Após 100 dias no comando do governo do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) considera que “deu o tom” de como serão seus quatro anos de mandato. “Acho que é perceptível para a população que a máquina passou a ser muito mais ágil do que em outros governos”, defendeu o governador em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo.
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A conversa com a reportagem aconteceu no gabinete de Ratinho, no Palácio Iguaçu, na manhã da última terça-feira (9). Na sala ampla e com decoração sóbria, o governador falou por 40 minutos sobre ações desses 100 dias: a reforma administrativa, o fim da aposentadoria para ex-governadores e as mudanças nos licenciamentos ambientais. Comentou, também, o que está no horizonte do governo a partir de agora, como a privatização de estatais e a possibilidade de reajuste nos salários dos servidores do Executivo.
No âmbito político, Ratinho falou sobre o ajuste fiscal de Beto Richa (PSDB) e sua relação com o ex-governador - contato que, segundo ele, hoje é inexistente. Avaliou, ainda, o governo de Jair Bolsonaro (PSL) - que considera ser "sério, com uma equipe muito boa" - e falou sobre as perspectivas para as eleições de 2020.
Veja a íntegra da conversa:
Uma das bandeiras da sua campanha foi a reforma administrativa. O texto, entretanto, já teve que ser revisto depois do primeiro envio à Assembleia Legislativa e ainda sofre críticas de deputados. O governo fala de uma economia de R$ 10 milhões, por meio do corte de cargos, mas os parlamentares dizem não ter clareza sobre como isso seria atingido. Afinal, quantos cargos existem atualmente e quantos serão cortados? De onde virá essa economia?
A reforma administrativa tem dois focos. Um é a economia, que acontece naturalmente. Mais do que a economia, o foco é a eficiência. Queremos diminuir a estrutura para que a máquina pública possa ser mais ágil. Nós fizemos o estudo por meio da parceria com a iniciativa privada, com a Fundação Dom Cabral, reconhecida no Brasil todo como muito séria e competente. Trouxemos também o Paulo Rabelo, que foi presidente do BNDES e é um economista premiado, para nos ajudar a colocar metas em relação à economia, de investimentos públicos e privados. A economia acontece, é natural. Muito daquilo que pode acontecer é só no dia a dia que você vai sentindo de fato. Nosso esforço é fazer com que a máquina pública diminua para diminuir o custo para as pessoas. Nós cortamos aquelas secretarias que a gente entendia que não eram essenciais, que serviam só para atender um companheiro político. Se você pega o salário desses secretários, já tem um custo de quase R$ 3 milhões.
Então os R$ 10 milhões são apenas uma estimativa?
Você tem a diminuição de cargos, de quase 400 comissionados. É bom deixar o registro de que o Paraná é um dos estados que tem o menor número de comissionados, talvez o menor do Brasil. Tem estado que chega a 16 mil comissionados. O Paraná tem 3,5 mil. Também estamos fazendo redução de aluguéis na Copel, na Secretaria de Segurança e no Detran. A diminuição do custo é um todo. Na redução de secretarias, eu sempre disse que a economia era pequena. O que eu quero é a velocidade, e estamos conseguindo mostrar que foi acertada essa diminuição. Acho que é perceptível para a população que a máquina passou a ser muito mais ágil do que em outros governos.
Os 400 cargos que serão eliminados estão ocupados atualmente?
Eles foram ocupados no passado. Gradativamente houve uma diminuição nos outros governos. Os ex-governadores [Roberto] Requião e Beto [Richa] já haviam feito um reequilíbrio disso. Estamos fazendo mais um reequilíbrio, dentro do que é necessário.
Ainda falando sobre suas bandeiras de campanha, o tom de seu governo é a ideia de “nova política”. Levantamento da Gazeta do Povo, porém, mostrou que ao menos oito ex-deputados têm cargos no governo. O chefe da Casa Civil, Guto Silva, é citado na delação premiada do ex-diretor do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-PR), Nelson Leal Junior. José Maria Ferreira, nomeado para a Fundepar, é condenado em uma ação civil pública por improbidade administrativa, mesmo que ainda caiba recurso. O senhor considera que esse tipo de prática se adequa ao conceito de “nova política”? O que, afinal, isso significa para o senhor?
