Existem pelo menos três variantes do novo coronavírus em circulação no Paraná – uma delas desde outubro do ano passado. Este é um dos resultados preliminares da pesquisa realizada pela Rede de Estudos Genômicos do Paraná, coordenada pelo Instituto para a Pesquisa do Câncer (Ipec) de Guarapuava. O estudo completo deve ser publicado na próxima semana, e traz dados de amostras de 78 pacientes contaminados pela Covid-19 em Londrina e Curitiba.
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Além da variante comum do vírus, pelo menos outras duas mutações – uma identificada como a variante inglesa do coronavírus e outra detectada oficialmente no começo do ano no Rio de Janeiro – estão em circulação no estado. Esta última, identificada como P2 e com maior potencial de contágio, estava presente em uma amostra coletada ainda em outubro do ano passado. Outros seis casos de infecção pela mesma variante do coronavírus foram descobertos em janeiro.
Para o coordenador da pesquisa, o médico e professor David Livingstone Alves Figueiredo, é provável que haja muitas outras variações do vírus circulando no estado, mas só um estudo mais detalhado poderia confirmar essa hipótese. “Por enquanto sequenciamos 78 casos. No início do projeto iríamos trabalhar com 150 amostras, mas conseguimos ampliar para 300. É um avanço, mas ainda é pouco. A Inglaterra consegue fazer esse trabalho em 5% dos casos. O Brasil não faz o sequenciamento dos vírus. O estado que mais fez até agora foi São Paulo, que sequenciou 800 amostras. Nossa estrutura permite que façamos mil sequenciamentos por mês”, explicou.
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Mutações em vírus não só são comuns como também esperadas, como detalhou o pesquisador e geneticista molecular Wilson Araújo Silva Junior. “Isso acontece com o vírus da gripe por exemplo, e é por isso que todos os anos as pessoas têm que tomar uma nova dose da vacina contra a gripe. As cepas do vírus mudam, e é preciso atualizar as vacinas também. Tanto com a gripe quanto com o coronavírus, as vacinas freiam a replicação do vírus. Quando se bloqueia a replicação do vírus, diminui a chance de mutações, e por consequência diminui a chance de aparecer variantes mais infecciosas ou que levem a casos mais graves da doença”, disse.
Locais onde houve um grande número de infecções simultâneas pelo novo coronavírus, explicou Silva Junior, se tornaram pontos propícios para o surgimento de novas cepas, mais contagiosas. Para ele, foi o caso de Manaus, da África do Sul e da Inglaterra. Outro local onde possivelmente surgirão novas variantes do vírus, aponta o pesquisador, é Portugal. “Eles podem estar passando por esse momento de estar com uma taxa grande de infeção por essas cepas mutantes que entraram no país, e com isso pode ser que surja uma nova variante. E isso vai acontecer, daqui a um mês vamos ver novos países identificando novas cepas, novas variantes”, avaliou.
Decodificar as informações genéticas do coronavírus é apenas uma das partes do trabalho. Em um segundo momento, os pesquisadores também vão levantar mais detalhes sobre os pacientes infectados, e se existem outros fatores, como marcadores genéticos, que favoreçam o aparecimento de casos mais graves da Covid 19. Com esse detalhamento será possível, segundo o coordenador da pesquisa, estreitar os critérios que definem o público de risco e melhorar o combate à doença. “Se conseguir identificar alguns marcadores genéticos que sejam fatores de risco para casos mais graves, isso torna o tratamento muito mais assertivo do que só classificar por idade, peso e comorbidades. Assim como identificar se há marcadores genéticos que significam uma maior proteção por parte do próprio organismo. Isso nos dá possibilidade de encontrar alvos terapêuticos a médio prazo. Tem mutações que tornam o vírus menos agressivo, mas mais contagioso. Outras tornam o vírus mais grave, ou mesmo resistente a terapias, como a vacina. O coronavírus tem uma taxa de mutação muito alta, e sem conhecer essas variações, essas mutações nas cepas, nós estamos navegando no escuro,” disse Figueiredo.
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