O ex-juiz Sergio Moro em entrevista à Gazeta do Povo.| Foto: Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo
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Logo que se viu impelido a retornar ao Paraná depois de ter sua mudança de domicílio eleitoral para São Paulo negada pelo TRE daquele estado, o ex-juiz e ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro Sergio Moro (União Brasil) foi imediatamente reconhecido como forte candidato a um cargo legislativo.

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Este cenário leva em conta tanto o alto potencial de votos de Moro, considerando a grande exposição do nome dele no tabuleiro político nacional, quanto a composição do quadro local, com mais espaço para disputa no campo legislativo do que no executivo.

Hoje a disputa para a vaga única de senador do Paraná está aberta. Pesquisa publicada nesta segunda (27) pela Real Time Big Data* mostra Moro 7 pontos à frente do até então principal postulante ao cargo, o atual senador Alvaro Dias (Podemos). Moro aparece com 30% das intenções de voto contra 23 pontos de seu ex-padrinho político. Os demais candidatos somam 17% das intenções de voto.

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Se para o Senado Moro surge de imediato como nome forte na disputa, para a corrida à Câmara Federal há ainda menos dúvidas sobre sua viabilidade eleitoral. Nas eleições proporcionais (de vereador, deputado estadual e deputado federal) todo partido precisa de um ou dois nomes “puxadores de votos” em sua lista de candidatos para construir uma boa bancada, devido ao quociente eleitoral.

A conta é mais ou menos a seguinte: para se eleger por conta própria, ou seja, sem precisar se beneficiar do quociente eleitoral, digamos que um candidato a deputado federal precise fazer 70 mil votos válidos (o número varia de eleição para eleição). Se um candidato recebe um número muito maior de votos do que essa linha de corte - peguemos como exemplo o deputado Sargento Fahur (PSD), o mais votado no Paraná nas eleições de 2018, que fez quase 315 mil votos - esse voto “excedente” acaba beneficiando os demais candidatos do mesmo partido, fazendo com que um postulante que recebeu menos votos do que os hipotéticos 70 mil estimados também seja eleito. Daí a tal proporcionalidade das eleições legislativas: o voto no candidato da eleição proporcional também é um voto no seu partido. Assim como o voto de legenda beneficia toda a lista de candidatos do mesmo partido. É o que define o tamanho das bancadas partidárias a cada legislatura.

Esta é uma das razões por que um nome como de Moro na lista de candidatos a deputado agradaria qualquer dirigente partidário. Ele tem potencial para não só se eleger, mas também eleger junto de si um bom número de outros correligionários.

Inicialmente improvável, Moro passa a ser considerado candidato a governador do Paraná

O cargo que parecia menos provável no retorno de Moro ao Paraná, no entanto, era o de candidato ao governo. Por quê? Basicamente porque é uma eleição bem mais arriscada para Moro. O cenário atual, de acordo com a última pesquisa para o governo**, é de uma repetição da polarização nacional, aqui encabeçada pelo governador Ratinho Junior e pelo ex-governador Roberto Requião, pré-candidato pelo PT, que já recebeu apoio público de Lula.

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Entrar nessa disputa seria uma briga de foice para Moro. Afinal, de um lado ele teria como adversário o governador Ratinho, seus bons índices de aprovação e o que se chama de “máquina do governo” - os esforços típicos de fim de mandato que podem resultar em benefícios eleitorais ao candidato à reeleição. De outro, tem Requião, um nome pra lá de conhecido, com adesão do eleitor de esquerda, e apoio explícito de Lula. Como caçar votos nesse cenário?

Conforme o tempo passa, a hipótese de Moro como candidato ao governo parece caminhar de um estágio de “muito pouco provável” para “pouco provável” ou “improvável mas não impossível”.

Fato é que desde que anunciou que seria pré-candidato a algum cargo no Paraná, Moro deixou em aberto a possibilidade de, eventualmente, ser candidato a governador. Diz que vai “ouvir a população” antes de tomar sua decisão. Ok, nada de estranho nisso. Mas, como numa mesa de cartas cheia de jogadores experientes, este é um jogo repleto de blefes e sinais trocados. Moro não admite, em público ou privado, qualquer preferência pelo cargo executivo. Um observador neutro, no entanto, não teria dificuldade de interpretar seu discurso como mais voltado à disputa pelo Palácio Iguaçu do que ao Congresso Nacional. No dia seguinte à entrevista exclusiva de Moro à Gazeta do Povo, circularam em grupos moristas do WhatsApp mensagens cacifando o ex-juiz a disputar a cadeira de governo: “entrevista de candidato ao governo do estado”, dizia uma delas. Mais do que isso: na última semana, aliados de Moro já falavam abertamente na construção de um programa de governo para o ex-juiz, devidamente batizado de “República do Paraná”.

Na ocasião do anúncio como pré-candidato “a algum cargo” no Paraná, analistas consideravam que o aceno que Moro dava a disputar a eleição para governador era, antes de tudo, uma forma de aumentar seu poder de barganha numa possível composição com outras forças políticas. Esse, aliás, parece ter sido, até o momento, o maior benefício da chegada de Moro ao União Brasil, partido cheio de políticos profissionais que sabem fazer política sem pudores, como deve ser.

Conforme o tempo passa, a hipótese de Moro como candidato ao governo parece caminhar de um estágio de “muito pouco provável” para “pouco provável” ou “improvável mas não impossível”. Fato é que já se começa a ponderar que impacto teria o seu nome nessa eventual disputa. A impressão de analistas de ambos os lados do embate (que ainda não dispõem de pesquisas registradas para basear suas leituras) é que Moro tem potencial, sim, para balançar o coreto paranaense. Roubando mais intenção de votos do governador Ratinho Junior do que de Requião e outros pré-candidatos. Hoje se prevê que Moro candidato ao governo do Paraná provavelmente encaminharia um segundo turno nas eleições estaduais. Se ele próprio estaria nesse segundo turno é outra história.

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*Levantamento do Instituto Real Time Big Data, divulgado em 27 de junho, entrevistou, pessoalmente, 1.500 eleitores do Paraná entre os dias 24 e 25 de junho. O levantamento foi contratado pelo Grupo RIC e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo PR-06518/2022. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.

**Levantamento do Paraná Pesquisas, divulgado em 17 de junho, contratado pela TV Band do Paraná, que ouviu 1.540 eleitores do Paraná entre os dias 12 a 16 de junho de 2022. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%. Foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo PR-02498/2022.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]