Aprovado pela população em pesquisas, com amplo apoio partidário e trânsito para articulação eleitoral. O cenário favorável da gestão Ratinho Junior (PSD) passou a credenciar o governador paranaense ao status de presidenciável nas eleições de 2026, como um dos cotados da direita brasileira em oposição ao presidente Lula (PT). Porém, antes disso o governador precisa vencer dois desafios: extrapolar as divisas do Paraná para projeção nacional e unir o PSD em torno de uma possível candidatura.
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Reeleito em 2022 com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no palanque, o governador Ratinho Junior ostenta as contas públicas em dia no estado que representa a quarta economia do país, além da implantação de políticas em alinhamento ao eleitorado bolsonarista.
Levantamentos de institutos de pesquisas colocam o nome de Ratinho Junior entre os quatro governadores de direita mais cotados para a disputa presidencial em 2026, caso a inelegibilidade de Bolsonaro seja mantida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que cassou os direitos políticos do ex-presidente da República. Além de Ratinho, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); o mandatário do estado de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil); e o mineiro Romeu Zema (Novo) estão entre os presidenciáveis cotados em oposição à reeleição de Lula.
De acordo com o último levantamento do Paraná Pesquisas, divulgado no último dia 13, Ratinho Junior tem a aprovação de 76,8% dos paranaenses e vence Lula no estado com 46,2% das intenções de votos dos entrevistados entre 1º e 4 de agosto. O petista teve a preferência de 22,3% dos eleitores paranaenses. Já no cenário com Bolsonaro na corrida presidencial, o governador do Paraná é, então, derrotado pelo ex-presidente, que somou 42% contra 18,8%. Lula manteve a média e pontuou com 21,5%.
No ano passado, o governo do Paraná intensificou a política de privatizações com a capitalização de mais de R$ 20 bilhões na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, em projetos como a desestatização da Companhia Paranaense de Energia (Copel), por meio da pulverização das ações vendidas para investidores privados e o fim do controle do estado com acionista majoritário. Além disso, a gestão Ratinho Junior concluiu os leilões dos lotes 1 e 2 do novo modelo de concessão das rodovias pedagiadas do Paraná.
O Paraná ainda assumiu o protagonismo na continuidade do modelo educacional das escolas cívico-militares, que teve o programa cancelado pelo governo federal na gestão petista. O estado lidera o ranking de unidades entre os estados com mais de 300 colégios no modelo cívico-militar, assim como mantém bom rendimento no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Em junho, Ratinho Junior também sancionou a lei que autoriza a administração privada, de maneira compartilhada, em unidades escolares da rede pública, após uma onda de protestos e greve dos professores do estado.
Nos bastidores, aliados de Ratinho Junior ouvidos pela Gazeta do Povo afirmam que o governador deve aproveitar a alta aprovação e bom momento político e econômico do estado para lançar a candidatura presidencial, apesar do franco favoritismo ao Senado. Segundo o instituto Paraná Pesquisas, o levantamento aponta para preferência de 66% dos eleitores pelo nome de Ratinho Junior como senador em 2026.
“Internamente, ele já afirmou que não pretende disputar o Senado. O problema do Ratinho é o partido, pois existe a divergência com a direção nacional, que não teria interesse em uma candidatura própria”, disse um político do PSD paranaense, aliado do governador, ao se referir à “mão de ferro” de Gilberto Kassab, presidente da legenda e secretário de Governo e Relações Institucionais da gestão Tarcísio de Freitas em São Paulo.
O PSD possui três ministérios no governo Lula e se posiciona a favor de projetos do governo em pautas na Câmara dos Deputados, o que já provocou atritos entre Bolsonaro e Kassab. Outro nome citado que pode vetar a candidatura à Presidência de Ratinho Junior é do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, do PSD de Minas Gerais, que se tornou um dos mais influentes do primeiro escalão no governo petista.
Assim, a saída para Ratinho Junior concorrer ao Palácio do Planalto pode ser uma troca partidária. “O problema é que os outros partidos já estão articulados com alinhamento entre a direção da sigla e o pré-candidato, como o Ronaldo Caiado, que tem o apoio do União Brasil”, disse o político que conversou com a Gazeta do Povo. “Com certeza, o assunto voltará a ser discutido entre o governador Ratinho Junior e o presidente Kassab após as eleições municipais deste ano”, completa.
Questionado sobre a troca de partido no programa Entrevista com D'Avila, da Jovem Pan, exibido no último dia 8, Ratinho Junior afirmou que deve optar pelo diálogo para convencimento do partido. “Eu prefiro gastar todas as minhas energias para convencer o PSD que isso é importante, caso for essa a minha decisão lá na frente. Estou muito bem no partido, que tem um ótimo quadro de deputados e uma bancada de senadores muito forte. Esse é um processo que vamos ter que discutir para ver quem terá a oportunidade de representar o partido. Quero preservar essa capacidade de poder dialogar e construir um projeto para o país”, respondeu ele então.
Além de tentar reverter na Justiça Eleitoral a inelegibilidade do ex-presidente, o PL conta com a filiação de Tarcísio de Freitas, que pode deixar o Republicanos e assumir o papel de candidato a presidente de Bolsonaro em 2026, o que deixaria o principal aliado de Ratinho Junior distante do palanque do governador paranaense.
