Quando o próximo postulante assumir a desejada cadeira do Palácio 29 de Março, em janeiro de 2021, para o 83º mandato de prefeito na história curitibana, estará à frente de uma cidade que em quase nada lembra a que esteve sob as asas de José Borges de Macedo, o primeiro a ocupar o cargo. Se hoje os problemas urbanos são complexos e exigem planejamento de longo prazo, na primeira metade do século 19, na Curitiba de poucos milhares de habitantes, os problemas eram bem mais provincianos.
Nascido em Castro, nos Campos Gerais, Borges de Macedo foi o primeiro prefeito de Curitiba, quando a cidade ainda era comarca da Província de São Paulo. Foi o único prefeito a ser nomeado por aqui durante o período imperial do Brasil e assumiu Curitiba em 1835, aos 44 anos. Embora a previsão de seu mandato fosse de se estender por mais um ano, em 1838 a província emitiu uma lei extinguindo o cargo. A cidade só voltaria a ter outro prefeito mais de 50 anos depois. Em 1892 Cândido de Abreu virou o segundo alcaide da história de Curitiba, quando o Paraná já estava há muito emancipado (1853) e a República recém tinha sido proclamada (1889).
Antes de o cargo ser criado, a então Villa de Coretiba era regida por sua Câmara Municipal – ou de ‘homens bons’, como eram chamados. Os vereadores faziam as vezes do Executivo, embora seus poderes tivessem sido mais limitados após a Independência do Brasil, em 1822. Com a criação do cargo, em 1835, coube aos vereadores escolherem um nome para ocupá-lo. Muito ativo em diversas atividades, Borges de Macedo se tornou a escolha mais evidente. Comerciante, ele havia exercido diversos papéis na vida pública na cidade. Foi vereador, procurador da Câmara Municipal e juiz de paz. Essa sequência de atividades o destacou na sociedade como um homem justo, adequado ao cargo.
Embora muitas das funções do prefeito daquela época encontrem similaridades com as de hoje, a forma de escolha era peculiar. “A sua nomeação, suspensão, e demissão será feita pelo governo, precedendo informação da camara respectiva quer sobre a idoneidade das pessoas de maior consideração do municipio, em que possa recahir tal emprego quer sobre os defeitos, ou crimes do que o estiver exercendo, que o torne inhabil de continuar no exercício [grafia original]”, dizia a Lei N. 18, de 11 de abril de 1835, redigida por Rafael Tobias de Aguiar, então presidente da Província de São Paulo.
Borges de Macedo assumiu em uma época em que Curitiba se assemelhava muito mais a um vilarejo do que, de fato, a uma cidade. Alguns anos antes, Auguste de Saint-Hilaire descreveu a comarca como um vilarejo de 200 casas e pouco mais de mil habitantes. Duas décadas depois a cidade chegava ao 5 mil. Essa população ainda se concentrava em poucas ruas ao redor do chamado pátio e largo da Matriz (uma área que compreende o que hoje é a Praça Tiradentes e a Praça Generoso Marques).
Apesar do pioneirismo, o mandato de Borges de Macedo é relativamente pouco documentado. Quem melhor o rastreou foi o historiador Ruy Christovam Wachowicz, já falecido. Em seus escritos. Wachowicz atribuiu ao prefeito o primeiro esforço de urbanização na hoje capital do Paraná. Explicava ele que a Curitiba do início do século 19 começou a se tornar forte economicamente por produzir erva-mate. Com o Paraguai suspendendo a exportação da erva para Uruguai e Argentina, a planície paranaense passou a ocupar esse espaço.
Embora plantada aqui, a erva-mate costumava seguir para Paranaguá para ser finalizada. Negociantes locais, ao perceber a demora e perda de ganho nesta logística, passaram a abrir engenhos ervateiros na comarca, causando a primeira expansão do município para além dos rios Belém e Ivo. Cerca de duas dúzias foram instaladas na cidade na década de 1830. De acordo com o historiador, coube a Borges de Macedo ordenar esse crescimento, abrindo novas ruas, como a São Francisco de Paula (atual Saldanha Marinho), Jogo da Bola (atual Al. Dr. Muricy) e Carioca de Baixo (atual Mal. Deodoro).
De acordo com o historiador, foi também Borges de Macedo a iniciar uma batalha para que as ruas Carioca de Baixo e das Flores (Rua XV) fossem paralelas. Sem essa intervenção, o visual do Centro da Curitiba de hoje poderia ser bem diferente. Ao fim de seu mandato, Borges de Macedo voltou a atuar como juiz de paz. Não se distanciou da política, no entanto. Voltou a ser vereador e presidiu a Câmara Municipal na década de 1840. Macedo teve ainda papel importante no movimento que culminou na emancipação política do Paraná. O ex-prefeito, no entanto, morreu em 1851 sem ter visto a consolidação da luta, que aconteceria somente dois anos depois, em 1853.
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