Oeste do Paraná quer ser referência mundial na produção de proteína animal.| Foto: Jonathan Campos/Agência de Notícias do Paraná
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Próxima da tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, a região oeste paranaense está se organizando para, em até 20 anos, se tornar a maior produtora de proteína animal do mundo. A estratégia está sendo traçada por líderes empresariais que, organizados em um modelo de articulação, têm evidenciado características e atividades desenvolvidas naquele território, colocando-o na vanguarda do segmento no país.

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A região responde por mais da metade da produção avícola e da suinocultura do Paraná, fomentada pelas fortes e bilionárias cooperativas do agro. É a partir delas que se planeja alcançar a liderança mundial. Cinco das dez maiores do segmento no Brasil e que figuram entre as 100 maiores cooperativas agrícolas do mundo estão na região.

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“O Paraná é uma potência na produção de proteína animal, que é a transformação e agregação de valor da soja, do milho. Queremos em, no máximo 20 anos, sermos reconhecidos como os maiores produtores de proteína animal do mundo”, estabeleceu o presidente do Programa Oeste em Desenvolvimento (POD), o industrial Rainer Zielasko.

O estado tem o maior plantel de aves do Brasil, com 428,5 milhões de cabeças. É o terceiro em produção de suínos, com 6,7 milhões de animais. Na piscicultura, o Paraná também é uma potência e se tornou o maior produtor de tilápias do país. A produção de peixes alcança 167,3 mil toneladas ao ano e são 400 milhões de alevinos. “Temos muito a crescer. Temos área, capacidade de crescimento sustentável e espaço de mercado para esse avanço. E existe um planejamento para que isso ocorra”, destacou Zielasko.

O POD, que acaba de completar 10 anos, está entre os principais modelos de articulação regional do país, tendo metodologia vem replicada Brasil afora.

A articulação foi estruturada a partir de experiências bem sucedidas internacionalmente, com a premissa de que “regiões unidas tendem a vencer e superar crises com mais facilidade”.

“E tem dado certo, no oeste (do Paraná) isso tem acontecido. Crescemos na casa dos dois dígitos por ano. Estamos entre as regiões que mais crescem no Brasil, com geração de emprego, renda e desenvolvimento consolidado”, completou o industrial, sobre a região que pretende ser a maior produtora de carne do mundo.

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O preço do crescimento: “precisamos de trabalhadores com urgência”

O crescimento regional pelo qual o oeste do Paraná passa tem seu preço. A evolução enfrenta percalços envolvendo a falta de mão de obra. São cerca de 12 mil vagas abertas que não conseguem ser preenchidas. “No POD agimos em parceria com as instituições de ensino, com o segmento industrial, com o poder público, pensando e propondo ações para promover esse preenchimento de vagas sem provocar um caos social. É um dos nossos maiores desafios: atrair profissionais sem colapsar os municípios. Essa necessidade de novos trabalhadores deve ampliar nos próximos anos com as nossas expectativas de crescimento”, lembrou Zielasko.

Os 50 municípios da região - quase todos vocacionados ao agro e com 47 deles com menos de 100 mil habitantes - registram um Produto Interno Bruto (PIB) que ultrapassa os R$ 100 bilhões. O que se almeja é muito mais.

“O POD reúne os mais diversos segmentos para pensarem juntos nas soluções dos problemas. São setores que se organizam para reivindicar políticas públicas, investimentos. Não temos poder deliberativo, mas juntos somos mais fortes e chegamos mais longe porque uma demanda regional, quando defendida pela coletividade, tem mais chances de sair do papel e isso interfere diretamente no crescimento”, avaliou o industrial.

No início do ano, antes da escalada do conflito no Oriente Médio, uma comitiva ligada ao programa esteve em Israel. “Israel tem o mesmo tamanho do oeste do Paraná, metade é deserto e o PIB deles é 33 vezes maior que o nosso. Ou seja, podemos fazer muito mais e para isso contamos com polos importantes de inovação e tecnologia ligados ao POD, com reconhecimento nacional e internacional. Conciliado a essa troca de experiências com outros países e outros modelos de iniciativas regionais, temos crescido de forma exemplar”.

Logística, infraestrutura e o desafio de convencer o poder público

Na conta dos desafios regionais também estão listados entraves logísticos, ambientais e de infraestrutura. A região está no extremo oposto do Porto de Paranaguá. São cerca de 700 quilômetros de distância entre a produção do oeste paranaense e o principal canal de exportação do estado e o segundo maior do país.

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Com as novas concessões rodoviárias do Paraná, o segmento vislumbra a duplicação completa da principal rodovia de escoamento produtivo do estado, a BR-277, de Foz do Iguaçu até o porto. “Precisamos de soluções importantes para a trafegabilidade. Obras, duplicações de rodovias, ferrovias”, destacou o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Edson Vasconcellos.

Para além das estradas, a expectativa está na Nova Ferroeste, iniciativa que promete revolucionar a estrutura ferroviária paranaense que segue em fase de gestação pela administração estadual. O projeto está interligado a outra proposta, a do corredor ferroviário bioceânico ligando Paranaguá a Antofagasta, no Chile. A promessa é de encurtar caminhos, diminuindo custos e tornando a região oeste paranaense mais competitiva no mercado internacional.

Produtos do oeste paranaense, principalmente proteínas, têm como destino mais de uma centena de países.

