Desde que o projeto de autoria do deputado federal paranaense Vermelho (PSD) sobre a reabertura da Estrada do Colono passou a tramitar em regime de urgência na Câmara dos Deputados, no começo de junho, voltaram à tona as discussões acerca deste trecho de 18 quilômetros da rodovia PR-495 e seus impactos no Parque Nacional do Iguaçu. A antiga estrada cortava 18 km de uma área de mata nativa entre os municípios de Serranópolis do Iguaçu e Capanema. A reportagem da Gazeta do Povo ouviu representantes de municípios da região e encontrou um pedido em comum: que o caminho só seja reaberto se os benefícios forem maiores do que os potenciais danos à fauna e flora locais.
Cadastre-se e receba as principais notícias do PR no celular
O hoje prefeito de Serranópolis do Iguaçu Ivo Roberti (PDT) era vereador quando houve o último fechamento da estrada, em 2001. Em entrevista por telefone, ele disse se lembrar do “baque” que foi a interrupção do tráfego pelo trecho. “Veio polícia, exército, tudo, só para fechar a estrada”, declarou.
Roberti admite que a reabertura da Estrada do Colono pode não ajudar a trazer novas indústrias para o município, uma demanda antiga dos cidadãos de Serranópolis do Iguaçu. Mas com uma estrutura realmente voltada ao turismo e à preservação da mata nativa, a estrada-parque pode trazer mais turistas e, como consequência, mais dinheiro para a região.
“Temos que lutar por essa reabertura, mas sempre com a consciência de que de modo algum isso traga qualquer dano ao parque. Seria bom se fosse uma estrada realmente turística, só para carros pequenos, para que pudesse ser visto o parque por dentro. Com essa estrada aberta de novo acredito que ganharemos com o turismo, atraindo novos visitantes para essa parte não muito visitada do parque”, disse.
O prefeito falou com uma certa nostalgia sobre o tempo em que a estrada entre Serranópolis do Iguaçu e Capanema seguia aberta. “O movimento que havia era muito grande, muita gente mesmo. Era muita gente que passava por ali”, pontuou. Em tom de brincadeira, lembrou-se de como o fechamento da Estrada do Colono acabou antecipando o casamento com a esposa.
“Ela morava do lado de lá do parque, em Pérola d’Oeste, bem na época do primeiro fechamento da estrada, no final da década de 1980. A gente estava a 70 quilômetros de distância, e com o fechamento do trecho a volta até chegar à cidade dela passou a ter quase 200 quilômetros de distância. Daí ficou muito longe, e de certa forma o fechamento da estrada acabou acelerando meu casamento”, afirmou.
Mudança de mentalidade: hoje haveria mais cuidado com a mata
A aposta de Antônio França (PP), prefeito de Medianeira, é que a mudança de mentalidade das pessoas ajude na preservação do Parque Nacional do Iguaçu, cortado pela Estrada do Colono. “A gente vê que as crianças que moram no entorno têm um extremo cuidado com a mata. Os ciclistas que trafegam pelas trilhas até Foz do Iguaçu o fazem de forma bastante cuidadosa, sem deixar nada de lixo no caminho. A mentalidade das pessoas mudou, e continua mudando. Há 20, 30 anos talvez essa ideia oferecesse grandes riscos para a preservação do parque. As pessoas agora têm muito mais cuidado e estão muito mais conscientes. Esse para mim é o fator mais importante”, avaliou.
França defende a reabertura da estrada, desde que haja um projeto estrutural focado na preservação da mata e dos animais. Ele pontua que a Estrada do Colono “é um trecho pequeno em extensão, mas grande em importância para a região”, e que além de ser um marco histórico pode ser uma boa solução para encurtar caminhos.
“Se for algo que realmente não agrida a natureza, o ganho será enorme para a nossa região. Pode-se fazer hoje estradas com condição de preservar a natureza, com uma integração entre humano e natureza, sem prejuízo. Mas tudo depende do projeto estrutural que será realizado. Conseguiríamos encurtar um caminho e promover o desenvolvimento de toda uma região lindeira ao parque. Ao mesmo tempo, poderíamos criar um programa de integração entre sociedade e a natureza”, explicou.
