Se a proposta de reestruturação do Ensino Médio proposto pelo governo Lula entrar em vigor, o Ensino Técnico será inviabilizado no Paraná. A avaliação é do secretário estadual de Educação Roni Miranda e foi feita em uma entrevista exclusiva à Gazeta do Povo nesta segunda-feira (21). Miranda foi um dos secretários que assinaram um documento solicitando ao Ministério da Educação (MEC) uma revisão na proposta apresentada no início de agosto.
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De acordo com o secretário, o Ensino Médio no Paraná hoje conta com uma carga horária total de 3 mil horas. Deste total, detalhou Miranda, 1,8 mil horas são cumpridas com as disciplinas da Formação Geral Básica, aquelas da Base Comum Curricular, como Língua Portuguesa, Matemática, História e Geografia. As outras 1,2 mil horas são destinadas a atividades mais diversificadas.
“No Paraná nós temos nesta parte disciplinas como Projeto de Vida, Educação Financeira, além de três itinerários. Dois são da Base Comum, que são os itinerários de Ciências da Natureza e Matemática e Ciências Humanas e Linguagens. O terceiro é o nosso Ensino Técnico”, disse o secretário.
Proposta do Governo Federal reduz pela metade carga horária para Cursos Técnicos no Paraná
Pela proposta feita pelo MEC, a Formação Geral Básica saltaria para 2,4 mil horas, deixando apenas 600 horas para estas atividades adicionais ao currículo básico – entre elas, os cursos técnicos. A carga, alerta Miranda, é insuficiente para fornecer aos estudantes uma formação de qualidade.
“Nós temos um curso aqui de Desenvolvimento de Sistemas, onde estão matriculados 2,4 mil estudantes, e que tem carga horária de 1,2 mil horas. Outros exemplos são os cursos de Enfermagem, Jogos Digitais, todos com as mesmas 1,2 mil horas. Eu até poderia reduzir a carga para 800 caso o MEC recue na proposta, mas aí só poderia ofertar o curso de Auxiliar Administrativo. Essa mudança restringe demais as nossas possibilidades de oferta, e é o próprio catálogo de Ensino Técnico do MEC que diz que esses cursos precisam ter de 800 a 1,2 mil horas”, alertou Miranda.
Para secretário, Ensino Técnico também permite acesso ao Ensino Superior
Os números da Secretaria de Educação do Paraná mostram uma evolução na procura pelos cursos técnicos no Estado. Em 2019 eram 10,4 mil estudantes matriculados nestes cursos. Em 2023 o número subiu para 77 mil alunos e a previsão para o ano que vem, de acordo com Miranda, é saltar para 112 mil estudantes em cursos técnicos no Paraná.
A escolha por este formato, justificou o secretário, se baseia nas estatísticas da pasta sobre o acesso dos estudantes da rede pública do Paraná às instituições de Ensino Superior. À reportagem, Miranda revelou que apenas 20% destes estudantes conseguem entrar nas universidades, públicas ou particulares. Na prática, de cada 10 estudantes da rede pública do Paraná, 8 precisam seguir outros caminhos que não o dos cursos superiores.
A preferência desta grande maioria dos estudantes, apontou o secretário, é pelos cursos técnicos – mais especificamente 77% dos jovens consultados pela Seed. A tendência, garante Miranda, se reflete na pesquisa feita pelo próprio ministério e que embasa a proposta de mudança.
“O Ensino Técnico é uma viabilidade para que este jovem entre no mercado de trabalho. Além disso, dá a esse mesmo jovem condições de propulsão e ascendência inclusive para o Ensino Superior. A própria pesquisa que o MEC fez mostra que os estudantes querem mais ensino técnico profissionalizante. Então é algo que nós não conseguimos entender. O posicionamento do Paraná é ser contrário às mudanças propostas porque isso vai inviabilizar o nosso Ensino Técnico”, concluiu o secretário.
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