O Paraná saía, há duas semanas, em 14 de julho, de uma quarentena restritiva de 14 dias, a medida mais dura adotada contra a disseminação do coronavírus no estado desde o início da pandemia. Ao fim da quarentena, a Secretaria de Estado da Saúde alegou que sua efetividade só poderia ser avaliada 14 dias depois, por causa do período de incubação do vírus. Passados os 14 dias a Gazeta do Povo analisou os principais indicadores da situação epidemiológica no estado e mostra que a quarentena conseguiu segurar a aceleração do crescimento do número de casos e mortes pela Covid-19, bem como o índice de retransmissão do vírus, mas não a ponto de provocar uma redução da curva. Além disso, a ocupação de UTIs segue preocupando.
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Por decreto do governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), 134 municípios das sete regionais de saúde com piores índices da doença passaram por severas restrições do funcionamento de comércio e serviços, como medida para tentar aumentar o distanciamento social, evitando aglomerações e controlando a curva de crescimento da Covid-19. A quarentena não foi renovada ao seu final e a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), bem como a comunidade médica indicou que seus resultados só poderiam ser avaliados a partir de 14 dias depois, o tempo necessário para as medidas tomadas para incentivar o isolamento social surtir efeito no número de casos, mortes, taxa de ocupação de UTIs e índice de retransmissão do vírus.
Platô nas mortes?
Em 30 de junho, véspera do início da quarentena, o Paraná tinha batido seu recorde de mortes diárias até então, com 36 óbitos. E o crescimento era exponencial: dois dias depois, foram 42 mortes e, em 14 de julho, último dia da quarentena, 57. O número de mortes diárias é o indicador que mais demora a sofrer influência da mudança de política, uma vez que pode-se levar até 40 dias entre a contaminação e o óbito do paciente. Desde que bateu outro assustador recorde nos óbitos diários (71 no último dia 22) o estado vem apresentando considerável redução, com 32 mortes registradas no última dia 27 e 39 nesta terça-feira.
Outro dado importante sobre o número de mortes é que, na semana entre 13 e 18 de junho foram registrados 268 óbitos, quatro a menos do que na semana anterior. Na semana entre 20 e 25 de julho o registro de mortes é ainda menor (259), mas estes dados ainda podem ser alterados com óbitos registrados nesta semana que possam ter ocorrido anteriormente, o que tem sido comum nos boletins da Sesa. A análise desses números nas próximas semanas permitirá confirmar se o número realmente estacionou.
Queda no registro de novos casos
Mais um índice que vinha crescendo exponencialmente era o de número diário de novos casos. Depois de passar quase todo o mês de junho registrando uma média de 800 novos casos por dia, o Paraná teve 1.534 novos casos conformados em 30 de junho, antes de entrar em quarentena. O número seguiu aumentando, com o recorde de 2.377 registros somente no dia 4 de julho. Passada a quarentena, o estado aproximou-se do recorde com os 2.364 casos registrados no último dia 22, mas, desde então, o número vem diminuindo. Na última segunda-feira, foram “apenas” 767 novos casos registrados. Nesta terça-feira, foram 1.368.
Veja no infográfico como a quarentena impactou nos números da Covid-19 em cada uma das sete regionais atingidas pelo decreto.
Diminuição da taxa de retransmissão
A desaceleração no crescimento de casos e mortes por Covid-19 tem reflexo direto na taxa de transmissão do coronavírus no estado, o Rt. O índice calculado por professores do departamento de estatística da Universidade Federal do Paraná, em parceria com a epidemiologia do Hospital de Clínicas, chegou a 1,6 em 4 de julho, indicando que cada 10 paranaenses infectados estavam contaminando outras 16 pessoas. Desde então, este número, baseado nos casos confirmados pela Sesa, vem decrescendo e, na última segunda-feira, pela primeira vez desde maio, o índice foi menor que 1 (0,98) o que indica que um caso confirmado gera menos que um novo caso, apontando uma tendência de diminuição da curva de novos casos, se o índice for mantido no longo prazo.
O estudo também calcula o Rt com base nos óbitos, método considerado mais preciso pelos pesquisadores por não sofrer variação por causa de uma maior ou menor testagem por parte do estado. Esse índice também já chegou a 1,6, baixou de 1 nos dias 20 e 21 de julho, mas está, hoje, em 1,16. “Continuamos mal na transmissibilidade. Apesar de termos estabilizado, o Rt de 1 vai manter o panorama atual. E o panorama atual não é confortável. É um panorama limítrofe. Qualquer excepcionalidade que levar a um aumento do Rt pode levar ao colapso. E tudo isso num contexto de cansaço da população, não tolerância às medidas de isolamento”, avalia o infectologista Bernardo Montesanti Machado de Almeida, membro da equipe da UFPR. “Ter atingido o R de 1 é resultado das medidas mais fortes que foram tomadas há algumas semanas, mas também é um dado preocupante porque já houve retrocesso destas medidas e isso pode trazer aumento novamente nos próximos dias”, acrescenta.
Ocupação de UTIs
Outro indicador que levou o governador a decretar a quarentena era a taxa de ocupação de UTIs, principalmente nas regionais de saúde da Região Metropolitana de Curitiba e da regional de Cascavel, que se aproximavam, no final de junho dos 90% de ocupação. Se, em Cascavel, a quarentena, bem como outras medidas adotadas localmente, antes mesmo do decreto estadual, conseguiram desafogar as UTIs (hoje, a ocupação da macrorregião Oeste é de 67%), na Região Metropolitana de Curitiba não houve desafogo e as vagas em UTI exclusivas para Covid-19 só não se esgotaram porque novos leitos foram habilitados pelo estado e pela prefeitura da capital. A ocupação de leitos de UTI na macrorregião Leste é de 92%.
Na Região Metropolitana de Curitiba, de acordo com dados disponibilizados pela Secretaria de Estado da Saúde nesta terça-feira, 96% dos leitos de UTI adulto para pacientes com Covid-19 estavam ocupados, o que corresponde a apenas 18 leitos livres dos 445 habilitados.
“Estamos trabalhando no limite da capacidade do sistema de saúde. Em alguns setores, como o dos recursos humanos, já estouramos esse limite e estamos recorrendo a profissionais com pouca experiência no atendimento em terapia intensiva. Mas há uma curva de aprendizado natural no manejo de pacientes críticos do coronavírus”, explica Bernardo de Almeida.
Ele ainda diz concordar com a avaliação da secretaria de Saúde de Curitiba, Marcia Huçulak, de que a cidade se fechou muito cedo para o coronavírus e, agora, não encontra adesão para novas medidas de restrição de circulação de pessoas. “A outra forma de reduzir a transmissibilidade da doença é ampliando a capacidade e velocidade da realização de testes, identificando e isolando os casos e seus contatos. Mas não estamos vendo isso ser adotado no Brasil”, lembra.
O médico também comenta sobre o crescimento do debate acerca da imunidade de rebanho como estratégia de redução da transmissibilidade, mas pontua o tamanho do risco desta medida. “Essa é uma discussão bastante incerta ainda, pois ninguém sabe a porcentagem da população que seria necessário estar imune para quebrar a cadeia de transmissão. Mesmo as previsões mais otimistas são de que é preciso contaminar 15% a 40% de uma população e hoje, em Curitiba, temos 2% a 5% de habitantes que podem ter sido expostos ao vírus, o que mostra que estamos muito longe, sendo, assim, impossível se pensar em uma estratégia como essa, de forma isolada, no momento pelo número de pessoas que ainda precisariam ser expostas, adoecer e correr o risco de morrer”.
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