Apenas quatro municípios paranaenses seguem sem registrar casos do novo coronavírus. A cartografia da Covid-19, trabalho conduzido pela coordenadora do Núcleo de Referência em Gestão de Riscos e Desastres Socioambientais do ISAE Escola de Negócios, Ariadne Farias, e pela mestranda em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal do Paraná Nayana Machado, em parceria com o Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, mostra a interiorização da doença com o passar do tempo e o acúmulo de casos no estado.
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Em 5 de julho, há um mês, 368 dos 399 municípios do Paraná já tinham casos confirmados da doença. No boletim epidemiológico desta quinta-feira, já são 395. Rio Bom, no Norte do Estado; Flor da Serra do Sul, no Sudoeste; Boa Ventura de São Roque, na região central; e Godoy Moreira, no Centro-Oeste, são as ilhas livres do coronavírus no estado, mesmo sendo vizinhas de focos da doença (Rio Bom, por exemplo, está a 85 km de Londrina. Flor da Serra do Sul, a 31 km de Francisco Beltrão).
“A doença chega ao estado pelas grandes cidades, com pessoas que retornaram de viagem para fora do Paraná e do país. Com o contágio comunitário nestas cidades, a interiorização se dá pelos trechos rodoviários, com a circulação das pessoas. As primeiras cidades do interior a ver crescer o número de casos foram as que estão em entroncamentos rodoviários. As quatro cidades que ainda não registram casos são verdadeiras ilhas no meio da pandemia. Além das políticas que possam ter sido adotadas pelas administrações municipais, a dificuldade de acesso também pode ter contribuído para este bloqueio do vírus, até o momento”, comenta Ariadne Farias.
Um bom exemplo é o município de Godoy Moreira. O município fica a 49 km, de Campo Mourão (uma das primeiras cidades paranaenses a registrar morte por Covid-19 e que já tinha passado dos 620 casos confirmados da doença nesta quinta-feira), mas a distância rodoviária entre as duas cidades é de 116 km, pois não há uma ligação direta entre os dois municípios. “Temos que agradecer à sorte, pela doença não ter chegado aqui, mas também fizemos um trabalho muito sério no início da pandemia, fechando o município para veículos de fora, com bloqueio na estrada. Depois que abrimos, tem equipe de saúde no acesso ao município parando todos os veículos, medindo a temperatura, fazendo o controle. Não entra uma pessoa com febre na nossa cidade”, conta o prefeito do município de cerca de 3 mil habitantes, José Gonçalves. A PR-650 é o único acesso a Godoy Moreira e o município é o quilômetro final da rodovia.
"A iniciativa de elaborar os mapas para o estudo da Covid-19 surgiu do Grupo de Pesquisa Georisco, da UFRN, coordenado pelo professor Lutiane Almeida. Após a ação virar referência como fonte de pesquisa na Região Nordeste, a professora Ariadne decidiu trazer o modelo para a região Sul. "“Atualizamos os dados a partir dos boletins oficiais das secretarias de saúde. Com as informações no mapa, é possível que órgãos competentes entendam a propagação vírus. Conseguimos mostrar, por exemplo, como a falta de isolamento social tem aumentado os números de caos em localidades com maior densidade demográfica”, explica.
Os mapas da cartografia da Covid-19 também levam em consideração a densidade demográfica de cada município, para apontar a incidência da doença na população. “Se observarmos os dados absolutos, Curitiba é o primeiro lugar disparado, por conta do maior número de casos. Mas a Regional de Saúde mais preocupante é Cascavel, com 1.200 casos por 100 mil habitantes. Paranaguá e Foz do Iguaçu também estão com incidência maior que a capital, o que mostra a interiorização da doença”, cita a professora. “Mas a mortalidade na Região Metropolitana de Curitiba é a maior”, alerta.
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