Projeto de reabertura da Estrada do Colono teria inconsistências
O projeto do deputado Vermelho não é o primeiro a pedir pela reabertura da Estrada do Colono, fechada em 1986 por decisão judicial já transitada em julgado no Superior Tribunal de Justiça (STJ) desde 2001. Há 11 anos outra iniciativa, proposta pelo então deputado federal Assis do Couto (PT), também demandava a volta do trânsito de carros e pessoas pela estrada. Na época, o projeto – que ainda aguarda por apreciação pelo Senado Federal – estabelecia uma série de critérios para acesso ao trecho, como a instalação de guaritas e controle de acesso de veículos.
Na avaliação de Vermelho, essas “exigências operacionais” não deveriam constar no projeto de lei, e sim no projeto de construção da Estrada do Colono. Como forma de “rediscutir” o que chamou de “inconsistências” no projeto de 2010, o deputado do PSD agora propõe que seja criada uma unidade de conservação, a estrada-parque – definida por Vermelho apenas como “uma via rural aberta à circulação pública” –, e que a Estrada do Colono receba esta nova classificação.
Para o vereador e presidente da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu, Ney Patrício (PSD), a falta de mais detalhes no projeto do deputado federal pode atrapalhar as discussões sobre a reabertura da Estrada do Colono. Ele também apontou uma série de questionamentos que precisam ser respondidos antes que a estrada seja novamente aberta ao tráfego de veículos e pessoas.
“A mim parece que o projeto só autoriza a reabertura, mas não traz um cronograma de instalação ou outras condições. Está muito cru, e isso acaba dificultando a análise e a discussão do projeto, assim como o convencimento de quem mora na região. Teria que ser algo autossustentável, realmente um atrativo turístico, com um controle de passagem. Esse é um fator importante para o desenvolvimento da região, porém tem que ter um equilíbrio. Quanto isso vai trazer de impacto no meio ambiente? O que isso vai trazer contra aquele espaço todo que hoje se encontra preservado? Como é que é esse plano de abertura? Como vai ser ordenado o trânsito? Vai ter barreiras e passagens de animais? Em que horários essa estrada vai estar aberta? Quem vai poder passar por lá? Quem vai fazer esse controle? Em que momento isso vai ser discutido? Só reabrir por reabrir, do jeito que está, eu sou contra”, declarou.
Para os críticos, qualquer benefício de uma eventual reabertura passa longe das dimensões do prejuízo à natureza, à imagem do Brasil e ao turismo em Foz do Iguaçu. "Imagine máquinas pesadas rasgando novamente uma antiga cicatriz na mata do Parque Nacional do Iguaçu (PNI) e derrubando milhares de árvores de uma floresta que está em risco de extinção, em um dos parques nacionais mais importantes do Brasil. Estas imagens correriam o mundo. Foz do Iguaçu é um dos mais visitados destinos turísticos do Brasil. O Parque Nacional do Iguaçu é designado Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco, que pediu ao Brasil garantias de que a Estrada do Colono não fosse reaberta, condição que causaria risco de perda do título", argumentaram recentemente em artigo de opinião na Gazeta do Povo Clóvis Borges, diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), Raby Khalil, presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente de Foz do Iguaçu, e Carmel Croukamp, diretora-geral do Parque das Aves.
Quando foi votado o pedido de trâmite em urgência do projeto, o deputado federal Gustavo Fruet reagiu: "É inacreditável, mas vão votar uma matéria que tem decisão judicial transitada em julgado na Justiça Federal. Pior. Justamente no momento em que o mundo questiona as políticas ambientais brasileiras". O requerimento de urgência acabou sendo aprovado com 315 votos a favor e 138 contra, no último dia 9.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Segurança pública: estados firmaram quase R$ 1 bi em contratos sem licitação
Franquia paranaense planeja faturar R$ 777 milhões em 2024
De café a salão de beleza, Curitiba se torna celeiro de franquias no Brasil
Eduardo Requião é alvo de operação por suspeita de fraudes em contratos da Portos do Paraná