ao nosso. Se for pensar em Curitiba, o principal programa do governo federal que gerou desenvolvimento social nos últimos anos foi o Minha Casa, Minha Vida, das gestões do PT. Várias obras na cidade são resultado do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Hoje esse tipo de construção está completamente parado porque não tem repasse de verba. As mesmas obras de 2016 estão paradas até agora, um pouco por causa da crise econômica e um pouco por esse modelo que não alinha efetividade e eficiência. Isso tem relação com o modo de enxergar administração pública: se é de um modelo voltado para o resultado ou se é mais burocrático, ligado ao patrimonialismo. E o modelo que o PT sempre defendeu foi o de administração deliberativa, no qual alia eficiência, técnica e discussão com participação popular. Uma discussão efetiva do orçamento, não com audiência falsa, em que a população não participa porque acontece no meio da tarde, quando todo mundo está trabalhando. Mas para fazer isso tem que ter coragem e legitimidade popular, porque o povo vem e opina. Só faz isso quem não tem medo de ser cobrado. Esse é um passo inicial, o administrador tem que ter coragem de ouvir e enfrentar os principais problemas.
Se fosse prefeito, o que teria feito diferente no enfrentamento à Covid-19?
São basicamente três momentos no enfrentamento à Covid: as decisões macro sobre isolamento, para que as pessoas não fiquem doentes; o atendimento e a estruturação do sistema de saúde, para que ele não entre em colapso; e o pós-pandemia, com medidas para recuperar a economia. Em todas as experiências que deram certo, as cidades mais radicais na primeira etapa, que tiveram isolamento mais rigoroso com possibilidade de lockdown, são as que tiveram melhor atendimento do serviço público e melhor recuperação econômica. O primeiro enfrentamento tinha esse objetivo, mas aqui em Curitiba não deu 15, 20 dias, a prefeitura relaxou. Ficou com medo de enfrentar os grandes grupos econômicos e abriu num momento em que não poderia ter aberto. Dali para frente seguiu algo que não era nem lockdown, nem abertura, arrebentava quem estava doente, arrebentava o comércio e a população. Me parece que a administração perdeu o comando sobre o combate à Covid. Outra coisa: são mais de 30 unidades básicas de saúde fechadas, isso é um problema grave, afinal, é onde é feito o primeiro atendimento. A atenção básica vai atuar na prevenção, evitar que o paciente chegue ao hospital e sobrecarregue o sistema.
Sobrando ainda alguma capacidade de investimento pós-pandemia, onde o senhor concentrará os recursos da cidade nos próximos anos e por quê?
A situação é pior do que apenas o pós-pandemia. Há quatro ou cinco grandes problemas para a próxima gestão, relacionados a creches, escolas e saúde. São contratos com previsão para acabar e que terão que passar por discussão. Então, não é só a questão da pandemia, já teriam questões orçamentárias a serem resolvidas. Temos que lembrar ainda que diminuíram os repasses do governo federal a essas áreas sensíveis, houve cortes imensos. Em relação ao pós-pandemia, o centro da discussão será trabalho e renda. O empréstimo ao micro e pequeno empresário não poderá ter juro, quem vai subsidiar é o município. Houve um repasse de R$ 500 milhões para o transporte coletivo, eu usaria esse valor para um grande repasse a essa comunidade empresarial. Se for olhar as estatísticas, as micro e pequenas empresas são as que geram o maior número de empregos. Se eu destino um valor do orçamento para elas, estou garantindo a empregabilidade da maioria. A gente vai ter que criar trabalho para a classe pobre e a prefeitura vai ter que participar disso como nos anos 1970, quando as obras públicas empregavam as pessoas. Acho inclusive que teremos de pensar em medidas para criar uma moeda social, como aconteceu em outros países.
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