No mais recente relatório semianual relacionado à produção de aves no Brasil, o Serviço de Agricultura Estrangeira do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – o equivalente norte-americano do Ministério da Agricultura – confirmou que, entre os cinco maiores produtores mundiais de proteína de aves, o Brasil é o único a não ter registrado casos de influenza aviária. Por isso, reforça o governo dos EUA, o país é visto como um “fornecedor confiável, capaz de colaborar na segurança alimentar do mundo”.
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Porém, mesmo com o tom de otimismo, o caráter geral do documento, de fevereiro de 2023, é de alerta contra a doença. O nível de preocupação do governo dos Estados Unidos se reflete nos dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde Animal, que no último dia 20 confirmou que, na América do Sul, apenas Brasil, Paraguai, Guiana, Suriname e Guiana Francesa estão sem registro da influenza aviária.
O Paraná, responsável por um terço da produção nacional de proteína animal, está trabalhando em um cenário não de “se” a influenza aviária vai chegar até o país, mas sim “quando” a doença desembarcará em território nacional. “Temos que ser otimistas, sim, mas sabemos que com casos em praticamente todos os nossos países vizinhos, é uma questão de tempo para a doença ser registrada por aqui. Precisamos estar preparados para quando isso acontecer, para que o impacto sobre a nossa produção seja o menor possível”, avaliou Rafael Gonçalves Dias, Gerente de Saúde Animal da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), em entrevista à Gazeta do Povo.
Dias integrou a comitiva que, no início de abril, mobilizou representantes do setor de produção e abate de aves no Paraná com membros da Secretaria de Defesa Agropecuária, do Ministério da Agricultura e Pecuária, em Brasília. Na pauta da reunião estavam as possíveis ações de prevenção e enfrentamento à doença no Brasil, e em especial no estado.
Dias explicou que uma das primeiras estratégias solicitadas pela comitiva paranaense foi para que o governo federal providencie um plano de contingência para quando a doença for detectada no país. A preocupação principal é com o possível impacto econômico da doença nas exportações da carne de frango paranaense.
“Houve conversas com o secretário, com o ministro, para que possamos estar alinhados em relação ao enfrentamento da doença quando ela chegar. São várias ações de vigilância, de comunicação, de controle de fronteiras. É uma questão de atualizar o plano atual de contingência, que foi criado em 2013. Esse documento norteia as nossas ações, mas precisa passar por atualizações periódicas”, comentou.
Influenza aviária pode interromper estratégia de exportação de carne de aves
A principal preocupação do setor é com a entrada da influenza aviária nas criações de grande porte, aquelas que servem a propósitos industriais. Isso não significa, como explicou Dias, que os pequenos produtores não devam se manter alertas em relação à doença.
“Nós estamos nos preocupando, por óbvio, com as exportações. Não temos registro da doença por enquanto, então ainda há tempo de agir. Os produtores menores, de subsistência, acabam não afetando o volume de comercialização da carne de frango. Mesmo assim, todos os itens de biosseguridade dessas propriedades precisam ser mantidos. Tem a parte estrutural e também os procedimentos, como fazer a desinfecção dos veículos que entram na propriedade, não deixar que pessoas alheias ao processo tenham contato com as aves, usar somente roupas adequadas ao trabalho, promover o correto descarte de material. São medidas simples que, no final, podem fazer a diferença no controle da influenza aviária”, destacou.
Aves silvestres são principais vetores de transmissão
No final de fevereiro, uma portaria da Adapar proibiu por 90 dias a realização de eventos que tenham aves exóticas ou pássaros em geral no Paraná. Cerca de um mês depois, foi a vez do Ministério da Agricultura e Pecuária tomar medida semelhante. De acordo com a Embrapa Aves e Suínos, tais medidas têm se mostrado necessárias na prevenção do contágio das variantes H5 e H7, as mais presentes nos casos mundiais de infecção em galinhas e outras aves, domésticas e aquáticas.
O padrão normal da transmissão da influenza aviária tem sido registrado a partir de aves selvagens migratórias. Estas são, segundo a Embrapa, “hospedeiros naturais e reservatórios dos vírus da gripe aviária”. Uma única ave migratória pode transportar várias cepas diferentes, em cenários que fazem a infecção variar entre inofensiva e letal para estes animais. Porém, alerta a Embrapa, os suínos, quando criados em sistemas de produção mistos com as aves, podem ser hospedeiros intermediários da doença.
Os vírus mantêm potencial de transmissão da doença por longos períodos, especialmente em locais frios. Segundo a Embrapa, patos seguem transmitindo a influenza por cerca de 30 dias após a infecção inicial. Além das fezes, o contato com ovos quebrados, carcaças de animais mortos ou até mesmo a água por onde essas aves passaram pode transmitir a doença. “A disseminação de surtos muitas vezes é causada também por equipamentos, veículos e roupas contaminadas e trânsito de pessoas em áreas com a doença”, alertou o órgão.
“É muito difícil impedir o fluxo de aves silvestres. Nós estamos em plena rota de aves migratórias, não há como ter esse controle. Só que impedir que essa doença chegue até as unidades de produção industrial é uma responsabilidade tanto da Adapar quanto da iniciativa privada, os produtores e as indústrias. Ainda temos tempo de fazer essa prevenção. Identificamos falhas de procedimento e processo nos nossos vizinhos da América do Sul. Temos que aprender com esses erros, e evitar que isso venha a acontecer por aqui também”, reforçou Dias.
Discussão sobre Unidade Autônoma no Sul deve se estender
Outra questão evidenciada entre as reivindicações apresentadas em Brasília é a de criação de uma unidade autônoma de produção de proteína de aves formada pelos três estados do Sul do Brasil. Somados, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná representam 60% da produção nacional de proteína de aves.
De acordo com o derente de Saúde Animal da Adapar, tal medida não está prevista pela Organização Mundial de Saúde Animal. O governo federal, segundo ele, se mostrou interessado em pleitear a mudança. Mas questões políticas por trás da mudança podem fazer com que essa discussão leve mais tempo do que o esperado.
“O bloco sozinho é maior do que muitos países da Europa, tanto em área quanto em produção de aves. E isso faz com que esse tipo de mudança provoque inicialmente algum tipo de rejeição. O código da organização precisa ser mudado e isso vale para todos os países. Considerando que o Brasil é um país continental, a nossa visão desse processo de zonificação é bem diferente da de outros pequenos países da Europa. Para nós, seria muito bom se isso saísse do papel. Para eles, talvez não seja tão interessante. Por isso, é necessária toda essa discussão”, respondeu.
Questionado sobre a demanda apresentada, o Ministério da Agricultura e Pecuária respondeu em nota, enviada nesta sexta-feira (14), dizendo apenas que "o Departamento de Saúde Animal está avaliando as possibilidades de zonificação de áreas do Brasil em uma eventual introdução do vírus da influenza aviária no país, considerando as orientações da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), da qual o Brasil é signatário".
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