Um produto desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no noroeste do Paraná, tem potencial para revolucionar o setor dos fertilizantes. O item intensifica o aproveitamento do bagaço da cana-de-açúcar para aumentar a produção de etanol. Chamado de Max G2, o produto pode impactar o setor sucroalcooleiro.
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“Com ele, é possível dobrar a produtividade de um plantio de cana-de-açúcar”, estima o professor do Departamento de Bioquímica da UEM na área de Fisiologia Vegetal, Wanderley Dantas dos Santos. Os estudos se iniciaram há 15 anos, durante o curso de pós-doutorado do docente. O objetivo era encontrar uma alternativa viável e ecologicamente favorável ao petróleo.
O produto foi desenvolvido pelo projeto Biosolutions, no Centro de Ciências Biológicas da UEM. “O etanol de primeira geração é produzido a partir de um processo de moagem e fermentação da cana-de-açúcar, o que gera o bagaço (biomassa), que seria descartado como resíduo. O Max G2 transforma esse bagaço em matéria-prima para a produção de mais biocombustível, o chamado etanol de segunda geração, principal benefício dessa inovação”, explica o pesquisador. O etanol de segunda geração ainda tem um espaço tímido no mercado brasileiro, e no mundo, por não ser economicamente viável, condição que o produto da UEM pode mudar.
Na próxima semana, os pesquisadores têm uma reunião com representantes de uma gigante do setor de combustíveis, a Raizen, que investe em fontes renováveis. Lavouras de cana serão pulverizadas com o fertilizante e uma análise dos resultados poderá ser feita após em um ano e meio, quando o canavial estará pronto para a colheita. “O produto ainda não está disponível para comercialização, mas está patenteado. Pedimos liberação ao Ministério da Agricultura e a venda poderá ocorrer em um ou dois anos, acreditamos”, projeta o professor.
O que é o Max G2?
O Max G2 se baseia na interferência de um tipo de processo natural que consiste na maneira como as plantas usam moléculas para invadir o sistema fisiológico de outras espécies de plantas e induzir modificações que proporcionem benefícios. Na pesquisa, ela é chamada de alelopática.
O professor esclarece que a técnica é popularmente conhecida como engenharia fisiológica, porque é baseada em conhecimentos da Fisiologia e Ecofisiologia Vegetal. “Ao utilizar moléculas ricas em informação em um vegetal é como conversar na linguagem das plantas, por meio da química. Elas passam a agir de uma forma diferente devido às instruções que estamos inserindo, como se estivéssemos hackeando o sistema fisiológico delas”, conta o docente, que também atua no Laboratório de Bioquímica de Plantas (Bioplan).
A ideia de transformar o resultado da pesquisa em produto surgiu no ano passado, durante o doutorado, no Programa de Biologia Celular e Molecular do biotecnólogo Wagner Mansano Cavalini. O mestre em Ciências Biológicas percebeu uma oportunidade de negócio. “A equipe Biosolutions desenvolveu, a partir de pesquisas científicas, uma tecnologia inovadora e promissora para o mercado. Essa tecnologia vai melhorar o processo da utilização do bagaço da cana-de-açúcar na produção do etanol”, explica o líder do projeto.
Esse fertilizante é aplicado nas folhas das plantas, absorvido e transportado por todo o vegetal. O produto funciona como um maximizador de carboidratos (açúcares) e é usado na cana-de-açúcar ainda jovem, por meio da pulverização. “O resultado do experimento é uma planta com mais carboidratos, principal nutriente para a produção do biocombustível etanol”, destaca ele.
Os biocombustíveis provêm de fontes renováveis e representam solução sustentável, em relação aos combustíveis fósseis, derivados do petróleo. O etanol equivale ao uso eficiente dos recursos naturais, em especial o etanol de segunda geração, pois aproveita o material que seria descartado, além de ter potencial para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
Etanol no Brasil
O Brasil é o segundo maior produtor de etanol no mundo, de acordo com dados da Renewable Fuels Association (RFA, sigla em inglês para Associação de Combustíveis Renováveis), dos Estados Unidos. O Max G2 tem alto potencial de mercado, pois reduz o impacto da cultura produtiva da cana-de-açúcar no uso do solo e da água, e contribui para uma produção agroenergética sustentável. Na UEM, outros estudos são conduzidos para avaliar a eficácia da tecnologia na produção agropecuária.
Integram o grupo de pequisadores do Max G2 o estudante de doutorado Diego Eduardo Romero Gonzaga, do Programa de Pós-Graduação em Agronomia, no Centro de Ciências Agrárias da UEM; e os alunos de graduação Gabriel Maister Cavalini (curso de Biologia), Ana Raquel Papa Anunciação e Rhuan Ribeiro dos Reis (curso de Bioquímica), ambos no Centro de Ciências Biológicas da UEM.
“Para os próximos meses, o objetivo é estruturar uma startup para inserir o produto na indústria e contribuir com uma produção mais sustentável de biocombustível”, sinaliza Wagner Cavalini.
O projeto Biosolutions foi contemplado na edição de 2022 do Academic Working Capital da TIM, um programa de educação empreendedora para universitários; e no Catalisa ICT, um programa de fomento a startups do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Paraná (Sebrae-PR). O projeto também ficou em segundo lugar na premiação do Startup Garage 2022, outro programa do Sebrae-PR, voltado ao fomento da cultura empreendedora nas universidades. A premiação alcançou 52 instituições de ensino superior em 11 cidades.
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