Eu nunca disse que eu não teria políticos no governo. Não se faz política sem políticos. Eu não vou incriminar os políticos. Muitos desses que estão comigo foram pessoas que participaram do projeto e que ajudaram, inclusive, a construir o plano de governo. São pessoas que têm experiência e conhecimento. Quem está na vida pública está arriscado a ter uma denúncia anônima sem comprovar nada e o Ministério Público apresentar um processo contra a pessoa.
Mas o José Maria Ferreira já foi condenado em primeira instância
Condenado em primeira instância. Por isso, dentro da Lei da Ficha Limpa, ele está regular. Inclusive, em um desses processos ele foi inocentado em Brasília, na semana passada, e ninguém divulgou. Eu não posso ser juiz. Eu tenho que buscar pessoas de bem, que eu tenha confiança de que não vão fazer bobagem na máquina pública, mas acima de tudo ter a independência de que, se alguém fizer, vai sair. Eu tenho dito isso. Eu dou a oportunidade, acredito na competência das pessoas. Mas - independentemente se for político ou servidor público - fez bobagem, está fora. É assim que tem que acontecer com todo mundo.
Ratinho Junior, governador do Paraná
Eu nunca disse que eu não teria políticos no governo. Não se faz política sem políticos. Eu não vou incriminar os políticos. [...] Eu não posso ser juiz. Eu tenho que buscar pessoas de bem, que eu tenha confiança de que não vão fazer bobagem na máquina pública, mas acima de tudo ter a independência de que, se alguém fizer, vai sair
Então se houver alguma comprovação no caso do Guto Silva, ele vai perder o cargo?
Eu não vou nem precisar fazer isso. Ele mesmo vai tomar a decisão. Todos do meu time sabem que essa é a nossa metodologia. Eu não posso julgar uma delação. Eu tenho que esperar todo o processo acontecer. Acredito que isso pode ser até uma montagem política. Os que estão com a gente estão enquadrados na Lei da Ficha Limpa. Acredito na competência, no caráter deles.
O senhor confia no Guto Silva?
Eu confio. Nunca me deixou duvidar de qualquer coisa.
Ainda sobre os secretários: o senhor havia dito que as mulheres teriam um papel importante em seu governo mas, no primeiro escalão, a maioria esmagadora é de homens. A única mulher é a procuradora-geral do estado. Que função, então, as mulheres estão desempenhando na gestão?
Primeiro, não é qualquer cargo no primeiro escalão. A doutora Leticia [Ferreira da Silva] é procuradora, foi a segunda pessoa que eu anunciei quando eu estava montando a equipe. Talvez ela tenha o cargo mais importante do primeiro escalão, porque é ela quem dá toda a legalidade jurídica de qualquer ato que fazemos aqui no governo. Segundo, temos também a superintendente de Cultura, Luciana [Casagrande Pereira].
Mas a secretaria da Cultura foi uma das eliminadas na reforma administrativa
Veja, o fato dela perder o status de secretaria não quer dizer que as políticas públicas da cultura não são importantes para nós. Então, nós temos a Luciana, que representa esse setor importante. Temos a doutora Priscila [Marchini Brunetta], que é diretora administrativa da Sanepar. Se você for buscar, nós temos 'n' mulheres no nosso governo. Claro, em secretarias, que geralmente são cargos mais ocupados por políticos, é natural que haja mais homens porque existem muito mais homens do que mulheres participando da política. Nós temos que incentivar devagarzinho, para isso mudar. Até para serem candidatas você vê a dificuldade que os partidos têm em arrumar. É natural.
O governo encaminhou para a Alep um projeto que acaba com a aposentadoria para ex-governadores do estado. A ex-governadora Cida Borghetti (PP) requereu o benefício em janeiro. O governo irá conceder?
