Curitiba vai entrar no mapa da alta tecnologia de pesquisa e produção de vacinas e medicamentos. Até o fim de 2022, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) pretende instalar duas novas plantas no Instituto Carlos Chagas (ICC), o complexo do órgão vinculado ao Ministério da Saúde no bairro CIC.
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Ao custo de R$ 100 milhões, os novos laboratórios serão os primeiros do Brasil a produzir imunizantes e remédios a partir da biotecnologia. O que vai transformar a capital paranaense em um hub da Organização Mundial de Saúde (OMS) na produção de fármacos para enfermidades de terapia avançada, como câncer e doenças autoimunes.
As novas plantas terão parceria com o governo do estado, que fornecerá materiais para a produção a partir do Instituto Tecnológico do Paraná (Tecpar) e do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBPMP). A parceria já fez com que a Fiocruz em Curitiba se tornasse o maior produtor nacional de exames de Covid-19, com produção de 10 milhões de testes RT-PCR e 37,5 milhões de testes de antígeno.
Em uma das plantas, a Fiocruz vai produzir vacinas de RNA mensageiro (mRNA), que ganhou força na pandemia de Covid-19. Nesse tipo de vacina, é inoculado no organismo parte do código genético do vírus causador da doença. O código carrega instruções para que as células produzam proteínas que defendam o organismo do ataque de vírus, os anticorpos.
Essa planta também vai produzir insumos para a fabricação de vacinas. O que, segundo o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, o biólogo Marco Krieger, a pandemia mostrou ser essencial, já que a entrega de alguns lotes de vacinas atrasaram no Brasil justamente à espera da importação do material para serem envasadas. "Produzir os próprios insumos acelera a pesquisa e a capacidade de produção porque descarta a importação. Há insumos que levamos seis meses para importar, sendo que podem ficar acessíveis no prazo de 10 a 15 dias se nós mesmos produzirmos", compara.
O impacto, aponta Krieger, também é nos custos. Ter a própria produção de insumos deve baratear entre 35% a 40% o valor da produção de vacinas. "É um investimento na cadeia produtiva que impacta também na pesquisa, com a possibilidade de desenvolvimento ou mesmo atualização mais rápida do imunizante sem que o pesquisador tenha que esperar um longo tempo pelo insumo. É a questão estratégica de dominar a tecnologia e disponibilizá-la à população mais rapidamente", enfatiza o vice da Fiocruz.
Entre os imunizantes que poderão ser estudados no ICC em Curitiba, aponta Krieger, estão as do HIV, hepatite C, da dengue (que atualmente tem vacina apenas para quem já teve a doença). A nova estrutura também vai permitir estudos para produção de vacinas combinadas, em que a mesma dose pode proteger de mais de uma enfermidade, como Covid-19 e gripe, por exemplo. "Estamos nos preparando para essa revolução que está acontecendo, já que essas tecnologias têm um impacto muito grande na saúde pública", reforça Krieger.
Medicamentos
A outra planta, por sua vez vai desenvolver e produzir novos medicamentos para câncer, doenças autoimunes, transplantes, além de doenças raras. Segundo o vice-presidente da Fiocruz, esses remédios representam apenas 15% do volume de compras de fármacos de atenção especializada do Ministério da Saúde. Porém, pela alta complexidade dessas doenças, esse pequeno montante representa 65% dos gastos do departamento da pasta.
"Essa nova planta em Curitiba será para dar escala à uma produção que não existe no Brasil. Esses são os remédios mais onerosos por terem alto valor agregado e rotas complexas", explica Krieger.
Só os equipamentos para a produção desses medicamentos representam metade do valor total que a Fiocruz vai investir nas duas plantas: R$ 50 milhões.
Mão de obra qualificada
As duas novas plantas da Fiocruz também trarão para Curitiba mão de obra altamente qualificada. São pesquisadores que vão atuar na pesquisa e na linha de produção das vacinas e dos novos medicamentos. A estimativa é de que cerca de 100 pesquisadores se juntem ao quadro atual do Instituto Carlos Chagas na CIC, que varia em torno de 500 colaboradores.
Essa chegada de novas tecnologias e profissionais qualificados fizeram com que a prefeitura de Curitiba também apoiasse a instalação dos novos laboratórios da Fiocruz, dentro do projeto Vale do Pinhão. "A proposta alia-se aos projetos da prefeitura para tornar a cidade mais inteligente. A biotecnologia é um dos setores contemplados pelo TEcnoparque, programa municipal lançado em 2018 para atrair empresas de base tecnológica à cidade, com incentivo fiscal e integração ao Vale do Pinhão", informa a prefeitura em nota.
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