Empresas que seguem os preceitos do capitalismo consciente podem ter um desempenho financeiro cerca de quatro vezes maior, se comparadas às empresas que ainda atuam de forma convencional. O dado se baseia em pesquisa da Humanizadas, spin off ligada ao Grupo de Gestão de Mudanças da Universidade de São Paulo, que acompanhou a performance acumulada das ações de empresas no período de dezembro de 1998 a dezembro de 2021. Os números foram apresentados na noite desta segunda-feira (22) no evento Curitiba + Consciente, realizado pelo Instituto Capitalismo Consciente.
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De acordo com a pesquisa, as empresas que têm propósitos e não visam apenas lucro, tiveram um desempenho financeiro 4,5 vezes superior em comparação àquelas que só miram a lucratividade. Houve um impacto também 1,4 vez superior em relação à reputação da marca no período.
O conceito de capitalismo consciente surgiu em 2007 nos Estados Unidos. Consiste em aliar o lucro a um propósito. Empresas que seguem essa linha têm entre seus objetivos não apenas o ganho financeiro, mas um impacto positivo no meio ambiente e na sociedade. São organizações que também atuam dentro de boas práticas de governança, seguindo um código de conduta, com transparência, ética, equidade e gestão de riscos. Ou seja, elas seguem as regras ESG (sigla em inglês para meio ambiente, pessoas e governança).
“Está provado cientificamente, com dados confiáveis, que empresas que têm propósitos que vão além dos lucros, ganham em reputação da marca, em negócios e resultados financeiros”, disse Simone Venancio, líder do Capitalismo Consciente em Curitiba, que coordenou o evento. “É totalmente possível atuar dentro do capitalismo consciente e ter lucro”, pontuou.
O advogado tributarista Monroe Olsen, conselheiro do Instituto Capitalismo Consciente Brasil, destacou as leis de incentivos fiscais como um caminho para as empresas atuarem em benefício da sociedade. “Muitas empresas não destinam seus impostos para fins culturais e esportivos por desconhecimento”, observou. Segundo ele, há uma subutilização desses recursos que poderiam beneficiar a comunidade com ingressos gratuitos em espetáculos culturais e eventos esportivos, por exemplo, e ao mesmo tempo gerando fidelização, engajamento e melhorando a reputação da marca das empresas.
Empresas paranaenses certificadas
A paranaense Herbarium, indústria farmacêutica líder no mercado nacional de fitoterápicos, foi a primeira indústria farmacêutica do Brasil a conquistar o Selo B, uma certificação, fornecida pelo Sistema B Brasil, que comprova que a empresa além de produzir, lucrar e movimentar a economia, oferece benefícios sociais e ambientais.
O gerente de negócios da Herbarium, Eduardo Castro, disse, no evento, que não foram necessárias grandes mudanças porque desde a sua fundação, em 1985, a Herbarium já tinha esse tipo de preocupação. A sede da indústria fica em Colombo, na região metropolitana de Curitiba, onde existe uma área de floresta nativa de um hectare totalmente intacta.
Além disso, a empresa faz todo o tratamento de resíduos e a água sai limpa para abastecer um lago de peixes. A empresa também decidiu trocar toda a frota de veículos dos vendedores para carros movidos a álcool, o que elevou o custo, mas permitiu a certificação. Além disso, a Herbarium tem um trabalho de logística reversa com o recolhimento medicamentos vencidos ou em desuso e embalagens.
Segundo Castro, a Herbarium não mede os lucros dessas mudanças, mas ele diz que certamente há um retorno importante também financeiro. “O selo abre portas para novos negócios e novos negócios trazem mais lucros”, afirmou.
A RAC Engenharia, de Curitiba, é a primeira empresa do setor no Sul do Brasil, com certificação B. O diretor presidente, engenheiro civil Ricardo Cansian, que participou do evento, destacou o desafio de levar o conceito ao canteiro de obras. “Nosso setor é formado por pessoas de baixa escolaridade, que não tiveram acesso a quase nada. Nós precisamos levar essas informações, esses propósitos até eles”, observou.
Cansian citou o exemplo recente do período de pandemia em que o setor da construção civil não parou por ser considerado essencial. “Construímos em 60 dias o maior hospital de combate à pandemia, de 10 mil metros quadrados, no Rio de Janeiro. Construímos a fábrica da AstraZeneca para a produção da vacina. Foi só o propósito de salvar pessoas que tornou isso possível”, enfatizou.
Requisito para acesso ao crédito
A gerente de planejamento e novos negócios do BRDE, Lisiane Astarita de Limas, destacou a importância dos preceitos do capitalismo consciente no acesso ao crédito. Segundo ela, empresas que atuam dentro desses valores têm mais chance de sucesso em seus negócios e menos risco de inadimplência. Por conta disso, o acesso ao crédito é facilitado.
A representante do BRDE explicou que o banco consegue oferecer linhas de crédito com maiores prazos e menores taxas de juros a projetos que seguem esses preceitos. Em média, um projeto de energia renovável, por exemplo, pode ter prazo de 10 a 20 anos para pagamento, ao passo que projetos de investimentos convencionais costumam ter prazo de 8 anos. Em relação ao juro, projetos sustentáveis têm taxas menores entre 1 e 2 pontos percentuais.
“Isso é possível porque captamos muitos recursos internacionais e a maioria dos agentes financeiros de outros países privilegiam esses tipos de empreendimentos”, disse. Segundo Lisiane, em alguns casos isso já é exigência para a liberação de um financiamento.
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