Eu deixei muito claro que eu sou contra. Não é correto, em um país em que as pessoas se aposentam com R$ 800, R$ 1 mil, trabalhando por 35 anos, que alguém fique 4, 6 meses e se aposente para o resto da vida com R$ 33 mil, que é o salário de governador. Não estou falando do caso específico da ex-governadora, mas sim como um todo. Nós vamos deixar a Assembleia Legislativa discutir esse assunto. Eu acho que vai ter a aprovação. Tem até uma discussão sobre se seria retroativo ou não. Eu defendo que seja. Acho que, se nós não dermos o exemplo, não temos como passar por uma Reforma da Previdência, por exemplo. Nós temos que acabar com os privilégios, e não só de políticos: de juízes, promotores, militares. Tem que ser repensado. Se isso não acontecer, como você vai cobrar a realização de uma Reforma da Previdência que pode dificultar a vida das pessoas mais humildes?
Os servidores do Executivo estão sem reajuste desde 2015. Segundo a APP-Sindicato, a defasagem dos salários já está em 16,4%. Ao mesmo tempo, o governo divulgou que o Tribunal de Contas do Estado (TCE) já advertiu o Executivo sobre o excesso de gastos com pessoal. O governo vai conceder reajuste em 2019?
É importante primeiro reconhecer esse sacrifício que os servidores estão fazendo já há alguns anos. Mas também é importante que todo mundo saiba que o país passa por uma crise, e o Paraná não está fora dela. Tudo que nós estamos fazendo para economizar é para que no Paraná – e eu falo isso com muita cautela – não aconteça o que houve com os nossos colegas do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais ou do Rio de Janeiro. Esse é o meu maior desafio, fazer com que o Paraná mantenha suas contas públicas equilibradas.
Eu posso dar o reajuste neste ano e no ano que vem as pessoas não receberem o salário. Tem que ter essa consciência. Posso dar uma de bonzinho agora e, no ano que vem, acontecer de muitos não receberem o salário ou a aposentadoria. Eu prefiro que a gente faça um esforço agora no começo – não só o governo, a sociedade e os servidores também. Prefiro que a gente faça um trabalho para poder pagar ao menos uma parte do 13º em junho, para dar a garantia de que vai ter o salário em dia e poder ir avançando em outras áreas, do que chegar e dar um reajuste para o servidor, dar uma de bonzinho e colocar as contas do Paraná em risco.
Além de ser direito, eu acho que é importante um incentivo financeiro para os servidores. Mas eu não posso ser irresponsável. Nós temos rodovias a serem feitas, tem gente morrendo. Tudo isso é dinheiro. Temos que organizar e priorizar para que o estado esteja equilibrado acima de tudo e para que não tenha sustos, como aconteceu com outros governos que fizeram demagogia em cima de salários e acabaram quebrando
O que a gente tem buscado é negociar com o sindicato, dizendo “olha, vamos fazer um esforço no primeiro ano de governo, em que é muito difícil até você colocar a casa em ordem, e no ano que vem a gente consegue trabalhar pra 1,5%, 2%, 3,5%”. Vamos trabalhar com o cheiro da economia melhorando, para que o ajuste que estamos fazendo possa trazer resultados. O enxugamento da máquina pública não tem resultado em 90 dias, mas em um ano e meio, dois, quando isso começa a sobrar no caixa. A ideia é passar essa consciência para a população, de que esse esforço não é do governo, é de todos. Pedir para que os servidores compreendam essa necessidade, o nosso esforço para que tudo esteja em dia, inclusive o salário deles, para que no ano que vem a gente não tenha nenhum susto.
Outro ponto é que nós já estamos no limite prudencial. Quem fala isso não sou eu, é o TCE. Se passarmos do limite prudencial, a gente fica negativado. Passamos a ser um estado mal visto pelo governo federal em termos de contas públicas. Então tudo se perde: os empréstimos que nós estamos trabalhando para conseguir, para fazer as obras que são necessárias para o estado, os convênios. Nós não podemos abrir mão disso. Veja, nós temos que contratar 2 mil policiais, 150 pessoas para o Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Isso tudo impacta na folha.
Vamos ajustar a casa, primeiro. Além de ser direito, eu acho que é importante um incentivo financeiro para os servidores. Mas eu não posso ser irresponsável. Nós temos rodovias a serem feitas, tem gente morrendo. Tudo isso é dinheiro. Temos que organizar e priorizar para que o estado esteja equilibrado acima de tudo e para que não tenha sustos, como aconteceu com outros governos que fizeram demagogia em cima de salários e acabaram quebrando.
