Era fim de maio, dia 29, quando oito técnicos de uma fabricante tcheca de caminhões produzidos para enfrentar terrenos acidentados, uma modalidade chamada off-road e na qual poucas montadoras no mundo atuam, percorreram a Avenida Visconde de Mauá, eixo que cruza Ponta Grossa, para visitar um terreno antes usado por uma fábrica de produtos plásticos. Acompanhados do vice-governador do estado, Darci Piana (PSD), e do prefeito da cidade, Marcelo Rangel (PSDB), os europeus saíram satisfeitos, segundo fontes que acompanharam a vistoria, com a estrutura e as condições de instalação. Voltaram para Koprivnice em busca de um carimbo da diretoria. Se ele for dado, o município dos Campos Gerais deverá receber uma indústria cujo investimento inicial é especulado em R$ 600 milhões e capaz de gerar mais de uma centena de empregos diretos e indiretos. Curiosamente, na tarde daquele mesmo dia, o prefeito pontagrossense esteve em Curitiba, onde anunciou com o empresário Junior Durski outra injeção de dinheiro na sua cidade, também na ordem R$ 600 milhões, na expansão da cozinha central da rede Madero.
Nos últimos anos, tem sido assim. Multinacionais e gigantes brasileiras – Ambev, Heineken, DAF, Cargill, Tetra Pak – têm conquistado um espaço em meio aos campos da cidade de pouco mais de 300 mil habitantes para instalar seu maquinário pesado. Se levam progresso, postos de trabalho e dinheiro, por outro lado tornam incerta a sustentabilidade de uma cidade de 195 anos, que passou por poucas grandes obras estruturais e cujos problemas vêm dando as caras. Leia aqui quais são os desafios na infraestrutura e em outras áreas.
Momento de graça
O quase acordo com a Tatra e o anúncio do Madero são apenas mais dois degraus de uma escada que parece levar a cidade apenas para cima. “O município de Ponta Grossa e o estado do Paraná vêm apresentando resultados muito positivos. Tanto que em 2013, pela primeira vez, o estado ultrapassou o Rio Grande do Sul em termos de Produto Interno Bruto (PIB). Viramos a quarta economia do país e, embora depois tenhamos sido ultrapassados novamente, a tendência é de que o Paraná, no longo prazo, consolide esta quarta posição. Esse ranqueamento comprova o dinamismo econômico do estado, onde se verifica uma grande contribuição da indústria. E, com certeza, a região de Ponta Grossa apresenta os números mais expressivos”, contextualiza Julio Suzuki Júnior, economista do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).
Segundo a entidade, em termos industriais, Ponta Grossa está atrás de Curitiba e região, mas ultrapassou o PIB de cidades mais populosas, como Londrina e Maringá – a cidade gerou um valor adicionado bruto industrial, que é quanto cada setor gerou na elaboração do PIB total, na ordem de quase R$ 4 bilhões em 2016, último ano disponibilizado pelo IBGE; em Londrina, como comparação, o valor ficou em R$ 3 bilhões.
O bom desempenho é explicado por uma questão quase matemática. “Devido às suas condições geográficas e logísticas é que a cidade apresenta condições favoráveis às atividades manufatureiras. Geograficamente por causa da sua proximidade com o maior centro dinâmico do estado, que é a região de Curitiba; e logística por ser um entroncamento rodoferroviário. Além da rede ferroviária que converge naquela região, temos um município que é lindeiro às principais rodovias do estado, a 277 e a 376. Isso explica em parte a pujança econômica, que ainda é auxiliada pela presença de mão de obra qualificada das universidades locais”, diz Suzuki.
É um dos pontos mais privilegiados do Brasil. Ponta Grossa está a 100 quilômetros de Curitiba, 200 km do Porto de Paranaguá e 500 km de Santos. É caminho de ligação entre Sul e Sudeste e elo que integra ao Mercosul. Um valor estratégico visto por multinacionais e grandes indústrias brasileiras e refletida nos indicadores econômicos da cidade.
“Não há desenvolvimento sem a evolução dos agregados econômicos. PIB e PIB per capita refletem uma melhoria das condições da população. É impossível atingir uma condição de bem estar da população com PIB e PIB per capita baixos. E isso o município vem entregando. Mas, mais efetivo do que estas variáveis, tão distantes da população, podemos citar o número de grandes empresas na região, que cresceu. Em 2017, o município tinha 11 empresas com mais de 500 funcionários. Em 2002 eram somente sete. Recortando só as indústrias, era uma [deste porte] em 2002. Em 2017 eram quatro, pelos menos”, avalia o economista do Ipardes.
No total, considerando todos os tamanhos, a cidade tem 818 indústrias, aponta o Ipardes, sendo 783 delas de transformação. Neste setor, são ofertados quase 18 mil postos de trabalho. Bom para o município e para o estado, que tem previsão de arrecadar em 2019 R$ 182 milhões somente em Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviço (ICMS), fundamental para políticas públicas do governo do Paraná. É um dos maiores índices do estado, atrás apenas de Curitiba e região, Londrina, e com expectativa de ultrapassar Foz do Iguaçu – o que explica em parte o olhar atencioso para a região.
Eleição sem Lula ou Bolsonaro deve fortalecer partidos do Centrão em 2026
Saiba quais são as cinco crises internacionais que Lula pode causar na presidência do Brics
Elon Musk está criando uma cidade própria para abrigar seus funcionários no Texas
CEO da moda acusado de tráfico sexual expõe a decadência da elite americana
Segurança pública: estados firmaram quase R$ 1 bi em contratos sem licitação
Franquia paranaense planeja faturar R$ 777 milhões em 2024
De café a salão de beleza, Curitiba se torna celeiro de franquias no Brasil
Eduardo Requião é alvo de operação por suspeita de fraudes em contratos da Portos do Paraná
Deixe sua opinião