A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, aprovou projeto de pesquisadores paranaenses que pretende testar a aplicação de células-tronco mesenquimais odontológicas no tratamento de pacientes graves da Covid-19. Testes em animais e resultados preliminares de pesquisas realizadas em outros países, indicam que as células-tronco poderiam ajudar a conter o processo inflamatório e a recuperação de células lesionadas pela doença, como as dos alvéolos pulmonares.
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A pesquisa é conduzida pelo Centro de Processamento Celular (CPC) da Curityba Biotech, empresa que funciona dentro da Universidade Positivo, e prevê a utilização de células retiradas de dentes extraídos, como os sisos, ou qualquer outro dente extraído por questão ortodôntica de doadores jovens, no tratamento de pacientes internados com quadro grave de síndrome pulmonar causada pelo coronavírus.
Aprovada no Comitê de Ética, a pesquisa inicia, agora, a fase de recrutamento de doadores, paralelamente ao processo protocolar de anuência junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Mas o início da aplicação da terapia celular nos pacientes está condicionado à captação dos recursos estimados em R$ 2 milhões.
A terapia com células-tronco é inédita no país, uma vez que, até 2019, ainda havia lacunas legais que impediam o registro das terapias celulares avançadas. “Hoje está permitido o uso compassivo, para uma situação grave, em que a literatura científica já indica a possibilidade de terapia celular e não há tratamento convencional eficiente e comprovado. E esse é o caso da Covid-19”, cita o pesquisador João Zielak, doutor em Processos Biotecnológicos, um dos envolvidos no projeto, citando que China, Estados Unidos e Coreia do Sul já têm estudos em andamento com aplicação das células em vítimas do novo coronavírus.
Zielak explica como as células-tronco podem atuar em pacientes graves da Covid-19. “Essas células são atraídas por sinais inflamatórios, e em resposta a estes sinais liberam substâncias muito potentes, capazes de reequilibrar o sistema imunológico ao mesmo tempo que ajudam no reparo dos tecidos doentes. Estas células também enviam sinais para que as células saudáveis, vizinhas às células atacadas pelo vírus, permaneçam vivas, estabilizando o quadro clínico, sem remover nenhuma droga do tratamento protocolar, oferecendo um remédio vivo complementar. Além de contribuir para a melhora do paciente, também pode ajudar a evitar sequelas, recuperando os alvéolos pulmonares, por exemplo”.
Diretora administrativa da Curityba Biotech, Moira Leão afirma que, por causa da pandemia, o projeto, que poderia levar até um ano para ser avaliado pela Conep, tramitou em menos de 30 dias. “Existe o rito da pesquisa. Quando se desenvolve algo em laboratório, faz-se teste em células e em animais; há uma série de normas a serem cumpridas para que isso se transforme em um tratamento de fato”, diz. Em seus mais de 12 anos de existência, a Curityba Biotech já realizou pesquisas com as células-tronco em animais para lesões músculo-esqueléticas, doenças ósseas e também para se conhecer melhor os efeitos da radioterapia sobre estas células, mas, pela primeira vez, submeteu um projeto para aplicação clínica. “Baseamos nosso projeto na nossa experiência de laboratório, na literatura internacional e vários protocolos pelo mundo, já aprovados, para a aplicação com metodologia semelhante. Uma das etapas fundamentais para que se possa fazer o teste em humanos e avaliar a segurança de um tratamento novo é a aprovação Ética. Isso costuma demorar, entre seis meses a um ano, mas, por causa da pandemia, os projetos que envolvem os estudos da Covid-19 ganharam prioridade na avaliação".
Custos e viabilidade
Moira admite que o custo da pesquisa com células-tronco ainda é elevado, mas o tratamento é viável. "O custo final de uma terapia celular por indivíduo deve se estabilizar próximo ao custo de tratamentos complexos, como de uma quimioterapia, por exemplo. Portanto, haverá casos com indicação específica, nos quais o custo-benefício das terapias celulares indicará se a modalidade terapêutica será adequada, visando a cura do indivíduo, além da diminuição das sequelas”, afirma Moira.
Como os principais editais de fomento à pesquisa relacionados ao coronavírus são dedicados a instituições sem fins lucrativos, e esta pesquisa com células-tronco de origem odontológica é conduzida por uma empresa privada, os pesquisadores procuram investidores ou parceiros para aplicar a terapia.
“A situação e a urgência da pandemia criaram uma situação que pode acelerar as discussões protocolares, e com isto, ao se obter um resultado satisfatório, esta pesquisa pode abrir um novo caminho para as Terapias Celulares Avançadas no Brasil, com aplicação clínica em diversas outras situações e patologias”, conclui.
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