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trem pé-vermelho
Modelo cogitado para uma eventual linha do trem pé-vermelho pode ser o de veículo leve sobre trilhos (VLT).| Foto: Fernando Frazão/Arquivo Agência Brasil de Comunicação

A proposta de reativar o transporte de passageiros por trens no norte do Paraná ganhou novo fôlego com a retomada dos estudos de viabilidade do chamado "trem pé-vermelho". A iniciativa mais recente foi a contratação de um Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA) pelo governo federal para uma linha regular de transporte de passageiros entre as cidades de Paiçandu e Ibiporã, ligando Maringá e Londrina.

De acordo com informações da Secretaria Nacional de Transporte Ferroviário do Ministério dos Transportes, este estudo deve ser concluído em julho de 2025. Esta etapa é necessária para que se ateste a viabilidade de retorno da linha, que foi a principal indutora do desenvolvimento na região na época da colonização inglesa, no início do século XX.

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Será a partir deste estudo de viabilidade que se poderá dimensionar dados como a quantidade de passageiros a ser transportada, o valor da passagem e a extensão da linha. São 122 quilômetros e 13 municípios atendidos, caso a proposta avance: Paiçandu, Maringá, Sarandi, Marialva, Mandaguari, Jandaia do Sul, Cambira, Apucarana, Arapongas, Rolândia, Cambé, Londrina e Ibiporã.

A reportagem da Gazeta do Povo entrou em contato com a secretaria nacional pedindo mais informações sobre o projeto. Em resposta, a assessoria do órgão informou apenas que “uma vez que os estudos estão em curso, bem como as tratativas com o governo do estado do Paraná, é necessário aguardar a conclusão desta etapa para que o Ministério dos Transportes possa se pronunciar sobre definições e posteriores passos”.

Governo do Paraná teria indicado nova linha férrea para o trem pé-vermelho

Em meados de novembro, representantes da Secretaria Nacional de Transporte Ferroviário do Ministério dos Transportes e lideranças políticas participaram de uma reunião sobre o projeto. Ficou então definida uma nova reunião, entre o fim do mês passado e o início de dezembro, para que representantes do governo do Paraná participassem da discussão do projeto do trem entre Maringá e Londrina.

A reportagem da Gazeta do Povo apurou que neste primeiro encontro foram apresentadas informações sobre um projeto funcional do trem pé-vermelho, contratado pelo governo do Paraná e concluído em outubro. Nesta proposta, que não foi tornada pública, a sugestão para tornar viável a implantação da linha seria a instalação de uma nova malha ferroviária para abrigar o transporte de passageiros. Entre as justificativas está a incompatibilidade de horários dos trens e a diferente forma de manutenção das linhas utilizadas para o transporte de cargas.

Além de ser uma ligação de passageiros entre as principais cidades da região, a nova linha poderia integrar os aeroportos de Londrina e Maringá. O estudo ainda abarcaria uma ciclovia regional ao longo de mais de 100 quilômetros de trilhos.

A reportagem da Gazeta do Povo também entrou em contato com a Secretaria de Estado de Planejamento para comentar detalhes do estudo. Em nota, a pasta respondeu somente que estuda a viabilidade econômica do projeto, que tem como objetivo melhorar os deslocamentos entre Londrina e Maringá.

Projeto da nova linha de passageiros foi promessa em 2009

A ideia de reativar a linha férrea para transporte de passageiros no norte e noroeste do Paraná não é uma novidade. Em 2009, enquanto o governo federal discutia a ideia de criar trens-bala entre Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas, o então deputado estadual Luiz Eduardo Cheida foi ao plenário da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) se manifestar favoravelmente ao trem pé-vermelho.

Ele citou um estudo encomendado pelo BNDES à Universidade Federal do Rio de Janeiro segundo o qual o trecho entre Londrina e Maringá seria “um dos mais promissores” entre nove ferrovias consideradas viáveis. No mesmo ano, o trecho foi selecionado para o Programa de Resgate do Transporte Ferroviário de Passageiros, do Ministério dos Transportes. Um estudo de viabilidade foi conduzido pelo Laboratório de Transporte e Logística da Universidade Federal de Santa Catarina (Labtrans).

Como resultado foi sugerida a implementação de veículos leves sobre trilhos (VLT) a uma velocidade máxima de 80 km/h. As composições teriam opções de transporte de 48 até 208 passageiros sentados ou de 179 a 766 de capacidade total. Os valores das passagens não chegaram a ser definidos neste estudo, que identificou um público potencial de 36 mil passageiros/dia.

