O número de leitores no país vem diminuindo, de forma gradual e constante, principalmente entre as pessoas com maior escolaridade e poder aquisitivo. Os dados são da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada em parceria pelos institutos Itaú Cultural e Pró Livro. Os dados mais recentes do levantamento, feito a cada quatro anos, mostram que a porcentagem de pessoas que leram pelo menos um livro nos últimos três meses caiu de 56% para 52% entre os anos de 2015 e 2019, o que representa 4,6 milhões de leitores a menos.
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A pesquisa também mostrou que o hábito de leitura diminuiu de forma mais intensa entre as pessoas com ensino superior. Dentro dessa faixa da população, o percentual de leitores caiu de 82% para 68% no período. Quando a divisão é por renda das famílias, o percentual de leitores da classe A, na qual a renda familiar é maior do que 20 salários mínimos mensais, caiu de 76% para 67%. A falta de acesso a bibliotecas e o alto custo dos livros são dois dos fatores citados pelos entrevistados para justificar a falta de leitura.
Programa do Paraná incentiva formação de novos leitores a partir de livros digitais
Um programa iniciado neste ano pela Secretaria da Educação do Paraná tem potencial para driblar esses e outros fatores que atrapalham o hábito de leitura entre os estudantes, maior faixa de leitores entre os entrevistados pelo Retratos da Leitura no Brasil. No “Leia Paraná”, os estudantes da rede pública de ensino têm acesso a uma lista de livros digitais que podem ser acessados pelo computador, tablet ou celular.
A estudante Melissa Brandalize Fernandes tem 11 anos e estuda no 7º ano do Colégio Estadual Marli Queiróz Azevedo. Em entrevista à Gazeta do Povo, ela confirmou que o hábito de leitura em livros físicos, de papel, veio diminuindo. Com o acesso à plataforma digital, disse, a vontade de ler aos poucos vem aumentando. “Eu lia bem pouquinho, agora isso se tornou algo mais frequente”, explicou. A principal forma de acesso aos livros digitais, apontou a estudante, é pelo celular. “É mais prático, porque eu sempre levo o celular comigo. Assim, eu sempre vou estar com um livro por perto. E dá para acessar vários títulos, tudo dentro da mesma plataforma”, completou.
A mãe de Melissa, Denise Leoni Brandalize Fernandes, reforçou o aumento no interesse da filha pela leitura digital. “Ela sempre me pedia livros de suspense, eu comprava, mas ela não lia muito. Agora ela começou a se interessar mais com esse acesso digital, porque existem livros desse tipo dentro das opções disponíveis”, afirmou.
Livros foram escolhidos após pesquisas com estudantes
A escolha da lista de títulos disponíveis na plataforma foi baseada em pesquisas feitas junto aos estudantes. De acordo com o secretário de Educação do Paraná, Roni Miranda, os títulos que mais chamavam a atenção dos estudantes foram identificados, e as licenças de uso adquiridas para a inclusão das obras no sistema do Leia Paraná.
“A gente trouxe esses livros para dentro da sala de aula porque queremos criar nos estudantes o gosto pela leitura. E como se cria esse gosto? Com uma leitura prazerosa, não algo forçado. Na minha época de escola, os professores pediam a leitura de livros muito densos. São clássicos, muito importantes na formação do ser humano, mas às vezes nós não estávamos preparados para aquilo”, comentou, em entrevista à Gazeta do Povo.
Para avaliar o conhecimento adquirido no processo de leitura, os estudantes precisam responder a pequenos testes, de acordo com cada obra. “Durante a leitura, a cada dez páginas mais ou menos, aparece uma pergunta sobre o assunto do livro. Às vezes, quando o assunto fica fixo na matéria, a gente acaba fazendo uma redação sobre o livro que leu, que vai ser postada no portal. É um complemento e uma forma de provar que a gente leu o livro”, explicou Melissa.
Dados da Educação do Paraná mostram que, desde fevereiro, quando o Leia Paraná foi disponibilizado aos estudantes, foram feitos mais de 1,8 milhão de empréstimos dos livros digitais. São 3,1 milhões de horas de leitura e 60% dos estudantes da rede estadual usando a plataforma, o correspondente a cerca de 602 mil alunos.
A adesão poderia até ser maior, mas em alguns casos a quantidade de computadores disponíveis nas escolas não é suficiente para atender a todas as turmas de forma satisfatória. No Colégio Estadual Padre Arnaldo Jansen, em São José dos Pinhais, cidade na região metropolitana de Curitiba, havia, até a última semana de abril, apenas 22 computadores com acesso disponibilizado aos mais de 1,2 mil estudantes das turmas de ensino Fundamental e Médio.
Em entrevista à Gazeta do Povo, a diretora da unidade, professora Neusa Maria Mazetto Duarte Wons, comemorou a chegada de mais equipamentos para os laboratórios de informática. “Nós abrimos mais um laboratório com 35 máquinas, e eu acredito que isso vai contribuir muito para que os professores possam trabalhar com aqueles alunos que não têm acesso a celular nem computador em casa”, comentou.
"Mulheres incríveis"
Mesmo com essa limitação, o professor de Língua Portuguesa, Leitura e Redação Fernando Cesar Messias de Paula propôs uma atividade especial aos estudantes. Após a leitura do livro digital “Mulheres incríveis”, da autora norte-americana Kate Schatz, os alunos de duas turmas do 3º ano do Ensino Médio foram provocados a encontrarem, no entorno da comunidade, histórias inspiradoras de mulheres que eles também identificaram como extraordinárias.
“Eles fizeram minibiografias, resultado de uma conversa que tiveram com essas mulheres. Além dessas histórias inspiradoras, os estudantes coletaram relatos e conselhos para as novas gerações. São experiências de vida que acabam contribuindo de forma direta na formação social desses estudantes”, revelou o professor à reportagem.
As dificuldades iniciais, como a necessidade de rodízio entre os alunos para que todos pudessem acessar a plataforma durante as aulas, estão sendo superadas. “Tem muita gente que ainda está mostrando uma preferência pelo livro físico, que é perfeitamente normal. Mas essa geração é formada por pessoas que nasceram com acesso ao mundo digital. Muitos deles têm se adaptado à leitura no computador e no celular. E o mais importante, independente da plataforma, é que a gente continue formando esses novos leitores”, avaliou o professor do Paraná.
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