Uma metodologia em fase de testes reduziu em 90% o índice de infestação de mosquitos Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya, em três bairros de Jacarezinho, município do Norte Pioneiro paranaense. Baseada na soltura de insetos machos estéreis, a técnica difere do que é feito em outras regiões do país por não utilizar mosquitos modificados geneticamente.
Para o estudo, foram realizados monitoramentos em três localidades da cidade selecionadas para a liberação dos insetos, chamados de bairros tratados, e em outros três em que não houve interferência, os bairros controle. Os bairros apresentavam Índice de Infestação Predial (porcentual de imóveis com larva do vetor) média acima de 15% antes do início do projeto.
A última liberação de insetos está prevista para a semana que vem, quando os pesquisadores completarão 31 solturas e aproximadamente 12,5 milhões mosquitos estéreis introduzidos no município. O monitoramento dos bairros será realizado até o fim de maio, quando o projeto piloto será considerado concluído.
Dois dos três bairros tratados – Aeroporto e Novo Aeroporto – chegaram ao nível zero no último Levantamento Rápido de Índices de Infestação do Aedes aegypti (LIRAa), divulgado no dia 10 de abril. Já na Vila Leão, onde também houve tratamento, o índice ficou em 2,4%. A média da cidade é atualmente de 7,8%, segundo a secretaria municipal de Jacarezinho. Índices acima de 4% são indicadores de risco de surto.
“Na área controle [Dom Pedro Filipack, Vila São Pedro e Vila Marta], os porcentuais continuam preocupantes, de até 18,5%”, diz a bióloga Lisiane de Castro Poncio, da Forrest Innovations, que coordena o projeto. Em relação às infecções, dados preliminares indicam que, no período, foram contabilizados mais de 40 casos de dengue em moradores dos bairros controle, enquanto a área tratada registrou apenas três ocorrências. “Em conversa com a população, concluímos ainda que os pacientes não contraíram a doença nos bairros tratados.”
Aedes albopictus
A equipe também levou em consideração a possibilidade de que a liberação de milhões de insetos provocasse algum tipo de desequilíbrio ecológico. “Identificamos na região outro mosquito, o Aedes albopictus, que compartilha nicho com o A. aegypti”, conta Lisiane. Com a redução da população de uma espécie, há risco de outra crescer e ocupar seu nicho. “Mas monitoramos também essa população e não houve alteração”, diz a bióloga.
Com pouco mais de 40 mil habitantes, a cidade de Jacarezinho foi escolhida para a ação por ser uma das que historicamente apresenta o mais alto risco de surto de dengue, zika e chikungunya no Brasil. O projeto teve início em maio de 2017, quando os pesquisadores iniciaram a coleta de ovos do mosquito na cidade. No laboratório da Forrest Innovations em Araucária, na região metropolitana de Curitiba, foram selecionados e multiplicados ovos livres de patógenos.
A esterilização dos indivíduos ocorre na fase de larva, quando o inseto recebe um RNA de interferência (RNAi) que inibe a expressão de genes responsáveis pelo desenvolvimento do sistema reprodutivo. Como não há alteração diretamente no DNA, o indivíduo não é considerado transgênico.
Além da Forrest Innovations, participaram do trabalho o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) e a prefeitura de Jacarezinho. O projeto envolveu ainda ações de educação e conscientização de moradores sobre os riscos de manter criadouros do vetor de dengue, zika e chikungunya.
Dengue no Paraná
A Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) divulgou nesta semana informe técnico sobre a situação da dengue no Paraná, com dados referentes ao período de 29 de julho de 2018 a 13 de abril de 2019. Nessa janela, foram registrados até o momento cinco mortes em decorrência da doença, sendo quatro delas em Londrina, no Norte do estado, e outra em Cascavel, na região Oeste. O levantamento revela ainda que houve 561 novos casos na última semana. No total, são 3.114 casos confirmados desde julho do ano passado.
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