Recentemente, o jornalista Rogério Galindo, do Plural, noticiou que o governo estaria cogitando retirar o direito à licença-prêmio como uma espécie de compensação para dar o reajuste. Esse é o plano da gestão?
Nós vamos conversar com o sindicato. A ideia não é tirar o que é direito adquirido, mas sim evitar isso para os servidores que entrarem daqui pra frente. Se você perguntar para qualquer cidadão comum se ele acha que é normal a pessoa trabalhar cinco anos e, além do que ela já tem direito natural, ter mais 90 dias de férias remuneradas, ninguém acha normal. Não é normal para qualquer trabalhador comum. São benefícios que foram sendo dados de forma demagógica. Mas também não acho que eu tenha o direito de prejudicar os que já têm a licença. O que eu acho é que, daqui para frente, a gente tem que repensar todo esse sistema.
Veja, se nós não pensarmos a máquina pública, nós vamos falir. Já estamos falindo, na verdade. O país já está falido, tanto que está aí rastejando e não consegue fazer absolutamente nada. A sociedade tem que ter essa consciência, é um esforço de todos, e não de um governo. A folha de pagamento do Paraná era de R$ 10 bilhões em 2010. Hoje, é de R$ 32 bilhões. Alguma coisa está errada. Houve exageros. Esse equilíbrio, que não é fácil, é o que nós temos que atingir.
A propósito da situação fiscal do estado, o senhor tem salientado, em seus discursos, o contexto financeiro favorável em que o Paraná se encontra do ponto de vista econômico. No entanto, nunca se refere ao pacote de medidas de ajuste enviado pelo ex-governador Beto Richa (PSDB) à Assembleia Legislativa em 2015 – episódio que culminou na chamada Batalha do Centro Cívico
Mas eu já falei isso publicamente, eu reconheço isso.
Ultimamente não temos ouvido isso nas falas do senhor. A pergunta é: quanto o senhor acha que deve a Beto Richa pelo governo que recebeu hoje? Como vê as operações em que o ex-governador é investigado e como está sua relação com o tucano?
Relação com ele eu não tenho desde que eu deixei de ser secretário. Mas eu respeito, foi governador, fui secretário dele, tive uma grande oportunidade. Se houve erros, eu obviamente não estou aqui para julgar. Mas, se comprovadamente aconteceu, ele tem que pagar. Qualquer um tem que pagar. Eu vejo que ele teve muita coragem em fazer esse ajuste fiscal. E até fez porque nós estávamos pior que o Rio Grande do Sul. Se não tivesse feito, nós estaríamos pior agora. Houve um esforço da sociedade, do servidor público, dos empresários que tiveram que pagar o aumento de impostos. Houve um esforço da Assembleia Legislativa, que foi corajosa em fazer isso acontecer. Agora, foi um conserto do que o próprio governo dele acabou gerando. Ele aumentou a folha demais. Depois, o estado não conseguiu dar conta na crise. E você não tem como diminuir a folha. Você deu a folha, tem que pagar, tendo a economia crescido 3% ou se retraído 5%.
Há alguma outra coisa que o senhor considera que recebeu em uma boa situação dos governos anteriores?
Nós não recebemos as finanças em boa situação. Recebemos em equilíbrio. Nós recebemos janeiro com R$ 250 milhões em caixa. Isso, tendo que dividir com os outros poderes, não é nada. Agora, se eu olhar para os meus vizinhos, tenho que agradecer porque o estado está equilibrado. Não temos sobrando para investir, mas também não estamos quebrados a ponto de não pagar. Esse equilíbrio que nós temos que manter. Se nós não mantivermos, vai fazer mal para a sociedade. Temos que aproveitar que o estado está organizado do ponto de vista financeiro e começar a crescer. Quando o estado está bem visto perante o setor privado, você começa a ter mais investimento, que gera mais emprego e aumento de consumo. O que gera mais ICMS, faz entrar mais dinheiro em caixa. Nós não podemos perder isso.
Ainda tratando de economia, qual o seu posicionamento sobre a possibilidade de privatização de estatais do governo do Paraná? Como ficam a Copel Telecom, a Compagas e a Sanepar, para citar alguns exemplos?
