Sistema tradicional de produção da erva-mate no Paraná tem forte ligação com a floresta de araucária.| Foto: Divulgação / Fernando Bertani / CEDErva
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Uma equipe de representantes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) deu início ao processo que pode garantir reconhecimento internacional sobre o modo tradicional de produção de erva-mate no Paraná. Os representantes da FAO visitaram neste final de semana propriedades em Irati, São João do Triunfo e São Mateus do Sul, no Sul do estado, em busca de características que se enquadrem dentro do programa Sistemas Importantes do Patrimônio Agrícola Mundial (SIPAM), coordenado por este braço da ONU.

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À Gazeta do Povo, a representação da FAO no Brasil explicou que para se enquadrarem como um Sipam, as propriedades paranaenses precisam atender certos critérios. Os representantes procuram por modelos exemplares que consigam aliar a produção agrícola à manutenção de tradições culturais. A valorização social, dos saberes e técnicas populares de produção, assim como a adoção de práticas de preservação do meio ambiente, também contam pontos junto aos avaliadores.

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Resposta positiva pode vir em 2022

O resultado só deve sair no final do ano que vem, uma vez que a validação das propostas apresentadas junto à FAO passa por um escrutínio muito detalhado. Porém, na avaliação da presidente do Centro de Desenvolvimento e Educação dos Sistemas Tradicionais de Erva-Mate (CEDerva), Evelyn Nimmo, é possível esperar boas notícias.

Ela, mais do que acompanhar a missão da FAO, foi uma das idealizadoras do projeto que resultou nas visitas técnicas. De acordo com a presidente da CEDerva, os primeiros contatos com a organização ocorreram em meados de 2020. A pandemia, porém, acabou atrasando todo o processo. “A gente não podia nem fazer visitas pessoalmente nas comunidades nem pôde trazer a missão da FAO para cá para conhecê-los. Este foi o primeiro momento em que houve este contato”, explicou.

Produção tradicional integra a erva-mate com a floresta de araucárias

Um dos pontos de maior destaque, na visão de Evelyn, é a integração da produção da erva-mate com as florestas de araucária. Segundo a presidente, a forma como a planta é produzida nas propriedades visitadas atende os critérios que avaliam a agrobiodiversidade e os sistemas de conhecimento local e tradicional, dois dos itens que precisam ser atendidos para o reconhecimento internacional.

“Muitas pesquisas e muitos trabalhos já realizados mostraram que há essa ligação muito forte entre os sistemas tradicionais de produção de erva-mate e as florestas de araucárias. A erva-mate não é uma planta que gosta de ficar em pleno sol, e sim ela gosta da floresta. O sistema integra a floresta inteira, e isso é muito importante não só para as plantas, mas também para toda a região. Há muitos ganhos ambientais, como a conservação dos mananciais, a proteção da água, um ar mais limpo”, detalhou.

Evelyn se disse muito feliz com o primeiro passo dado rumo ao reconhecimento da FAO. De acordo com ela, todos os produtores de erva-mate visitados conseguiram mostrar aos representantes da FAO o sistema tradicional presente no Paraná. “Eles valorizam a biodiversidade, o cultivo na floresta, a preservação de todo o meio ambiente e todo o valor cultural por trás do sistema de produção. Tem toda essa preocupação com a cultura, com as tradições, não é só uma simples plantação. Acho que nós conseguimos mostrar o verdadeiro afeto que essas pessoas têm com todo esse sistema e, acima de tudo, com a erva-mate em si”, relatou.

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Reconhecimento da FAO pode trazer ganhos econômicos e culturais

O reconhecimento do sistema paranaense de produção de erva-mate em florestas de araucária junto à ONU pode trazer mais do que orgulho aos produtores do estado. Segundo a presidente do CEDerva, há dois ganhos principais com a certificação. Um deles é o econômico. “Nossa meta é que esses produtores tenham mais autonomia e mais valorização, maior retorno econômico quando forem comercializar seus produtos”, disse Evelyn. “A erva-mate produzida no modelo agroecológico é diferente daquela retirada de plantas que ficam a pleno sol. A qualidade é muito maior. Esse reconhecimento pode abrir as portas de mercados mais exigentes, mercados de nicho, para estes produtores tradicionais”, avaliou.

O segundo ponto é trazer uma mudança de mentalidade junto às gerações futuras sobre o valor dos conhecimentos e técnicas tradicionais de produção da erva-mate. Para Evelyn, o reconhecimento da FAO pode provocar uma completa inversão na forma como este modelo tradicional é percebido pelas pessoas.

“Passa-se a ver esses conhecimentos não mais como atrasados. Ao contrário, percebe-se que há uma forte ligação com a história, um forte vínculo com a floresta. As novas gerações vão ver nestes modelos de produção uma preocupação com o futuro, e assim eles deixam de ser antigos e passam a ser modernos. Deixa de ser algo que os avós faziam e passa a ser uma excelente opção para o futuro da produção”, concluiu.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]