Teste de coronavírus.| Foto: AFP
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Um dos principais itens para se avaliar a evolução da curva da pandemia do coronavírus em uma determinada localidade é a taxa de retransmissão do vírus (Rt). Ela mede quantos novos casos um caso ativo está gerando e indica o fator multiplicador no número de casos e, consequentemente, no de mortos pela Covid-19.

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Um fator Rt igual a 1, indica que cada pessoa infectada está originando um novo caso, mantendo estável o número de novos casos diários. O Rt superior a 1, significa aumento do número de novos casos - ou seja, intensificação da pandemia; abaixo de 1 representa diminuição de contágio e, consequentemente, redução da crise epidemiológica.

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Depois de chegar  a 1,6 em seu índice, o Paraná conseguiu, pela primeira vez, desde maio, baixar de 1, no dia 20 de junho, registrando 0,95. Mas o índice voltou a subir e, na última segunda-feira, atingiu 1,16, segundo cálculos de professores do departamento de Estatística da Universidade Federal do Paraná, em parceria com a epidemiologia do Hospital e Clínicas.

O estudo utiliza duas diferentes fórmulas para medir a transmissibilidade do vírus: baseado no número oficial de casos divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde e projetado a partir do número de óbitos confirmados. Na primeira forma de medição, a redução dos novos casos registrada recentemente, principalmente no final de semana e na última segunda-feira, fez o índice atingir 0,98 justamente na segunda-feira, dia 27.

Os professores, no entanto, destacam que o dado baseado em óbitos é mais confiável, por estar menos suscetível a variações como o número de testes aplicados diariamente. Com base nos óbitos, o estado teve Rt de 1,63 em 16 de junho, exatamente naquela semana em que Conselho Regional de Medicina e Sociedade Brasileira de Infectologia alertaram como sendo a semana mais crítica da pandemia no estado. A situação levou Curitiba à bandeira laranja e, depois, o estado a decretar quarentena restritiva de 14 dias em sete regionais.

O índice foi sendo reduzido. O pico de julho foi de 1,35, no dia 8, e chegou ao 0,95, no dia 20. Agora, em oscilação para cima, a taxa de retransmissão está em 1,16, o que indica que a cada 100 casos ativos, outras 116 pessoas estão sendo contaminadas. “Um índice de 1,01 já indica que o número de casos e, consequentemente, de mortes, segue crescendo. Reduzir esse Rt é fundamental para desacelerar o crescimento da curva, mas seguimos em crescimento e, com crescimento, caminhamos para a situação de colapso”, comenta o infectologista Bernardo Montesanti Machado de Almeida, membro da equipe da UFPR.

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A comparação da transmissibilidade do vírus com as demais regiões do Brasil também indica por que o Paraná é um dos estados que mais preocupa no momento. Somente Mato Grosso do Sul (1,32), Rondônia (1,24), Distrito Federal (1,19) e Santa Catarina (1,19) têm Rt maiores que o do Paraná. A média nacional, no momento, é de 0,99 o que se confirma com a estabilidade no número diário de novas mortes por Covid-19 no país.

Paraná é o estado que dobrou mais rapidamente o número de casos

A situação do Paraná como um dos principais focos de crescimento da pandemia do coronavírus no Brasil no momento fica clara, também, nas análises da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O portal de monitoramento da Covid-19 da Fundação mostra que o Paraná foi o estado que levou menos tempo para a duplicar os casos pela última vez. Segundo os dados da Fiocruz, o estado tinha há apenas 13 dias, metade do número de casos que tem hoje, reflexo direto da alta transmissibilidade do coronavírus no estado. Curitiba também é destaque negativo nesta comparação, sendo a capital que duplicou mais rapidamente seus casos pela última vez (14 dias). A capital paranaense ainda é a quinta que dobrou mais rapidamente o número de óbitos pela última vez (também 14 dias).

“Continuamos mal na transmissibilidade. Apesar de termos estabilizado, o Rt de 1 vai manter o panorama atual. E o panorama atual não é confortável. É um panorama limítrofe. Qualquer excepcionalidade que levar a um aumento do Rt pode levar ao colapso. E tudo isso num contexto de cansaço da população, não tolerância às medidas de isolamento”, avalia o médico. “Ter atingido o R de 1 é resultado das medidas mais fortes que foram tomadas há algumas semanas, mas também é um dado preocupante porque já houve retrocesso destas medidas e isso pode trazer aumento novamente nos próximos dias”, acrescenta.

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