A região que quer se tornar celeiro de cafés especiais

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Se não é possível ganhar em quantidade, o Paraná aposta em obter visibilidade na qualidade do café. O estado perde para Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Bahia e Rondônia na produção do produto, mas concentra regiões que giram em torno da cultura cafeeira. E é nessa toada que o norte pioneiro paranaense quer se firmar como celeiro de cafés especiais. A doçura e o sabor de fruta são algumas das características do produto paranaense que tem chamado a atenção do consumidor e das cafeterias.

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O Paraná já foi o maior produtor de café do país. Um evento climático de impacto, a geada de 1975, ainda hoje relembrada de forma muito vívida por lá, fez com que muitos produtores perdessem a produção, deixando de lado a cultura cafeeira e se dedicando a outras culturas. Além disso, as geadas e, em outros momentos, a seca, inviabilizam para a produção alavancar como antigamente.

Apesar disso, uma parcela dos produtores não desistiu da cafeicultura, tendo descoberto formas de valorizar mais o produto. Uma das estratégias foi, então, investir nos cafés especiais. O café especial exige uma colheita diferenciada, muitas vezes feita à mão. O cuidado na separação e na armazenagem dos grãos são outros diferenciais para a valorização e, também, para o aumento da lucratividade dos fazendeiros.

Localizada Em Santa Mariana (PR), a Fazenda Palmeira é um exemplo de negócio que resolveu investir nos cafés especiais. A fazenda é uma das mais antigas na região, administrada por Cornélia Gamerschlag. Ela é responsável por tomar conta da produção pela terceira geração da família. No ano de 1922, o avô de Cornélia largou a indústria de tecelagem na Suíça para se aventurar nas terras do interior de São Paulo. Depois de 20 anos, ouvir falar das terras férteis do Paraná e resolveu adquirir uma propriedade por lá.

“Meu pai e meu tio foram os herdeiros. Em 1971, eles dividiram a terra. Fazenda Palmeira ficou para o meu pai. Hoje, eu e meu marido somos a terceira geração [a administrar a fazenda]. Sempre continuamos com o café, passou muito mudança, mas continuamos”, relata Cornélia. A Fazenda Palmeira tem 1.260 hectares, com destino de 180 hectares para o plantio de café. Mais de 20% são dedicados à reserva ambiental, além de o terreno se dedicar ao plantio de trigo, milho, aveia, abacate e gado.

A iniciativa de produzir cafés especiais começou há 10 anos, quando os preços dos grãos estavam ruins. “Precisávamos nos posicionar, parar e partir para milho ou soja porque é mais fácil e mecanizado. Os vizinhos fizeram isso, mas gostamos muito de café, há um vínculo histórico, [a gente se] sente responsável pela geração de empregos, temos bastantes funcionários na fazenda”, diz a fazendeira.

A valorização desse tipo de grão destinado aos cafés especiais veio depois, mas Cornélia se alegra de ter começado o processo antes do reconhecimento. “Mudamos a lavoura, o maquinário, o nosso cuidado não era tanto com o café e precisamos aprender de novo”.

Hoje, a Fazenda Palmeira produz, em média, 4 mil sacas por ano (cada saca tem 60 quilos), das quais de 15% a 20% é de café especial. “O café especial tem um cuidado no terreiro, no armazenamento, não precisa esconder nada, porque, em uma torra média, consegue valorizar todos os aromas do café. Por isso, é mais saboroso e a torra não mata o café”, afirma Cornélia.

Para produtora, brasileiro começou a valorizar cafés especiais 

Há seis anos, Cornélia Gamerschlag conta que buscava cafeterias e contatos do exterior para a exportação de cafés especiais. "Antes, a gente falava 'o café bom vai para fora e o ruim fica aqui'. Mas hoje não está sendo assim".

