Usina solar flutuante será implantada pela Itaipu no lado paraguaio da usina, que fica na divisa entre aquele país e o Brasil.
Usina solar flutuante será implantada pela Itaipu no lado paraguaio da usina, que fica na divisa entre aquele país e o Brasil.| Foto: Edino Krug/Itaipu Binacional
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Com projeção de atingir 400 GW (gigawatt) até 2030, o mercado global de usinas solares flutuantes terá, entre as inovações previstas para o período, um investimento considerado experimental dentro da usina hidrelétrica de Itaipu, localizada na fronteira entre o Brasil e o Paraguai.

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Do lado paraguaio do reservatório de Itaipu, nos próximos meses um consórcio binacional vai instalar um sistema solar flutuante com potência de 1 MWp (Megawatt-pico). A energia gerada será utilizada para consumo interno da própria Itaipu e equivale ao abstecimento de até aproximadamente 1 mil casas por mês, considerando o consumo médio residencial brasileiro de 150 kWh em 30 dias. Também é quantidade que poderia alimentar aproximadamente 20 mil lâmpadas LED.

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O investimento é estimado em US$ 854,5 mil. A opção aquática pode render maior eficiência em comparação aos painéis terrestres, devido o efeito de temperatura. Com a proximidade da água, as placas fotovoltaicas atingem temperaturas menores que as instaladas em solo, gerando um ganho de 0,4% de potência por grau Celsius, benefício que pode ser significativo a longo prazo.

“É uma tecnologia inovadora e que tem aplicações específicas. O valor de instalação em terra é relativamente barato em comparação aos custos de instalação e manutenção da tecnologia flutuante. Em uma represa para captação de água, o custo pode ser maior, pela necessidade de fixação e a manutenção, mas diminui muito a evaporação, o que já é um case de sucesso”, afirma a coordenadora da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica no Paraná, Liciany Ribeiro.

O objetivo é desenvolver análises de comparação entre a usina flutuante e outras usinas solares em solo e de possíveis impactos ambientais da planta fotovoltaica do reservatório. As análises podem confirmar os benefícios ambientais esperados com o projeto.

Estudos internacionais apontam que os módulos aquáticos colaboram na redução da evaporação do reservatório e na mitigação da formação de algas. Também há a hipótese de que, ao refletir a luz solar, a água possa aumentar a captação de energia dos painéis solares, o que geraria um maior rendimento.

Os módulos das placas flutuantes custam 10 centavos de dólar por watt, mas existem alguns desafios técnicos, como garantir estabilidade dos flutuadores, que estão sujeitos ao ventos, ondas e variação de nível dos reservatórios.

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Geração de energia a partir da usina flutuante de Itaipu deve funcionar em 2026

A instalação da usina flutuante em Itaipu será feita pelo consórcio formado pelas empresas Sunlution (Brasil) e Luxacril (Paraguai), vencedoras da licitação, iniciada no ano passado. O valor do contrato, que deve ser assinado no começo de março, é de US$ 854,5 mil, 11,72% a menos do valor previsto no edital.

Seis consórcios participaram do processo, dos quais quatro foram inabilitados por problemas de documentação. O prazo para a execução é de 330 dias.

A instalação deve durar 150 dias, entre a entrega do projeto de engenharia e equipamentos, construção, montagem e comissionamento. Depois disso, há um prazo de 180 dias, para assistência técnica, treinamento e aceitação final do produto.

As placas fotovoltaicas serão instaladas em uma área inferior a um hectare.| Foto: William Brisida/Itaipu Binacional

As placas fotovoltaicas serão instaladas no lado paraguaio do reservatório, em uma área inferior a um hectare. Na usina solar flutuante de Itaipu, a energia gerada deve ficar entre 1,8 mil MWh e 2 mil MWh, e vai atender parcialmente o consumo interno da própria usina.

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No caso de sistemas fotovoltaicos, a produção depende da radiação solar. Considerado um fator de capacidade de 18% a 25% (típico para usinas solares), um sistema de 1 MWp pode gerar cerca de 5 MWh em um dia ensolarado, conforme informação da Itaipu.

“Temos trabalhado de forma conjunta com os colegas da Assessoria de Energias Renováveis da margem direita (do reservatório - lado paraguaio), visando superar os desafios e garantir a implementação adequada da usina solar flutuante, dado o caráter inovador e disruptivo desse projeto”, afirmou o superintendente da Assessoria de Energias Renováveis da Itaipu, Rogério Meneghetti.

Setor de energia solar atraiu cerca de R$ 55 bi no país

Um estudo realizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) mostra que a instalação de usinas solares flutuantes, em apenas 1% dos corpos d’água, de represas artificiais, permitiria ao Brasil gerar energia elétrica limpa e renovável suficiente para atender 16% do consumo de eletricidade do país.

Países como Holanda, EUA, Japão, China e Reino Unido são destaques na utilização do recurso. Um artigo da revista Nature Sustainability apontou que, se 30% dos mais de 100 mil reservatórios globais fossem cobertos por usinas solares flutuantes, a geração anual de energia elétrica poderia chegar a 9.500 terawatts-hora (TWh) – cerca de um terço da produção global.

Entre os projetos em expansão por aqui está a Usina Fotovoltaica Flutuante (UFF) Araucária, em São Paulo, cuja perspectiva é de estar totalmente operacional até o final de 2025, com uma produção anual de 10 GWh. E o setor como um todo está crescendo.

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Um levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) indicou que, em 2024, o setor solar fotovoltaico atraiu mais de R$ 54,9 bilhões em novos investimentos no país, somando as grandes usinas e os sistemas de geração própria em telhados, fachadas e pequenos terrenos - crescimento de 30% em relação ao ano anterior.

Desde 2012, o setor atraiu mais de R$ 239 bilhões em investimentos totais. Foram 429 mil empregos gerados no ano passado, segundo a associação. São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso são os cinco estados com maior fluxo de geração de energia distribuída (GD), aquela produzida pelos próprios consumidores, com potência de geração em até cinco megawatts, com as placas instaladas em terrenos, telhados ou até espelhos de água:

  • São Paulo – 5.069,7 MW
  • Minas Gerais – 4.417,9 MW
  • Rio Grande do Sul – 3.167,2 MW
  • Paraná – 3.131,2 MW
  • Mato Grosso – 2.265,6 MW

Já a geração centralizada envolve a instalação de grandes usinas fotovoltaicas, com produção acima de cinco megawatts, conectadas no sistema nacional. Nesse modelo, Minas Gerais desponta com folga, seguida da Bahia, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, conforme a Absolar a partir de dados compilados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel):

  • Minas Gerais – 6.904,9 geração centralizada – potência instalada MW
  • Bahia – 2.403,7 MW
  • Piauí – 2.097,9 MW
  • Ceará – 1.256,2 MW
  • Rio Grande do Norte – 1.230 MW
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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]