O ano é 2023 e o Paraguai aparece, em uma lista de 193 países divulgada em setembro do ano passado, na 4ª colocação do Índice Global de Crime Organizado (Ocindex). O país que tem quase 1,4 mil quilômetros de fronteira com o Brasil perde apenas para Colômbia, México e Mianmar, que ocupa a primeira colocação do ranking.
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O Ocindex é produzido pela Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional, uma rede de mais de 600 especialistas em direitos humanos, democracia, governança e desenvolvimento.
Os autores do estudo avaliam que “os pontos de 2023 mostram que a região das Américas continua dominando o comércio mundial de cocaína como principal mercado de origem da droga” para abastecer o planeta.
De acordo com o estudo, a posição do Paraguai no ranking está diretamente relacionada com a atuação cada vez mais constante do crime organizado, com destaque para o Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior facção criminosa brasileira que se desenha como uma das maiores do mundo.
O Paraguai passou a ser um importante reduto para criminosos foragidos da Justiça brasileira e para bases que operam no esquema logístico bilionário do tráfico de drogas e armas, contrabando de cigarros e outros crimes transfronteiriços.
Em 2022, o assassinato do promotor paraguaio Marcelo Pecci, enquanto viajava em lua de mel na Colômbia, chamou a atenção do mundo para a segurança pública na América do Sul. Segundo autoridades paraguaias, a morte foi ordenada pelo PCC, que vinha sendo investigado pelo promotor.
O estudo avalia que o fato foi relevante para que o Paraguai, com apenas 10 milhões de habitantes, passasse a ocupar destaque no cenário mundial da criminalidade.
PCC tem planos ousados para o Paraguai
O objetivo do PCC, segundo investigações da Polícia Federal brasileira, é avançar e se consolidar no Paraguai. Além do tráfico de armas e drogas, a facção tem investido em roubos a bancos e instituições ligadas a crédito, principalmente em pequenas cidades no interior.
De acordo com o delegado Marco Smith, chefe da maior delegacia da Polícia Federal na América Latina, localizada em Foz do Iguaçu (PR), os criminosos estão no radar dos agentes em toda tríplice fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina), com investigações que apontam para outros crimes do tipo em articulação.
Smith lembra que, desde o início do ano, ocorreram ao menos quatro ocorrências de roubos a banco, todas com participação direta de membros do PCC e com resultados milionários. A ação que no Brasil ficou conhecida como Novo Cangaço agora avança pelo interior do Paraguai.
“A escolha pelo Paraguai se dá porque a facção encontra nesses locais, como em muitas cidades menores do Brasil, uma segurança mais vulnerável e maior liberdade para agir”, explica Smith.
Roubo de R$ 75 milhões em túnel de 200 metros
Em fevereiro deste ano, um roubo à Associação dos Cambistas em Cidade do Leste, a segunda cidade mais populosa do Paraguai, chamou a atenção. O município tem 302 mil habitantes, é o maior centro comercial do Paraguai e fica na fronteira com Foz do Iguaçu.
Diferentemente de outros crimes contra instituições financeiras, o roubo silencioso e sem disparos de arma de fogo só foi descoberto dois dias depois. Os criminosos cavaram um túnel de 200 metros em cerca de um ano e, sem levantar suspeitas, roubaram em torno de R$ 75 milhões (aproximadamente US$ 15 milhões).
Para o crime, o PCC contou com a parceria da facção Bala na Cara, a maior do Rio Grande do Sul, o que é comum em casos como esse. Após o registro do roubo, outros colocaram em alerta o Comando Tripartite, que reúne autoridades de segurança pública dos três países da tríplice fronteira.
“Esses roubos em estabelecimentos bancários seguem o mesmo modus operandi: veículos com armamento pesado e grupos extremamente armados para intimidar a população e a vigilância, levando terror às comunidades. Esses locais viram alvos fáceis dessas organizações”, explicou o delegado.
Roubos a bancos no Paraguai capitalizam o PCC
O dinheiro roubado retroalimenta o sistema ilegal. O Paraguai é uma das principais centrais logísticas da cocaína traficada pelo PCC para a Europa e a organização criminosa é considerada a maior fornecedora do entorpecente para alguns continentes.
Investigações da PF e de organismos internacionais apontam que a droga geralmente sai da Bolívia ou da Colômbia, passa pelo Paraguai e ingressa no Brasil por via área, em aviões de pequeno porte, ou terrestre, em transportes rodoviários.
Depois de atravessar estados como Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo, ganham o mundo de forma clandestina em navios que atracam em portos como Santos (SP) e Paranaguá (PR).
“O dinheiro levado nesses roubos serve para abastecer ações criminosas como compra de drogas, armas, e o sistema de corrupção. É uma forma da facção se capitalizar rapidamente”, avaliou.
Investimentos na cocaína e na maconha
Além da cocaína, o PCC também investe na produção de maconha no Paraguai, que serve como central logística de recebimento e distribuição do entorpecente para abastecer, prioritariamente, o mercado brasileiro.
Lincoln Gakiya, promotor do Ministério Público de São Paulo e uma das principais referências em investigação sobre o PCC, a facção chegou a comprar áreas para cultivo de entorpecentes em países da América do Sul. “Sabemos que o PCC comprou propriedades de produção de maconha no Paraguai e de produção de cocaína na Bolívia”, disse Gakiya.
Governo do Paraguai defende milhões no combate ao crime organizado
Em uma das manifestações sobre o enfrentamento ao crime organizado, o presidente do Paraguai, Santiago Peña, disse que, nos próximos anos, o governo investirá mais de US$ 300 milhões (cerca de R$ 1,5 bilhão) para combater a atividade criminosa.
Peña assumiu o cargo há menos de um ano e citou uma conversa com representantes do governo americano para tratar de “sua total disponibilidade para trabalhar nas áreas que são de interesse comum" entre os países, como o combate à corrupção, o narcotráfico e o fortalecimento institucional.
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