Entre frases já célebres como “ser amigo dos amigos” e “sou um político municipalista”, o deputado estadual Alexandre Curi (PSD-PR) está de olho na estratégia eleitoral para 2026. A troca no comando estadual do Republicanos, dada como certa nos bastidores para os próximos dias, abre espaço para uma eventual troca de sigla por Curi, além de acomodar "os descontentes do PSD".
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Nos bastidores, Alexandre articula para ser um dos grandes players da eleição majoritária de 2026 no Paraná. De olho na candidatura para governador, ele não descartaria compor uma chapa como vice ou, ainda, sair candidato ao Senado. Neste último caso, um ponto crucial é uma costura com o atual governador, Ratinho Junior (PSD), que também pode estar de olho em uma cadeira na Casa - apesar das conversas recentes estarem testando o nome dele como opção da direita brasileira para a Presidência da República.
No cenário possível para o Executivo estadual, Alexandre enfrenta uma certa resistência do próprio Ratinho, que tem outros candidatos preferidos para a sua sucessão, como o atual secretário estadual da Saúde, Beto Preto (PSD). Fato é que, com a estratégia a curto prazo no Republicanos, o próprio Alexandre ganha musculatura, pois é um dos principais atores a definir esses rumos. E, segundo análise de quem acompanha de perto essa movimentação, se ele sentir dificuldades em trilhar o caminho no seu atual PSD, poderia migrar para o Republicanos.
Apesar de ser relativamente jovem – completou 44 anos no mês de abril - Alexandre Curi acumula uma caminhada longa. Primeiro foi eleito vereador em Curitiba, ainda nos anos 2000. Após uma breve passagem de dois anos pela Câmara da capital do estado, ganhou seu primeiro pleito como deputado estadual. Hoje, com a maturidade de quem transita nessa área, oficialmente, há quase 30 anos, sabe que o sobrenome famoso no meio ajudou mas, segundo ele, não foi o motivo que o manteve na política. Apesar disso, as eleições de 2026 podem exigir muito do nome nas articulações políticas que se avizinham.
“Talvez, nas duas primeiras eleições, as pessoas votassem em mim pensando no meu avô. Mas, depois, elas conseguiram entender que éramos pessoas diferentes, com formas distintas de fazer política”, pondera. O avô é Aníbal Khury, um dos mais emblemáticos políticos do Paraná, falecido em 1999, antes de ver o neto ganhar a primeira disputa eleitoral.
Com Aníbal, Alexandre diz ter aprendido a defender posicionamentos, por mais impopulares que pudessem parecer. “Ele me ensinou a importância de não voltar atrás em minhas decisões e como isso seria visto com bons olhos no futuro”, relembra.
Pelo resultado nas urnas, ele não precisa se preocupar com a popularidade: na última eleição, ultrapassou a significativa marca de 237 mil votos - o deputado estadual mais votado pelo Paraná. O segundo colocado na preferência do eleitor, Márcio Nunes (PSD), teve 126.006. Esse número fez de Alexandre Curi o sexto deputado mais bem votado do Brasil. Quando perguntado ao que ele atribui o resultado, é taxativo: o trabalho nos municípios, principalmente do interior e região metropolitana da capital.
“As cidades menores dependem muito do apoio do governo estadual e sempre procurei ajudar, mesmo que o prefeito não fosse da minha base eleitoral”, responde. Ao pesquisar a página do deputado no site da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), é possível encontrar nomes de 24 cidades diferentes com leis aprovadas, entre elas Ivaiporã, Icaraíma, Manoel Ribas, Tamboara, Francisco Alves e Rio Branco do Sul.
Além de ter trânsito entre os prefeitos do interior, Curi é conhecido pelo bom relacionamento com os colegas da casa de leis e do governo estadual. Ele acredita que isso se deve ao fato de ser uma pessoa ponderada. “Faço oposição de forma construtiva, não trato adversário como inimigo, procuro ser conciliador e resolutivo”, exemplifica.
Democracia, relações institucionais e futuro na política
No mesmo tom, Alexandre Curi respondeu sobre a condução do governo federal capitaneado pelo presidente Lula, em entrevista para a Gazeta do Povo em janeiro. "Fazer oposição não é ser contra tudo", disse ele, na ocasião mencionando como exemplo o processo do novo pedágio paranaense.
Sobre as relações institucionais que estiveram tão estremecidas nos últimos anos, ele destaca ser um defensor da democracia. "Há uma frase que costumamos usar aqui, nos bastidores da Assembleia, que define a situação: exagerou? Perdeu a razão. Houve uma resposta dura do STF [Superior Tribunal Federal], do governo federal, das instituições e da sociedade como um todo diante do que foi causado por uma pequena parcela da população [referindo-se aos protestos de 8 de janeiro]. Mas, por ambos os lados, não deve haver exageros. Aqui no Paraná sempre tivemos uma bela harmonia entre os poderes, sempre é importante sentar na mesa e conversar”, fala com o tom conciliador que lhe é imputado com frequência.
Quando a pergunta é sobre os próximos passos na política, também no fim de janeiro, Alexandre ponderou que a última votação expressiva será levada em consideração. “Nesse momento, nosso grupo está preocupado em cumprir os compromissos assumidos com a população. Mas é claro que os 237 mil votos fazem com que se pense em 2026. Temos quatro cargos importantes nessa disputa: governador, vice-governador e duas vagas no Senado. Isso vai ser discutido e se entendermos que meu nome pode estar presente, a decisão será dentro nosso grupo político”, pontua.
Vida pessoal e força política
Alexandre não romantiza quando o assunto é conciliar vida pessoal e as andanças pelo Paraná. “Já deixei de estar presente em apresentações de dia dos pais e até aniversários dos meus filhos. Muitas vezes coloquei a política em primeiro lugar”, diz. É com a companheira Paula Mussi Curi, que ele conta para que os gêmeos Isabela e Lucas e a caçula Julia entendam a rotina do pai. “Eles compreendem e sou muito grato a minha esposa que, muitas vezes, exerce a função de pai e mãe”, conta o deputado.
Assim como o avô, Alexandre Curi também tem uma força de articulação muito forte nos bastidores. Uma delas, no início do ano, foi durante a eleição do novo presidente da Câmara de Vereadores de Curitiba, Marcelo Fachinello. Embora o vereador afirme que não houve interferência externa, ele diz que pediu o aval de Curi, de quem foi coordenador de campanha na capital paranaense.
O nome de Curi também esteve no centro do noticiário político durante a série de reportagens Diários Secretos, produzida em 2010, pela Gazeta do Povo e pela RPC. Investigações apontaram que membros da mesa diretora, então presidida por Nelson Justus, faziam contratações irregulares com uso de dinheiro público na Assembleia Legislativa do Paraná entre os anos de 2007 e 2010. Em 2020, o Tribunal de Justiça do Paraná julgou a ação cível contra Justus e Curi improcedente.
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