Por estar, na época, em uma fase considerada mais adiantada do que os outros projetos do programa federal, o trem pé-vermelho foi inscrito para receber verba do então Programa de Aceleração do Cres­­cimento (PAC) Mobilidade Médias Cidades. A expectativa é que poderia ser o primeiro trem regional a ser analisado pelo governo federal. A proposta não avançou e o trem pé-vermelho foi retirado da lista de financiamento do PAC.

Sem o PAC, projeto do trem pé-vermelho retornou ao governo do Paraná

No ano de 2015, o governo do Paraná abriu um Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI), instrumento que permite que a iniciativa privada elabore estudos técnicos para projetos de parcerias público-privadas (PPP). No ano seguinte, três empresas tiveram autorização do estado para atualizarem os estudos de viabilidade do trem pé-vermelho. A reportagem não conseguiu localizar a publicação do resultado deste PMI.

O procedimento foi autorizado pelo antigo Conselho Gestor de Concessões (CGC) do Paraná. O órgão, criado em 2015, foi substituído em 2019 pelo Programa de Parcerias do Paraná. O projeto do trem pé-vermelho aparece no site oficial do programa ainda em fase de estudos.

A movimentação mais recente é de 18 de maio de 2023, quando o projeto foi oficialmente incluído no programa. A fase atual do trem pé-vermelho é de “estudos preliminares/diagnóstico e modelo de parceria”, segundo o site do programa.

Paraná conta com duas linhas ferroviárias de passageiros

Hoje apenas duas linhas ferroviárias de passageiros estão em funcionamento no Paraná. Ambas são para passeios turísticos. Uma delas é a linha Curitiba-Morretes, operada pela empresa Serra Verde Express, que desce a Serra do Mar a partir da Rodoferroviária da capital e chega ao litoral do estado. A outra, que liga Morretes a Antonina, é operada pela Linha Caiçara.

Uma terceira linha férrea de passageiros no Paraná tem funcionamento autorizado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) desde 2008. Ela liga Ponta Grossa a Cascavel, passando por Guarapuava, com autorização concedida à Serra Verde Express. A Gazeta do Povo entrou em contato com a empresa para confirmar se a linha está em operação, e a Serra Verde Express confirmou que, no Paraná, opera apenas a linha entre a capital e o litoral.

Trem pé-vermelho foi tema de discursos de vários políticos do estado

O projeto do trem que liga Londrina e Maringá apareceu nos discursos de muitos políticos paranaenses. O PMI autorizado pelo antigo CGC foi determinado pela então governadora Cida Borghetti (PP). Ela havia assumido o governo interinamente durante uma viagem de Beto Richa (PSDB), titular do cargo à época, e ordenou a retomada dos estudos como sua primeira medida.

“Acima de tudo, estaremos criando oportunidades, aumentando a competitividade das regiões para atrair indústrias e também integrando faculdades e universidades. Essa integração entre as regiões metropolitanas de Maringá e Londrina vai incentivar a criação de uma grande metrópole linear no norte do Paraná”, disse ela, em entrevista ao jornal A Voz do Paraná.

Anos depois, em 2018, o então deputado estadual e candidato ao governo do Paraná Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) disse que o projeto do trem pé-vermelho “apresentava inviabilidade técnica-econômica”, e que por isso ficaria de fora de seu plano de governo. A declaração foi concedida em uma sabatina prévia às eleições daquele ano.

A Gazeta do Povo entrou em contato com o Palácio Iguaçu questionando se o entendimento do agora governador sobre o projeto mudou. Em resposta, o governo do Paraná enviou uma nota na qual confirma que há diálogo entre o estado e o governo federal sobre o projeto do trem.

"Além disso", segue a nota, "as rodovias que conectam as cidades [de Londrina e Maringá] também serão modernizadas com as novas concessões rodoviárias (lote 4), previstas para ir a leilão em 2025, ampliando a capacidade de escoamento da produção e de ligação segura e rápida para os cidadãos e turistas".

Prefeito eleito de Londrina classificou o projeto como "extraordinário"

Em entrevista à Gazeta do Povo, o prefeito eleito de Londrina, Tiago Amaral (PSD), classificou o projeto como "extraordinário" para a cidade e para a região. Para ele, o trem pé-vermelho "é realmente viável, fundamental e está conectado com aquilo que foi o grande planejamento feito pelos ingleses, na época ainda da colonização".

"Eu tenho batido nessa tecla de nós precisamos unir as grandes cidades da nossa região de Londrina. Porque Londrina não é só Londrina, é o grupo de cidades da Amepar, é Ibiporã, Cambé, Rolândia, Arapongas e Apucarana. São cidades que juntas somam 1,1 milhão de habitantes, um público em potencial para essa linha do trem pé-vermelho", disse.

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