O que têm em comum uma padaria artesanal, uma loja de presentes e uma sorveteria? Todas estão localizadas em pequenos espaços comerciais, de frente pra rua em bairros conhecidamente residenciais da capital paranaense. Essas portinhas se multiplicaram e têm, além de uma operação mais enxuta, outras características semelhantes: suprem necessidades dos moradores da área e prestam um atendimento personalizado.
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“Acompanhei a transformação da antiga residência em um centro comercial e percebi que ali havia potencial. Logo pensei em uma loja de presentes e papelaria, já que há seis escolas no entorno e não contamos com esse tipo de comércio por aqui”, conta Claudia Muller, proprietária de um pequeno empreendimento em um dos locais mais valorizados de Curitiba, o Ahú. A empresária abriu o negócio em 2021, quando a pandemia de Covid-19 não estava controlada, e desde então viu o espaço celebrar o primeiro ano de vida.
“Esses empreendimentos conseguem suprir uma necessidade local, atendem o cliente de forma mais personalizada e facilitam o deslocamento. As pessoas pensam duas vezes antes de percorrer grandes distâncias para adquirir um produto”, explica Lucas Hahn, coordenador estadual de Mercado e Varejo do Sebrae-PR. Além de movimentar o comércio local, essas micro e pequenas empresas são responsáveis por números substanciais no PIB brasileiro.
De acordo com o último dado nacional divulgado pelo Sebrae, elas representam um total de 18,5 milhões de negócios espalhados pelo território nacional. O Paraná é o 4º estado com mais micro e pequenas empresas, somando 1,6 milhão. Elas também geram empregos: no balanço de 2022, esses negócios foram responsáveis por gerar 73% dos postos de trabalho no país. No Paraná, a representatividade é ainda mais expressiva e chega a 81,9%. Em números absolutos, isso significa que esses pequenos pequenos negócios geraram 96.795 vagas de um total de 118.149 no estado.
Nos pequenos negócios, pão artesanal e fidelidade do cliente
Não é incomum alguns sabores dos pães da pequena padaria artesanal, vizinha à loja da Claudia, esgotarem antes do fim do dia. “O cliente que vai comprar um pãozinho acaba levando um sorvete, um presentinho pra um evento e vice-versa; assim a gente vê nossa roda girar”, conta Aline Coltro, que se aventurou no ramo das franquias após perder o emprego com carteira assinada, há dois anos.
“Começamos com uma portinha que vende café, viabilizada pelo acerto do meu antigo trabalho. Tempos depois, começamos a buscar outros negócios e meu cunhado, que mora em Joinville, contou a história da marca de pães artesanais. Eles estavam em busca de um franqueado em Curitiba e eu amo pão”, diverte-se a empresária. “Deu certo e aqui estamos, com duas lojas abertas em modelos de centros comerciais semelhantes”, explica Aline, que tem uma unidade da panificadora no Ahú e outra no bairro Água Verde.
Já para a proprietária da sorveteria artesanal, Marina Nocera, há no bairro características que tornam os hábitos dos moradores facilitadores desse contato mais próximo com os comerciantes. "Eles fazem bastante coisas a pé: atividades físicas, passeiam com as crianças e os cachorros, a feirinha de rua às quintas-feiras movimenta muita gente também. Acredito que esse é o tipo de público que gosta de ter esses espaços para chamarem de seus; um lugar fácil de chegar e gostoso de permanecer que oferece uma variedade interessante de lojas e comércios" observa a empresária. Ela conta que primeiro abriu a fábrica de sorvetes e, depois que entendeu o produto, partiu para a venda em uma loja física, localizada em um dos espaços comerciais, vizinhos à padaria artesanal e à loja de presentes.
As pessoas que buscam comprar em pequenos negócios de bairro querem encontrar o que tem no grande varejista, como preço, qualidade, fluxo de atendimento inteligente e, claro, um bom relacionamento com quem atende. “Ter um mix de produtos que auxilie o cliente no que ele busca e presença em canais digitais também é fundamental para esses espaços, assim como as grandes empresas têm”, esclarece o coordenador de Varejo do Sebrae-PR.
A psicóloga Carolina Miranda é uma das clientes assíduas dos comércios da Rua Colombo. Ela já morou por ali mas, como tem uma clínica no bairro, segue frequentando as lojas. “Antes eu comprava boa parte dos produtos que são oferecidos ali pela internet, de outras marcas ou, quando ia no centro ou outro lugar que tinha. Ficou fácil e tenho uma relação de amizade com o pessoal”, declara.
Um futuro com jeito de passado
Essa proximidade com o cliente lembra muito uma rotina do passado, quando as cidades eram menores e as pessoas eram atendidas por alguém que as conhecia pelo nome. “Além dessa intimidade, os empresários conseguem trocar rapidamente os estoques e oferecer um produto personalizado para os clientes, coisa que, muitas vezes, os grandes não conseguem fazer com propriedade”, exemplifica Lucas Hahn.
E as mulheres, comerciantes no espaço que dá vida à essa reportagem, parecem ter entendido bem essa dinâmica. “Tenho clientes que passam para me dar boa tarde, entram na loja para ver as novidades ou para fazer um pedido específico: eu anoto tudo e busco satisfazer esse desejo. Nossa relação fica menos comercial, no sentido de entrou-pegou-pagou-saiu”, descreve Claudia, a empresária da loja de presentes.
Já Aline evidencia a proximidade aliada à facilidade de estacionar o carro e outras características encontradas nos comércios. “Temos um preço bem competitivo, até abaixo de alguns concorrentes, além da alta qualidade e a possibilidade dos clientes da marca fazerem pedidos pelo aplicativo próprio”, lista a empreendedora.
"Sentimos que os moradores nos adotaram como a sorveteria do bairro. Temos uma relação diferenciada com os clientes, conhecemos eles pelo nome, sabemos o que gostam. Eles têm mais abertura para pedir os sabores que querem e gostamos de ter essa relação de troca. É um feedback que ajuda muito o nosso negócio", finaliza a fabricante de gelato e empreendedora.
Apoio aos pequenos, privilegiar os comerciantes locais, girar a economia, ter acesso a produtos perto. As vantagens enumeradas pela psicóloga e cliente desse tipo de comércio são muitas. Carolina arremata: “temos outras opções de comércios pequenos no bairro, mas ali encontramos com facilidade produtos necessários para o dia a dia”.
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