Pensamos em privatizar a Copel Telecom e a Compagas. Queremos caminhar muito para Parcerias Público-Privadas (PPPs) também na área de saúde, com gestão de hospitais. Estamos avaliando a questão da gestão de presídios porque muitos estados já estão fazendo PPPs com bons resultados, inclusive com diminuição do custo por preso. Na área administrativa, tem coisa que se pode avançar. Sobre as estatais, não há justificativa para o estado ter duas companhias como a Copel Telecom e a Compagas, que atendem só ao setor privado.
A Copel Telecom não tem como disputar com as maiores do mundo, que estão todo dia colocando dinheiro em uma velocidade muito maior. Não é necessidade básica da população. A Copel Energia é necessidade básica, tem um desenvolvimento social envolvido. A Copel Telecom, não. Não tem porque a gente manter esse ativo sendo que está faltando dinheiro para outras áreas. É uma bobagem. A mesma coisa para a Compagas. Obviamente, vamos fazer isso de forma muito clara, em bolsa de valores, avalizado pela Assembleia. Acho que há uma consciência da população de que o governo não tem que ficar cuidando desse tipo de coisa, mas só do que é essencial.
Já estão sendo estudados projetos de PPPs, então?
Várias. Muitas além das concessões de rodovias, que já estão sendo estudadas no núcleo de trabalho do Ministério de Infraestrutura, e das concessões de aeroportos que vão ser lançadas até dezembro – de Foz do Iguaçu, Londrina, do Bacacheri e Afonso Pena.
Ainda sobre as empresas públicas, em fevereiro o presidente da Sanepar, Claudio Stabile, sinalizou que a empresa pretendia requerer, junto à Agência Reguladora do Paraná (Agepar), a antecipação do reajuste escalonado de 25,63%, que inicialmente seria aplicado até 2025. Como o senhor vê essa possibilidade?
Eu estou deixando a agência reguladora fazer a avaliação. Se você começa a influenciar politicamente as tarifas de água e de luz, você acaba comprometendo a companhia. Hoje a Sanepar e a Copel são empresas de capital aberto, estão em bolsa de valores. Eu obviamente tenho que cobrar os investimentos. Temos que aumentar o porcentual de saneamento básico do estado. Tenho que cobrar que a Copel possa ser uma empresa que leve energia de qualidade para os produtores rurais. Mas já há um histórico muito ruim de fazer demagogia com tarifa. Obviamente, se houvesse uma tarifa abusiva sem investimento da Sanepar, eu cobraria um posicionamento da empresa. Agora tem que esperar a agência reguladora tomar a decisão.
Outra mudança implementada nesse início de gestão diz respeito aos licenciamentos ambientais. Como o senhor vê as críticas de ambientalistas em relação à retirada de exclusividade do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) na concessão das licenças e de atribuições do Conselho do Litoral (Colit)?
Você não pode dar o poder de polícia para um conselho. Isso foi um erro. Você tem o IAP, você tem a secretaria de meio ambiente, as secretarias municipais, o Ministério Público fiscalizando. Quer dizer, mais um conselho para gente que não mora no Litoral dizer o que é melhor para o Litoral? Não, temos que acabar com esse tipo de burocracia. Estamos fortalecendo o IAP, que estava muito sucateado e com muitos escândalos de corrupção. Nós temos que retomar a autoridade do IAP. Não dá para quem quer abrir um posto de combustível ficar dois anos esperando uma licença.
Tirar a exclusividade do IAP nos licenciamentos ambientais é uma forma de fortalecer o órgão, na sua visão?
A Receita Federal fiscaliza em cima de uma peneira. Deduz que você é uma pessoa séria. Se você não for decente, você vai ser punido. É a mesma lógica. Se você quer abrir um posto de combustível, você pega uma empresa de engenharia ambiental , que vai ter regras claras, leis específicas. Vai apresentar o licenciamento. O IAP vai dar o ok, mas vai ter uma fiscalização. Se você mentiu, o seu posto será fechado. É assim no mundo inteiro. A não ser que seja, por exemplo, o caso de uma hidrelétrica. Aí tem que ter um trabalho mais pesado do IAP, mais discussão. Mas para a pessoa que vai abrir uma loja, um posto, um restaurante, não dá. Essa burocracia acaba acontecendo para haver a corrupção. Estamos facilitando para que as pessoas de bem possam abrir seus negócios com um bom laudo e, automaticamente, o IAP vai fiscalizar e cobrar para que não haja erro.