O avanço almejado pela região, e que caminha a passos largos à consolidação, conta com a participação direta das cooperativas. Somente as maiores instaladas por lá – Lar, Copacol, C.Vale, Frimesa e Coopavel - têm faturamento bruto anual de R$ 65 bilhões e crescem acima dos 10% ao ano. Este segmento agroindustrial conta com o apoio da recém-empossada diretoria da Fiep.

O novo presidente, Edson Vasconcellos, tem como proposta percorrer o estado para despertar vocações industriais. Ele quer sensibilizar gestores municipais a pensarem políticas industriais, para o fomento de parques produtivos, além de medidas que estimulem a permanência das indústrias nas cidades, no que chama de “solução de gargalos”.

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Vasconcellos pretende trabalhar para um ambiente atrativo a novas plantas no estado. “E isso vale para o oeste, que tem uma vocação agro consolidada e um trabalho bem desenvolvido, estruturado e de referência. Não sou do segmento agro, mas quero que o setor avance porque fomenta toda a economia. Estamos em um estado com vocação ao agronegócio”, considerou.

Para o presidente da Fiep, essa referência passa obrigatoriamente pela conscientização de toda a cadeia, sobretudo do poder público. “Se um supermercado fechar na cidade, certamente outro virá, mas se uma Frimesa (com sede em Medianeira. no oeste paranaense) fechar as portas, dificilmente outra virá para se instalar no local”, completou.

Suinocultura está entre as principais metas de crescimento

A Frimesa é o quarto maior player do mercado suíno do Brasil. Emprega 9 mil pessoas, tem mais de 2 mil cooperados e fechou 2022 com faturamento bruto de R$ 5,6 bilhões. E a empresa mira em ampliar sua fatia no mercado. Para isso, inaugurou uma nova planta industrial no município de Assis Chateaubriand (PR), para se tornar o maior frigorífico da América Latina em abate de suínos.

O pleno funcionamento do espaço é planejado para o fim desta década, com capacidade para abate de 15 mil animais por dia. Por enquanto, a produção gira em torno de 3 mil suínos/dia, com expectativa de chegar a 5 mil/suínos dia até dezembro. Por lá, o desafio também passa pela falta de gente para trabalhar.

De acordo com o CEO da cooperativa, Elias Zydek, a Frimesa quer chegar a mercados que até poucos anos estavam travados para as proteínas brasileiras. O motivo era a condição de área livre de aftosa, mas com vacinação.

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Foi do POD a mobilização estadual, nacional e internacional que resultou, em 2020, no Paraná área livre da doença sem vacinação. “Antes atingíamos 40% do mercado, hoje alcançamos 100% e estamos abrindo caminho para importantes compradores como Japão e Coreia do Sul”, destacou. Zydek está na direção do POD, no Conselho Regional de Sanidade Animal, e teve papel fundamental neste processo.

Para Ocepar, oeste do Paraná precisa vencer limitações para se tornar a maior região produtora de carne

O presidente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), José Roberto Ricken, reconhece a potência do oeste paranaense na produção de proteínas, mas lembra que a intenção de liderança audaciosa - como maior região produtora de carne - precisa vencer limitações.

“Em alguns municípios temos dificuldades para autorização de outorga de uso de água. Existem pandemias no setor pecuário, talvez não dê para concentrar tudo (a produção) numa única região, mas o oeste já representa a maior parte da produção de proteína animal do Paraná”, acentuou.

Para Ricken, o setor de suínos é o que terá condições de avançar mais nos próximos anos, focado na abertura de novos mercados. Do total da produção estadual do segmento, 56% estão concentrados nas cooperativas e, dessa fatia, 32% no oeste. Na avicultura, 44% da produção do Paraná estão nas mãos das cooperativas e, sozinho, o oeste responde por 40% dos plantéis e abates

Quando o assunto são os peixes, as cooperativas recebem 30% da produção paranaense e 28% estão na região. “Dizer que será a maior do mundo é um desejo, não sei como está sendo avaliado isso, mas existem muitas limitações a serem vencidas”, registrou.

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Das 140 cooperativas agroindustriais paranaenses, 80 são de produção animal e 60 de produção vegetal (soja, milho, trigo e outros cereais). A maior parte das indústrias do Paraná está focada em produtos de origem animal.

O setor cooperativista do estado tem 11 plantas voltadas ao abate de frangos, das quais oito estão no oeste. Das cinco designadas à suinocultura, quatro estão na região. “A suinocultura tem muito para avançar no Paraná e a região oeste vem se destacando. Isso é (reflexo) do investimento que foi feito pelo segmento cooperativista, ou seja, potencial tem, mas acreditamos que seja preciso distribuir melhor entre os municípios a produção observando a sustentabilidade e a segurança fitossanitária adequada”, seguiu. Para Ricken, a tendência é que a produção se estenda ao sudoeste, noroeste e região central do estado.

Produtor descapitalizado e falta de recursos para investimentos

Na ponta e na avaliação do produtor, que é quem aloja, alimenta e prepara os animais para o abate, o entrave se chama descapitalização. Na avaliação da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep/Senar), os produtores paranaenses têm produzido mais e melhor graças às tecnologias e investimentos, mas a grande limitação está na descapitalização de todas as cadeias produtivas diante de custos de produção elevados e, recentemente, com preços mais baixos das commodities e da produção de origem animal.

O cenário ainda é limitado diante da falta de crédito e juros elevados para investimentos. Para a Faep, isso tem afetado o acesso ao crédito para a construção de novas granjas, aviários e açudes. O órgão defende melhor estruturação macro e micro da economia que possibilite avanços no segmento que é o mais importante à economia do estado. O Paraná é o segundo maior produtor agrícola do país.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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