Uma pesquisa proposta pelo Instituto Carlos Chagas-Fiocruz Paraná conquistou uma das premiações mais cobiçadas na área dermatológica do mundo, na Vichy Exposome Grant 2022, no último sábado (10), em Milão, na Itália.
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Primeiro lugar na categoria Fundos de Pesquisa 2022 para América Latina África Oriente Médio, a pesquisa receberá 15 mil euros para desenvolver um método de avaliação mais certeiro do impacto das exposições da pele a determinados fatores externos e suas consequências. A verba irá representar um aporte adicional nas pesquisas e a premiação deve atrair mais investidores, visto que tem chancela de um concurso respeitado de uma marca mundial.
O projeto quer mudar o paradigma da análise do processo que leva ao fotoenvelhecimento da pele, observando o comportamento das proteínas, que embasará perfis criados por inteligência artificial.
O foco é medir com mais eficiência o exposoma, medida cumulativa de influências ambientais, nutricionais, comportamentais e processos endógenos (do próprio organismo) que levam a respostas que podem afetar as funções biológicas da pele e acelerar o envelhecimento. A radiação UV, o tabagismo e a poluição são os três principais fatores.
“O exposoma é responsável por mais de 80% do envelhecimento da pele, deixando o indivíduo em maior vulnerabilidade a doenças e problemas cutâneos”, diz um dos autores do projeto premiado, Paulo Costa Carvalho, pesquisador da Fiocruz e integrante do Laboratório de Proteômica Estrutural e Computacional do ICC-Fiocruz Paraná.
Paradigma atual não envolve efeitos in vivo
Hoje, o paradigma na forma de avaliar os impactos do exposoma na saúde da pele tem a limitação de envolver apenas estudos in vitro (cultura de célula) e ex vivo (biópsias). “Já a nossa metodologia será capaz de avaliar esses efeitos in vivo. Além disso, a maioria das pesquisas atuais na área foca em proteínas específicas, enquanto a técnica que usaremos [proteômica] nos permitirá uma análise global, a fim de compreender mais sobre processos biológicos e respostas fisiológicas”, explica o pesquisador.
“Sabe-se que a exposição excessiva à radiação solar impacta no processo do envelhecimento da pele e pode acarretar doenças cutâneas. As alterações moleculares da irradiação UVA e UVB ao nível da sinalização da via proteino-kinases ativadas por mitôgenos (MAPK) representam um caminho de sinalização conservada evolutiva, que pode ter se desenvolvido como estratégia de defesa molecular das células da pele humana para responder ao estresse induzido por radiação solar de uma maneira que vai além de mero efeito aditivo de seus únicos componentes, no caso UVA e UVB”, explica ele.
Carvalho explica que, em relação ao envelhecimento da pele, diferentes fatores historicamente têm sido estudados separadamente, o que faz com que as interações entre fatores distintos e as consequências biológicas resultantes ao corpo humano sejam mal compreendidos.
Exposoma tem infinitas variáveis
Compreender o exposoma significa ter em conta um número infinito de variáveis, que envolve ainda a diversidade biológica dos tipos de pele. “Cada indivíduo tem seu próprio perfil de exposoma, com exposições diferentes a fatores que o influenciam, que podem ou não desencadear as mesmas alterações cutâneas que em outro indivíduo”, diz Carvalho.
O resultado da pesquisa sobre o efeito sinérgico e cumulativo na pele dessas influências ajudará a apresentar uma solução personalizada para cada indivíduo, que poderá intensificar o potencial de cuidado da pele em cada etapa da vida de acordo com sua necessidade específica.
Segundo Paulo Costa Carvalho, após obter perfis de pele relacionados ao tipo de resposta a estressores ao longo da vida, criando uma rede neural artificial capaz de aprender com esses espectros, isso irá, em última análise, permitir a pontuação de um perfil de pele desconhecido de acordo com uma escala de saúde.
Depois disso, em um experimento real, serão obtidos os perfis de pele de 40 indivíduos com a mesma idade (em torno de 35 anos) que estão altamente expostos (ou não) à radiação solar, que se espera forneça uma pontuação mais alta para aqueles expostos diariamente à radiação.
Após a primeira aplicação, no estudo do fotoenvelhecimento da pele pela radiação UV, o mesmo sistema poderá imediatamente ser aplicado a outros estudos, como para compreender os efeitos causados pela poluição na pele. “Prevemos que nosso método deve ser de aplicabilidade imediata e ampla para analisar avaliações científicas relacionadas a exposições e saúde da pele, como os efeitos de exposição acelerada da poluição ou os benefícios dos tratamentos da pele na ciência clínica”, diz ele.
Segundo Carvalho, essas informações serão fundamentais para otimizar e desenvolver novas estratégias de cuidados e prevenção de danos na pele, como o Khronos, uma plataforma de ampla e rápida adoção que servirá como base para qualquer estudo relacionado ao exposoma.
Equipe multidisciplinar
O projeto Khronos conquistou a premiação, concedida desde 2016, com uma equipe multidisciplinar que envolve especialistas em computação, inteligência artificial, espectrometria de massas, e pele. Além de Carvalho e da doutoranda Amanda Camillo de Andrade, autores da pesquisa, participam ainda o doutorando Marlon dos Santos e os alunos de iniciação científica Ana Beatriz Lajas e Lucas Sales, todos membros do Laboratório de Proteômica Estrutural e Computacional da Fiocruz Paraná. O projeto, assim que iniciado, segundo a equipe, deve levar até um ano e meio para gerar o produto final.
A Vichy Laboratories é uma empresa de origem francesa, uma das maiores e mais importantes marcas do grupo L'Oréal, reconhecida por estar na vanguarda da ciência aplicada à saúde e beleza da pele.
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