Ratinho Junior precisa de visibilidade para além do Paraná
Em abril, a Genial/Quaest divulgou uma pesquisa para avaliar o potencial eleitoral dos governadores de direita que podem herdar o eleitorado do ex-presidente Jair Bolsonaro. Entre os mandatários dos quatro estados neste cenário, o governador Ratinho Junior aparece atrás de Tarcísio de Freitas, o mais conhecido fora do estado administrado. O conhecimento dos presidenciáveis Ronaldo Caiado e Romeu Zema também foi apurado pelo instituto de pesquisa.
O nível de conhecimento de Tarcísio além das divisas varia entre 50% e 54% nos estados de Paraná, Minas Gerais e Goiás; no entanto, ele aparece com o menor percentual entre os governadores no próprio estado: 88%. Neste ponto, Ratinho lidera com 98% dos entrevistados paranaenses que afirmam conhecer o governador, seguido de Caiado com 97% entre os goianos e Zema com 95% em Minas Gerais.
Nos outros estados, Ratinho Junior é conhecido por 54% dos entrevistados em São Paulo, 46% entre os mineiros e 45% pelo eleitorado goiano, índices externos melhores que de Caiado e Zema, segundo o levantamento da Genial/Quaest.
“Não chega a ser um desconhecimento, mas o pouco conhecimento no comparativo que a pesquisa faz com os nomes do presidente Lula, do ex-presidente Bolsonaro e de Michelle Bolsonaro, além de Fernando Haddad, que foi candidato a presidente. Eles possuem um índice de conhecimento menor, mas têm a vantagem da aprovação que não coloca uma candidatura presidencial na dianteira, se pensarmos no contingente populacional dos respectivos estados, diferente de São Paulo, no caso de um governo com alta aprovação”, analisa o cientista político e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa Insper Leandro Consentino, que ainda lembrou que o colégio eleitoral mineiro é um dos maiores do país e foi decisivo nas últimas eleições presidenciais.
Questionado sobre a possibilidade de voto nos nomes considerados como prováveis herdeiros do espólio bolsonarista na direita, o eleitorado paranaense totalizou 74% do total na afirmação de que pode optar por Ratinho Junior nas urnas. O governador do Paraná ficou atrás apenas de Caiado no estado de origem, que atingiu 78% na preferência do eleitorado local.
A possibilidade de voto em Zema e Tarcísio foi de 54% e 49% nos respectivos estados. Por outro lado, apenas Tarcísio ultrapassou a marca de 20% na preferência dos eleitores nos demais estados pesquisados. O melhor desempenho de Ratinho Junior foi no estado vizinho, com 19% de entrevistados paulistas que admitem a possibilidade de votar no governador paranaense. “Temos um quadro que indica para o pouco conhecimento desses possíveis candidatos fora dos estados deles com dificuldades de transpor a barreira estadual, mas dentro dos estados, Ratinho e Caiado possuem um desempenho bastante satisfatório”, comenta o cientista político.
“O Caiado já foi candidato a presidente e possui o apoio do agro, que é um importante player no Brasil e o Ratinho Junior tem uma máquina de mídia no Paraná, além do pai que é um apresentador famoso conhecido nacionalmente. Cada um deles tem um ativo importante. Na política, desses três ativos, o colégio eleitoral é o maior deles. Então, acho que o Zema tem mais chances, mas eu não descartaria a probabilidade de Ratinho e Caiado disputar as eleições de 2026 com candidaturas importantes”, acrescenta Consentino.
Partidos da base podem apostar em “convergência” por Ratinho Junior com PSD
Os partidos da base aliada da gestão Ratinho Junior apostam em uma “convergência” das siglas em apoio ao primeiro candidato a presidente proveniente do governo do Paraná. Entre as legendas que compõem a base governista no estado estão PL, PP, Podemos, Republicanos e Novo.
Um dos líderes partidários ouvidos pela Gazeta do Povo disse acreditar ser possível discutir com os diretórios nacionais o apoio ao nome de Ratinho Junior, que tem como característica o “diálogo para articulação política”. “Neste cenário, a composição poderia ser feita por meio da vaga de sucessor ao governo, vice e também com o apoio ao candidato a senador, pois uma das duas vagas em disputa em 2026 é dada como certa que será do Ratinho Junior, se ele optar pelo Senado”, avalia o integrante do primeiro escalão do governo do estado.
Para as eleições de 2024, o governador e presidente estadual do PSD no Paraná foi o responsável pelas principais articulações políticas para o pleito nas grandes cidades do estado. Para superar o cisma entre Bolsonaro e Kassab e manter a aliança de 2022 com o PL, Ratinho Junior se reuniu, pessoalmente, com o ex-presidente para a formação das coligações encabeçadas pela dupla PSD-PL.
Em Curitiba, o governador costurou a frente de partidos da base aliada em apoio ao vice-prefeito e ex-secretário estadual Eduardo Pimentel (PSD), candidato a prefeito ao lado do vice Paulo Martins (PL), ex-assessor do governador e aliado de Ratinho.
À Gazeta do Povo, o senador Oriovisto Guimarães (Podemos) adiantou que não deve concorrer à reeleição em 2026 após oito anos de mandato e que aposta no favoritismo de Ratinho Junior. Questionado sobre a possibilidade de o governador disputar a Presidência da República, ele avalia que a discussão ainda é “muito precoce”, mas que Ratinho Junior tem "perfil e juventude" para romper com a polarização política no mais alto cargo político do país.
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