Segundo a fazendeira, o brasileiro começou a enxergar o potencial dos grãos diferenciados. A Fazenda Palmeira já não está dando conta de atender a demanda nacional e, por isso, não consegue exportar. “Graças a cafeterias que estão abrindo no Brasil, que são exigentes. E há um vínculo com a cafeteria que compra o seu café. Para nós, é uma satisfação imensa vender tudo no Brasil”, ressalta.

Paraná deve colher 690 mil sacas de café em 2023 

Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab), o Paraná deve colher 41,4 mil toneladas de café, o equivalente a 690 mil sacas, neste ano. O volume é 42% superior na comparação com o ciclo anterior, que foi de 29,2 mil toneladas.

“Tivemos um ano com poucas geadas, quase 91% das lavouras em boas condições e pouco café em más condições. A lucratividade vai ser boa”, afirma Bruno Vizioli, do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema Faep/Senar. O sistema Faep/Senar é composto pela Federação da Agricultura do Estado do Paraná, pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Paraná e por sindicatos rurais.

Vizioli destaca que o Paraná produz majoritariamente café arábica e um pouco de café conilon. “Isso é importante, porque o café arábica tem uma qualidade superior, tem melhor preço de mercado e é mais valorizado. Acabamos apostando mais nesse café”, diz ele.

De acordo com o técnico, o principal entrave para o café paranaense alavancar é o clima, que dificulta aumentar a produção. Além da mão de obra, que é manual. “Não é a principal produção do estado, mas há cidades que dependem muito da produção”, afirma. No norte pioneiro é concentrado em torno de 95% da produção de café, com destaque para os municípios de Santo Antônio da Platina, Pinhalão, Santa Mariana, Carlópolis e Londrina. “Não incentivar o café é não incentivar o crescimento dessas cidades”, evidencia Vizioli.

Doçura do café paranaense atrai consumidores  

Com o objetivo de ganhar em qualidade, o investimento ao café especial do Paraná é mais alto, mas o lucro também. “Tem incentivo e um plano estadual de cafeicultura que está em implantação visando produzir mais cafés especiais. O produtor vai se dedicar à atividade e vai ter maior lucratividade. Consegue agregar valor a qualidade do produto”, acrescenta Vizioli.

A proprietária da Fazenda Palmeira atesta que o café paranaense não perde para o sabor dos famosos grãos mineiros. “Eu ouço de pessoas que provam de vários estados, todos falam que a doçura e o sabor de fruta são muito presentes no café paranaense. Há cafés no sul de Minas que têm uma acidez mais forte”, diz Cornélia. Por conta dessa doçura, muitas cafeterias buscam os grãos para fazer o tipo de café expresso. “O expresso é concentrado, se a acidez é muito forte fica mais difícil”, afirma Cornélia.

Para incentivar os produtores rurais a produzirem cafés especiais, o Sistema Faep/Senar-PR tem cursos de capacitação para que o produtor conheça mais sobre a área e comece a investir na propriedade.

Café estimula o turismo no norte pioneiro do Paraná  

A Rota do Café é um roteiro turístico que busca resgatar a cultura cafeeira e histórica do Paraná. O projeto começou em 2009, em parceria com o Sebrae-PR. Em 2016, se tornou uma associação.

O roteiro turístico acontece uma vez ao mês, em grupo, e percorre oito municípios do norte do Paraná: Londrina, Ibiporã, Rolândia, Mandaguari, Sapopema, Santa Mariana, Cornélio Procópio e Ribeirão Claro.

Fernanda Correa, presidente da Rota do Café, diz que a iniciativa tem a proposta de ensinar o turista a tomar um bom café. “É uma imersão no mundo dos cafés especiais, tem foco na experiência do pé (de café) à xícara. Acabam conhecendo os processos do café, conhecendo as fazendas produtivas”, diz. A expectativa é ter mais roteiros para que a Rota do Café no Paraná seja mais reconhecida. A Rota do Café tem um site com mais informações sobre o turismo no norte paranaense.