As pessoas não querem fazer nada errado, nunca quiseram. É tanta burocracia que a pessoa se obriga a achar um jeitinho. Estamos facilitando. Estamos acabando com aquele viés ideológico. Eu não vejo esses órgãos ambientais se preocupando com a poluição urbana, que é muito maior que o desmatamento que acontece no estado ou do que o que acontece no Litoral. Imensamente maior e ninguém discute esse assunto. Temos que mudar o viés, porque também existem, por trás dessa discussão ideológica e de ONGs ambientais, muitos interesses econômicos. É uma discussão muito complexa e nós não podemos ficar perdendo tempo com isso. Temos que fazer a máquina rodar, ter o desenvolvimento. Nós temos uma agricultura verde, a preservação das reservas legais, projetos de repovoamento dos rios que vamos implantar, um Litoral limpo em relação ao restante do Brasil. O Paraná tem feito a sua parte, mas tem discussões de teses e paixões. Temos que ser práticos, não podemos discutir paixões. Queremos o que é tecnicamente solucionável.
E a Faixa de Infraestrutura? Qual é a disposição do governo em tirá-la do papel?
Nós estamos dispostos a fazer um projeto de desenvolvimento para o Litoral, que inclui a Faixa de Infraestrutura. A Faixa é um pedaço do nosso projeto, que inclui modernizar o Porto de Paranaguá; deixar qualquer porto privado que tenha as licenças ambientais e as autorizações do governo federal ser explorado; fazer a macro e a microdrenagem, pegando a parte de Matinhos e Caiobá; fazer a Ponte de Guaratuba, que é um sonho de muitos anos. Sobre a Faixa, somos favoráveis.
E o pedaço da estrada da Faixa de Infraestrutura que serviria apenas ao porto privado em Pontal do Paraná?
Vai ter uma compensação de quem vai ser beneficiado. Todo mundo vai ser beneficiado no Litoral com um novo acesso. Você vai deixar aquilo mais moderno. Se há uma maneira de alavancar a economia de Pontal com um novo porto, o estado pode colaborar desde que tenha algum benefício. Estamos estudando uma maneira dessas empresas beneficiadas fazerem essa compensação.
Agora falando de Segurança Pública. Em março veio a público o caso de um feminicídio que ocorreu por causa de uma falha no atendimento da Polícia Militar no Paraná. Que medidas foram tomadas desde então para que casos semelhantes não aconteçam?
Esse caso específico aconteceu no dia 12 de janeiro. Fazia 10 dias que nós estávamos no governo. Obviamente, uma mudança importante não pode ser feita nesse período tão curto. Nós vamos fazer um balanço da apresentação da Secretaria de Segurança Pública, que tem dados muito positivos. Um deles é de que só em Curitiba houve redução de 37% no número de homicídios. Historicamente, nunca houve um trimestre com ganho de eficiência tão grande. Nós assumimos o governo com 40% da frota de viaturas em oficinas. Boa parte delas ainda está no conserto. Estamos agora buscando mecanismos para melhorar essa eficiência. Uma parte alugando carros, uma parte vendendo e comprando carros mais novos. Mas tudo isso passa por um processo financeiro. Vamos anunciar uma economia grande na área de aluguéis de delegacias ainda neste ano. Estamos renegociando os contratos de marmitas dos presídios para diminuir o custo.
O Conselho da Comunidade de Curitiba aponta que os presos estão reclamando da qualidade das marmitas, após a redução no valor dos contratos
Existe um monitoramento. A qualidade das marmitas sempre foi questionada, isso é histórico. Mas estamos buscando fazer com que o contrato fique dentro do que é um preço médio no Brasil, e que a cobrança da qualidade seja mantida. Temos nutricionistas que acompanham tudo isso. Não havendo qualidade, troca-se a empresa com um preço acessível.
O senhor tem ido com frequência a Brasília. Como está a relação com o presidente Jair Bolsonaro?
