Leitos de UTI do Hospital de Reabilitação Ana Carolina Moura Xavier, de Curitiba| Foto: Geraldo Bubniak/AEN
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As internações de pacientes graves de Covid-19 em leitos de UTI para adultos no Paraná ajudaram no aumento de incidência de bactérias resistentes a antibióticos no estado. Esta foi uma das conclusões de um estudo feito por médicos paranaenses e publicado no Journal of Hospital Infection, referência em artigos sobre epidemiologia e resistência antimicrobiana.

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Na prática, a pesquisa reforçou a importância da vacinação como forma de prevenção de casos graves da doença, que demandam por longos períodos de internação e ficam, assim, sujeitos às chamadas complicações da Covid-19.

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Em entrevista à Gazeta do Povo, a médica infectologista e pesquisadora da PUC-PR Viviane Maria de Carvalho Hessel Dias, uma das responsáveis pelo estudo, explicou que em geral os pacientes que ficam internados por longos períodos, e em especial aqueles que precisam dos chamados dispositivos invasivos – como cateteres e equipamentos de ventilação mecânica usados na intubação – correm mais risco de desenvolver infecções bacterianas.

Entre as condutas médicas adotadas nestes casos está a administração de antibióticos. E é aí que está outro fator agravante, que leva ao que a pesquisadora classificou como o “círculo vicioso da Covid-19”. “A gente tem certeza absoluta de que quanto maior o tempo de internação, quanto mais invasão o paciente precisar, mais risco ele tem de eventualmente sofrer uma infecção bacteriana que precise de antibiótico. E quanto mais a gente usa antimicrobianos e necessita deles, mais a gente favorece o aparecimento das bactérias multirresistentes. Isso acaba aumentando mais ainda o tempo de internação”, explicou a médica.

Dados

O estudo levou em conta os dados de 99 hospitais de todo o Paraná, que registraram pouco mais de 11,2 mil casos de infecção bacteriana associada ao uso de ventiladores mecânicos, cateteres e sondas. Ao todo, os pesquisadores analisaram os boletins médicos de 243.631 pacientes internados em leitos de UTI adulto entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020.

As informações disponíveis no Sistema Online de Notificação de Infecção Hospitalar, gerido pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), foram cruzadas com os bancos de dados de notificações de Covid-19 disponíveis no Ministério da Saúde. Deste cruzamento, o resultado encontrado pelos pesquisadores foi o aumento na incidência da bactéria Acinetobacter baumannii, resistente aos chamados antibióticos de amplo espectro.

Estudo deve servir de alerta, diz médica

Para a médica, o estudo deve servir como um alerta para os programas de controle de infecção hospitalar. “O ideal é que as pessoas não se automediquem, não utilizem antibióticos desnecessariamente. E o esforço nos ambientes hospitalares vai no mesmo sentido, que a gente procure usar [os antibióticos] de forma racional. As equipes de controle de infecção precisam sempre estar atentas para usar os antibióticos apenas quando são necessários e suspender tão logo quando não sejam mais. Assim a gente ajuda a reduzir a pressão de seleção de bactérias multirresistentes no ambiente hospitalar”, detalhou.

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Dias também identificou na pesquisa uma relação direta entre a falta de vacinação e o aumento no risco dos pacientes não imunizados de terem complicações graves da Covid-19. Segundo a médica, as pessoas vacinadas que chegam a ser internadas têm, em geral, desenvolvido casos não tão severos da doença, não estão precisando de ventilação mecânica e acabam ficando menos tempo no hospital. Um cenário diferente do encontrado pelos pesquisadores em 2020, período em que foi feito o levantamento.

“As pessoas que não estão vacinadas podem ter infecções mais graves, ficar mais tempo no hospital e por isso necessitar de mais dispositivos invasivos. Este é o cenário propício para complicações bacterianas. O quanto a gente puder reduzir este cenário, é melhor para todos. Já basta o risco da Covid-19, não precisa correr mais o risco de uma infecção bacteriana. Isso precisa ser esclarecido. É a condição de saúde que faz com que as medidas como invasões e tempo de internação favoreçam as infecções bacterianas. Isso é para qualquer situação de paciente internado. O ideal é que a população tenha consciência da importância da vacina, para que se eventualmente precisar de internação fique menos tempo nos ambientes hospitalares”, detalhou a pesquisadora.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]