Pode parecer mais um simples acordo de mercado, mas a negociação com Israel para a exportação de carne de frango se revelou um processo bastante complexo, por razões que vão das condições sanitárias a aspectos religiosos. Vencendo todas as etapas, o Brasil se tornou o primeiro país a ter o direito de exportar o produto para aquele país. Na esteira da autorização, o estado do Paraná se apresenta como protagonista na produção e na exportação da nova aquisição do país representante do Oriente Médio.
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Responsável por 35% da produção e 42% da exportação de carne de frango no país, o Paraná tem muito a comemorar, de acordo com o diretor de Mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Luis Ruas. Segundo ele, Israel deve chegar a 700 mil toneladas de frango consumidos anualmente até 2026, grande parte proveniente do Brasil. “No Paraná existem várias empresas com mais de uma unidade produtiva e, obviamente, o estado pode tirar vantagem disso economicamente. Israel consome e paga muito alto pelo peito de frango e pelo shawarma e o Paraná, com a exímia participação em produzir e exportar, tem tudo para garantir grandes vantagens com esse acordo”, explicou.
Ruas alerta, ainda, para outro fator que deve contribuir para a expansão da carne de frango brasileira mundo afora e garantir a confiabilidade do produto. “Vamos ultrapassar qualquer limite geográfico. Israel possui características peculiares, em especial, quando o assunto é o processo de produção e a preparação dos alimentos. Estamos alcançando um parceiro muito importante para o setor produtivo brasileiro”, avalia Ruas.
Método “kosher” e condições sanitárias
Para garantir os preceitos do judaísmo, os exportadores brasileiros deverão seguir o método “kosher”. O frango kosher é processado de acordo com as leis judaicas, que proíbe o consumo de sangue de um animal abatido e exige que o sangue da galinha seja completamente extraído do animal morto por salmoura da carcaça. O sal deve ser aplicado na carne de um frango dentro de 72 horas após o abate.
Segundo Ruas, os complexos e demorados acordos de exportação, neste caso, foram ainda mais sinuosos, diante das exigências religiosas e sanitárias de Israel. Por outro lado, a efetivação se torna um marco para o Brasil. “O fato de o Brasil ganhar esse direito é algo especial. Israel, além dos requisitos sanitários extremamente exigentes, tem a questão da forma de abate. Nosso país exporta para Japão, China e União Europeia, todos muito conhecidos pela exigência e confiabilidade. O Brasil acessando essa quantidade de mercados e sendo o maior exportador mundial, com a expectativa de passar a barreira de 5 milhões de toneladas exportadas, mostra a confiança sanitária e religiosa para o mundo”, considera Ruas.
Brasil reforça medidas de prevenção da influenza aviária
No entendimento de Fábio Mezzadri, do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema Faep/Senar-PR (composto pela Federação da Agricultura do Estado do Paraná, pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Paraná e por sindicatos rurais), o cuidado do Brasil na prevenção de doenças, como a influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP), eleva o padrão de confiabilidade perante os interessados.
“O Brasil possui um plano de vigilância muito rigoroso, que abarca aves comerciais e de subsistência. Esse cuidado redobrado coloca o país em um patamar acima de qualquer suspeita no cenário mundial. Não à toa, exportamos para 153 países, com diferentes acordos e metodologias”, diz Mezzadri.
A influenza aviária é uma doença de distribuição mundial, com ciclos pandêmicos ao longo dos anos, e com graves consequências ao comércio internacional de produtos avícolas. No dia 15 de maio foi detectada pela primeira vez em território nacional, diagnosticada em aves silvestres. Apesar disso, não chegou a comprometer a condição do Brasil como país livre de IAAP para o comércio.
No caso de Israel, além de o Brasil garantir a entrega que contemplará a vigilância permanente da doença, por parte dos serviços veterinários oficiais, estará diante de um comprador que baseia o consumo de carne frango em torno de 42 quilos por pessoa, ao ano. “O Brasil entra em um mercado que tem uma das maiores taxas anuais de consumo. É, simplesmente, a proteína animal mais utilizada em Israel. Com isso, devemos superar, em 2023, o marco de 5 milhões de toneladas de frango exportadas para todo o mundo, pela primeira vez na história”, pontua Mezzadri.
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