Pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) desenvolveram um teste para detectar a presença de anticorpos ao novo coronavírus que se mostrou mais rápido e eficaz do que a tecnologia mais sofisticada disponível atualmente. O estudo foi descrito em artigo na plataforma MedRxiv, que reúne material científico relacionado à pandemia. Para dar continuidade à pesquisa e produzir o novo teste em larga escala, os pesquisadores agora buscam uma parceria com um laboratório já certificado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
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O teste desenvolvido pelo Laboratório de Microbiologia Molecular da UFPR, Setor Litoral, foi adaptado do método Elisa tradicional, um teste imunoenzimático que permite a detecção de anticorpos específicos e que é tido como padrão-ouro. Em vez de ser realizado em uma placa de plástico, ele acontece em nanopartículas magnéticas revestidas com antígenos virais. Com isso, há a redução no tempo de reação, agilizando os resultados: enquanto o Elisa tradicional leva cerca de três horas para apresentar o resultado, o método desenvolvido no Paraná precisa de apenas 12 minutos.
Segundo o pesquisador responsável pelo estudo, Luciano Huergo, doutor em bioquímica, o estágio de validação em laboratório foi muito favorável, com verificação de 50 amostras de casos positivos, confirmados à época pelo exame molecular RT-PCR, além de outras 200 amostras negativas, usadas como controle. A nova tecnologia confirmou a presença de anticorpos nos fragmentos que deram positivo anteriormente, e não reagiram para aqueles negativos. Para aprimorar o trabalho, pesquisadores colaboradores na Alemanha estão aplicando o teste em amostras positivas para outros tipos de coronavírus. “Nesse conjunto que testamos de 200 pessoas, elas possivelmente já se infectaram por outros tipos de vírus, mas não houve falso positivo. Mas a validação que está sendo feita é importante para uso do teste”, explicou.
Além disso, a tecnologia da UFPR fornece o quantitativo de anticorpos ao coronavírus. “Os testes rápidos que existem mostram apenas se o resultado é positivo ou não. Mas, considerando a chance de reinfecção [como ocorrida em um caso documentado em Hong Kong], saber o nível de anticorpos é muito importante, para saber se a pessoa está protegida ou não”, disse Huego.
Outra vantagem do teste é o baixo custo de produção: os insumos para produção unitária foram estimados em torno de R$ 5,00, o que vai baratear o preço final para a aquisição. Os resultados positivos e negativos podem ser confirmados por inspeção visual, sem a necessidade de instrumentação, mas um leitor de microplaca providencia maior precisão. O teste contou com o auxílio do Hospital Erasto Gaertner e de vários departamentos do Hospital de Clínicas da UFPR, mas foi todo desenvolvido em Matinhos, no Litoral do Paraná. A falta de estrutura mais sofisticada foi contornada com improvisação, e isso pode ter contribuído com o resultado final.
“Como a gente não tinha muito equipamento e nem estrutura física, a gente se virou com o que tinha. Depois, o projeto foi ganhando escala e ganhamos aporte de recursos de 40 mil euros para compra de equipamentos da Fundação Humboldt, da Alemanha. O aporte de recursos da UFPR também tem ajudado bastante na implantação”, relatou Huergo. Também houve apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Fundação Araucária.
Patente já foi depositada
O registro de patente da tecnologia já foi depositado e está disponível para parcerias de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) e para transferência de tecnologia via Agência de Inovação UFPR. “A produção para uso diagnóstico precisa da aprovação da Anvisa, a qual requer fabricação em laboratório certificado. A universidade não tem essa estrutura, por isso precisa de uma parceria”, informou Huego. Segundo ele, se a empresa já estiver certificada, o processo para produção e comercialização do novo teste será rápido.
Além de Huego, assinam o artigo científico os pesquisadores Marcelo S. Conzentino, Edileusa Gerhardt, Adrian R.S. Santos, Fabio de Oliveira Pedrosa, Emanuel M. Souza, Meri Bordignon Nogueira, Karl Forchhammer, Fabiane G.M. Rego, Sonia M. Raboni e Rodrigo A. Reis.
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