A Covid-19 pegou muitos empresários de surpresa e aparentemente deixou muito deles desorientados. Uma pesquisa nacional do Sebrae* feita com micro e pequenos empresários no início de maio, já com um mês e meio de reflexos da pandemia na economia do país, mostra que metade não tomou qualquer atitude para melhorar o faturamento.
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"Nessa pesquisa com reflexos de maio, 50% das empresas entrevistadas não tomaram atitude, estão paradas no tempo. Elas não fizeram nenhuma ação de tentativa de melhorar o seu faturamento, estão em stand by completo e isso é ruim, tem que começar a se movimentar", diz o coordenador estadual de Varejo e Mercado do Sebrae-PR, Lucas Hahn.
No Paraná, o índice foi ainda maior, 55% permaneceram na inércia. Ou seja, menos da metade procurou ir atrás de novas formas de impulsionar o negócio.
No levantamento, o Sebrae listou 10 diferentes medidas que o empresário poderia ter tomado por causa da crise do coronavírus, eram elas: início de vendas online por site; início de vendas online por redes sociais; início de vendas online por telefone e aplicativos móveis; parcerias com empresas locais para entregas conjuntas e vendas em parcerias; gerenciamento das contas da empresa por aplicativos; funcionários trabalhando em regime de home office; realizar pagamento por propaganda na internet; participar de comunidades que são do interesse dos clientes; comprar insumos diretos dos produtores e não mais de revendedores e/ou representantes; e vender diretamente para o consumidor final.
Dentre essas medidas a que mais teve adesão, não só no Paraná, mas em todo o Brasil, foi começar a vender por meio de redes sociais (como Facebook, Instagram e WhatsApp), com 24% de respostas positivas no caso paranaense. Entre sites e aplicativos, as respostas foram de 5% e 6%, respectivamente. Apenas 5%, no entanto, pagaram por propagandas na internet.
Já 10% dos empresários paranaenses disseram que estão participando de comunidades de interesse dos clientes para aumentar a interação e realizar vendas. Questões como comprar diretamente do produtor, vender diretamente ao consumidor final e fazer parcerias para entregas ou vendas tiveram somente 2% de adeptos em cada.
Sobre o questionamento se a empresa conseguia funcionar em momentos de restrição da circulação de pessoas, 43,6% disseram que não, pois os negócios funcionam só presencialmente, 31,1% seguiram funcionando com a utilização de ferramentas digitais e 10,7% relataram que mantiveram a atividade, mas não tinham estrutura para usar tecnologias digitais. Outros 14,6% responderam que conseguiram funcionar mesmo com restrições, mas por outras razões.
Ainda sobre mudanças no funcionamento, 43,5% chegaram a interromper o funcionamento temporariamente (número muito próximo do que alegou só pode operar no presencial) e 2,2% decidiram pelo fechamento da empresa. O restante seguiu operando sem mudanças (9,5%) ou com (44,8%). Já o faturamento mensal teve queda para 90,2% dos entrevistados.
De o início para o fim de maio, no entanto, o cenário melhorou, como aponta o boletim conjuntural divulgado pelo governo do estado no início deste mês de junho. O comércio varejista, um dos setores mais afetados, contabilizou elevação de 11,2% na emissão de notas em relação a abril, apesar de ainda operar em um nível equivalente a 83,6% do patamar pré-pandemia.
Quase 99% das empresas no Paraná e no Brasil são MPEs (Micros e Pequenas Empresas) e juntas elas empregam 56% da força de trabalho. "São as que mais empregam e, para terem uma economia saudável, as MPEs têm que ser saudáveis. Quem se preparar agora vai ter uma retomada mais rápida", ressalta Hahn.
Como manter o negócio ativo e até impulsioná-lo
Para seguir operando e evitar complicações financeiras, existem 7 ações fundamentais na visão do Sebrae-PR, que inclusive está oferecendo consultoria online gratuita para qualquer empresário do estado.
Tudo começa com o planejamento financeiro, com redução de gastos. "É hora de repensar, negociar com fornecedores, o preço do aluguel, se tem alguma venda programada parcela esse valor para não ocorrer o cancelamento, é toda uma reestruturação na entrada e saída de dinheiro", explica Hahn.
O segundo ponto é a digitalização, considerada saída importante para ganhar mercado e faturamento. "O Sebrae já informava que a cada 10 MPE [Micro e Pequena Empresa] no país, seis delas iam desaparecer nos próximos quatros se não entrassem no formato digital e a pandemia só intensificou isso, então é obrigatório que o empresário pense no digital", diz Hahn.
Foi o caminho tomado pelos artesãos da tradicional Feira do Largo da Ordem, por exemplo, que agora estão reunidos em um site específico com a ajuda da prefeitura.
Outro ponto importante é verificar o que é possível fazer, que tipo de serviço ou produto adicional é possível oferecer, além de verificar a distribuição dos empregados já existentes. Um exemplo é tornar um vendedor presencial em um entregador para o serviço de delivery.
O coordenador de Varejo e Mercado do Sebrae citou ainda dois exemplos reais dos quais teve contato: o primeiro de uma pequena fábrica de roupas, que diante da falta de demanda passou a produzir máscaras para clínicas e hospitais; e o segundo de uma comerciante, que mudou as suas vendas para a lógica digital. "Os então vendedores físicos foram treinados e estão fazendo vendas pelo WhatsApp, Instagram, a chamada venda assistida. Tiram fotos de peças específicas para pessoas que estão interagindo, elas escolhem, as roupas são higienizadas e experimentam em casa. O pagamento é de forma online e as peças não desejadas são devolvidas para a loja que as higieniza novamente. A empresária me relatou que aumentou o faturamento do mês de maio em relação a maio de 2019, mas 90% foi pelo online mesmo com a loja aberta", conta Hahn.
O Sebrae ainda cita o delivery, a avaliação da MP 936 (redução de salários e jornadas), a procura por linhas de créditos específicas e a adoção de voucher de créditos e promoções (no modelo pague agora e consuma depois, com benefícios) como ações a serem consideradas.
*A pesquisa entrevistou 10.384 empresários de todos 26 Estados e DF, composta por 56,7% MEI (Microempresário individual), 38,1% ME (Microempresa) e 5,2% EPP (Empresa de Pequeno Porte). No Paraná a amostra teve 681 entrevistas, sendo 50,3% MEI, 45,4% ME e 4,4% EPP.
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