Depois de atravessar a maior estiagem em nove décadas, tornou-se preocupação geral evitar prejuízos ao recurso hídrico disponível, incluindo o subterrâneo, que forma os aquíferos que abastecem o Paraná. Essa inquietação - que por consequência inclui o abastecimento de água - esteve bastante presente no Simpósio Global sobre Soluções Sustentáveis de Água e Energia, promovido pela Itaipu Binacional e pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU (Undesa) até a última quarta-feira (15) em Foz do Iguaçu.
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"As águas dos aquíferos não são um recurso infinito, apesar de haver uma quantidade imensa de água disponível", diz Gustavo Athayde, professor de Geologia da Universidade Federal do Paraná, que coordena o projeto Hidrosfera, que investiga o Sistema Aquífero Serra Geral.
Segundo ele, os estudos sobre as águas subterrâneas são recentes se compararmos ao acompanhamento de chuvas e dos volumes dos rios, apesar de serem fundamentais na recomposição do volume fluvial. São as chuvas em áreas de recargas que formam as camadas mais novas e superficiais e também as mais antigas e profundas e que desembocam nos rios. "Em uma medição que fizemos, contamos entre 37 e 100 dias desde a queda da chuva até essa água alcançar o aquífero", cita ele.Poços clandestinos podem afetar abastecimento de água
Mesmo com um grande volume de água, acessá-lo de maneira desordenada pode causar problemas. "Durante a estiagem, houve uma corrida em busca de poços artesianos, o que pode ter efeitos deletérios", diz. De 33 poços da Bacia Hidrográfica Paraná 3, monitorados pelo projeto, apenas três deles não tiveram seus volumes reduzidos durante a seca. Há duas hipóteses para isso, segundo Athayde: pode ser tanto pela redução dos níveis das chuvas, quanto pelo aumento no número de poços.
"Foram 200% mais Anotações de Responsabilidade Técnica [documento exigido para fazer esse tipo de obra] recebidos pelo Crea naquele período, em relação a momentos anteriores, o que denota uma corrida pelos poços. Pesa como agravante de que se estima que tenham sido abertos três vezes mais poços se contabilizarmos também os clandestinos", diz ele. Entre os riscos de abrir poços sem liberação estão desde o rebaixamento do piso até poder causar o esgotamento de uma nascente de rio.
A pesquisa do Hidrosfera foca em uma área não monitorada por outros serviços nacionais, que acompanham aquíferos porosos, compostos de arenitos. O foco desse projeto, que é um convênio entre UFPR, Parque Tecnológico de Itaipu e Itaipu, é o aquífero fraturado da Serra Geral - composto de rochas vulcânicas. "Para ter uma ideia da importância desse aquífero, ele é responsável por 80% da água na região da BP3. No Paraná, os aquíferos são fonte exclusiva de abastecimento de metade dos 399 municípios paranaenses", diz ele.
O sempre citado aquífero Guarani, exemplifica Athayde, tem águas nessa área localizadas entre 600 m e 1.100 m de profundidade, ou seja, "tem água muito salobra e que serve apenas a turismo termal", diz ele.
Interferência da agropecuária no solo afeta recarga hídrica
Além da retirada de água por poços, outros fatores influenciam no volume que retorna aos rios, como as culturas agrícolas. Hudson Leonardo, engenheiro sênior na Itaipu Binacional, jogou luz sobre como a cultura agrícola afeta a porosidade do solo. "Cerca de 75% da produção de água de uma bacia hídrica vêm da recarga hídrica do solo, que sofre interferências do uso que é feito dele", diz Leonardo, sobre pesquisa relacionada também à Bacia Hidrográfica Paraná 3.
"No Paraná, essa espécie de 'monocultura' que intercala soja e milho safrinha age diretamente na redução da porosidade da terra, o que interfere na sazonalidade, ou não, da vazão de determinado rio, que perde em constância", afirma ele.
Diversificar culturas no mesmo espaço ou fazer mais rotações acaba ajudando a manter o solo com mais porosidade e influencia em uma vazão mais equilibrada das águas subterrâneas aos rios, explica. "A vazão de um rio é efeito de tudo o que se faz próximo a uma bacia hidrográfica, por este motivo são necessárias políticas públicas que pensem de maneira mais global e promovam uma melhoria em todo o ciclo que envolve a água", diz.
* O jornalista viajou a convite da Itaipu Binacional.
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