Eu tenho ido muito a Brasília porque eu acho que foi um erro histórico do Paraná não ter aproveitado seu peso político econômico perante o país para impor alguns retornos para o estado. Sempre usamos muito pouco nossa bancada federal, os nossos senadores. Tenho buscado construir essa união. Um exemplo é de que há 30 anos os três senadores não almoçavam com o governador, não faziam uma agenda política em defesa do estado. Nós estamos fazendo isso periodicamente com os senadores e com a bancada. Tenho ido muito para falar com os ministros e mostrar o que temos de projetos. A ideia é fazer com que o Paraná seja um estado protagonista nacional. O Paraná sempre foi muito tímido. Estamos mostrando o tamanho do Paraná, algo que - talvez por uma questão de visão estratégica - não era feito.
Como o senhor vê o desempenho do governo Bolsonaro, em especial na articulação para aprovar a Reforma da Previdência?
Eu acho que há dificuldades, como em qualquer início de governo. Ele tem uma personalidade muito forte e isso talvez acabe ganhando escala pela forma como ele conduz as coisas. Mas o governo tem mostrado ser sério, com uma equipe muito boa. Os ministros conhecem o mercado, as pastas, sabem do que estão falando. Tem que dar tempo para as coisas andarem. O Brasil é um grande navio. Você não muda o navio de posicionamento em 90 dias. Isso é um processo até cultural, a máquina é demorada.
Temos o desafio da previdência, que tem que ser aprovada. É uma questão de sobrevivência não do governo, mas da sociedade. Se não aprovar, tudo que estamos prospectando de investimentos para o Brasil vai embora. Nós temos que fazer a lição de casa. Claro, eu acho que também não deve prejudicar as pessoas mais humildes. Tem que dar o exemplo cortando dos que têm privilégios.
Ele [Jair Bolsonaro] tem uma personalidade muito forte e isso talvez acabe ganhando escala pela forma como ele conduz as coisas. Mas o governo tem mostrado ser sério, com uma equipe muito boa. [...] O Brasil é um grande navio. Você não muda o navio de posicionamento em 90 dias. Isso é um processo até cultural, a máquina é demorada
Ainda tratando do cenário político, em 2020 teremos eleições municipais. O senhor tem simpatia por algum candidato? Já sabe quem pretende apoiar?
Nem parei para pensar nisso, nem para falar nisso, nem para ver a questão de partido. O foco agora é governar.
Este é o primeiro cargo eletivo do senhor no Executivo. Que dificuldades tem sentido? Como está sendo a experiência?
Eu não tinha muita preocupação com as dificuldades porque busquei me preparar para estar no cargo. Acredito que o sucesso, tanto na iniciativa privada quanto no poder público, depende da equipe. Se você conseguir montar uma boa equipe, os resultados vêm com mais facilidade e agilidade. Meu desafio como governador é traçar um norte para o estado, tenho isso muito claro na minha cabeça. Colocar o Paraná como maior produtor de alimentos do planeta, incentivar a indústria de transformação de alimentos. Eu estou buscando muito investimento da iniciativa privada para gerar emprego para o estado. Quero fazer do Paraná o hub logístico da América do Sul. Vamos fazer o Paraná ser um grande centro de escoamento de toda essa produção. Precisamos fortalecer nossa infraestrutura, o que nunca foi feito. Estou governando em 2019 com o olhar em 2030.
Por fim, peço que o senhor faça um balanço dos 100 primeiros dias de governo e fale um pouco do que planeja para o restante do mandato.
Os 100 primeiros dias deram a oportunidade de mostrar o ritmo que vamos impor no governo. A gente organizou a parte operacional e conseguimos medidas simbólicas, como acabar com a aposentadoria de governador, devolver o jatinho que era alugado - desperdícios que iam acontecendo. Implantamos o compliance em vários órgãos. Diminuímos taxas do Detran, acabando com aluguéis que custavam caro para o governo. Estamos desburocratizando a máquina, com licenças ambientais mais rápidas. Sendo mais eficientes. Fazendo com que o Paraná passe a ser um estado mais atrativo para o setor produtivo e gere empregos. Meu governo tem um tripé: gestão eficiente, planejamento, em especial na infraestrutura, e visão social forte. Queremos que as pessoas mais humildes tenham uma vida melhor.
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