Espaço interno do Cessna 208 Grand Caravan| Foto: Alexandro Kurovski

A oferta de voos regionais comerciais, em aviões bem menores, tem se espalhado pelo Brasil como forma de conectar cidades com aeroportos pequenos, até então sem ligação aérea com os grandes centros ou com oferta de voos bastante limitada. Estados como Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Pará, Amazonas e São Paulo, entre outros, estão nessa lista.

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A experiência mais recente é a do Paraná, em que as novas rotas regionais da Gol operadas em parceria com a Two Flex tiveram início no fim de outubro. Mas como é voar nessas aeronaves de dimensões reduzidas e com poucos lugares? São informações que só quem já fez um desses trechos pode apresentar.

Confira abaixo alguns desses detalhes, a partir de relatos de passageiros dos primeiros voos no Paraná:

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Check-in presencial

Gol reservou guichê exclusivo para check-in de voos regionais| Foto: Célio Yano/Gazeta do Povo

O primeiro aspecto que chamou a atenção do jornalista Alexandro Kurovski, primeiro passageiro a voar de Curitiba para Paranaguá, no dia 22 de outubro, foi o check-in. A Gol reservou um guichê exclusivo para atender passageiros dos voos regionais operados pela Two Flex no Aeroporto Afonso Pena, na Grande Curitiba. Por outro lado, não havia possibilidade de fazer o check-in no totem, aplicativo para celular ou site da companhia – apenas presencialmente. “No primeiro dia os funcionários ainda pareciam meio perdidos”, conta Kurovski, que ainda encontrou o acesso ao portão de embarque bloqueado. “Tirei a fita que impedia a entrada, entrei e coloquei de volta”, lembra. O voo também teve um pequeno atraso, de 15 minutos – previsto para sair às 17h10, decolou às 17h25.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Primeiros voos vazios

Área para check-in de voos regionais da Gol| Foto: Célio Yano/Gazeta do Povo

Embora mais de mil passagens de voos regionais do programa Voe Paraná já tenham sido vendidas, segundo o governo do estado, os primeiros voos que partiram do Aeroporto Afonso Pena estiveram longe da lotação máxima. De acordo com o economista Inácio Pereira, que fez a primeira viagem do programa de Curitiba a Francisco Beltrão, com escala em União da Vitória, a aeronave, com capacidade para nove passageiros, tinha apenas quatro pessoas. Duas desceram em União da Vitória (entre elas o deputado estadual Hussein Bakri) e as outras duas em Francisco Beltrão – ninguém embarcou na cidade intermediária.

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No voo para Paranaguá, Kurovski foi o único passageiro. “Até troquei a poltrona que tinha reservado para uma da primeira fila, que tem mais espaço para as pernas”, conta. Ele não pegou o voo de volta, mas soube que a aeronave retornou vazia para a capital. “Eu tinha achado a passagem cara, mas para fretar um avião para voar sozinho até que foi barata”, brinca Kurovski, que pagou R$ 320 no bilhete, adquirido duas semanas antes do voo.

Nada de bagagem adicional

Embarque no Cessna 208 Grand Caravan no Aeroporto Afonso Pena| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

A aeronave utilizada nos voos, o Cessna 208 Grand Caravan, tem capacidade máxima para nove passageiros e um espaço bastante limitado para acomodar as bagagens. “Tanto a bagagem despachada, de até 23 quilos, quanto a de mão, de até 10 quilos, precisam ficar na parte de trás da aeronave, porque não tem bagageiro interno sobre as poltronas”, conta Kurovski. Além disso, como a capacidade é limitada, nesses voos não há a possibilidade de se adquirir permissão para bagagem adicional ou para exceder o peso máximo estabelecido, informa a Gol. “Isso dificulta para quem vem do interior para Curitiba para fazer uma conexão com um voo internacional e precisa de mais bagagem.”

LEIA MAIS: Especial de aeroportos e voos do Paraná

Embarque e desembarque na pista

Cessna 208 na pista do aeroporto de Paranaguá| Foto: Alexandro Kurovski

O modelo utilizado nos voos não tem altura suficiente para conectar-se a fingers (pontes de embarque entre o terminal de passageiros e o avião). Assim, mesmo no Aeroporto Afonso Pena, o embarque e o desembarque do Cessna 208 Grand Caravan é feito na pista, como já ocorre com outras aeronaves de menor porte, como o ATR-72. No Afonso Pena, o deslocamento do terminal até a aeronave é feito em um ônibus da Infraero. Em Paranaguá, Kurovski sequer passou pelo prédio do aeroporto depois de desembarcar – “saí da pista e já peguei um carro”.

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Sem comissário de bordo

Vista interna do Cessna 208 Grand Caravan| Foto: Inácio Pereira

Não há aeromoça ou comissário de bordo nos voos. “É só piloto e copiloto”, resume Pereira. “As orientações sobre o voo são as mesmas de outros voos comerciais, mas são feitas pelos próprios pilotos, pouco antes da decolagem.”

Tapinha no ombro

Piloto de Cessna 208 Grand Caravan se prepara para pouso em Paranaguá| Foto: Alexandro Kurovski

A aeronave também não dispõe de qualquer forma de sinalização luminosa ou eletrônica para contato com o comandante ou o primeiro oficial do voo. Mas a tripulação também não fica isolada em uma cabine, como em aviões maiores. “Como eles ficam com fones de ouvido para se comunicar com as torres de controle, a orientação era que eu batesse no ombro deles caso precisasse falar alguma coisa”, conta Kurovski, que não precisou utilizar o recurso.

Água e bolachas, mas sem banheiro

Espaço interno do Cessna 208 Grand Caravan| Foto: Alexandro Kurovski
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O serviço de bordo resume-se a água e bolachas, servidos pela tripulação antes da decolagem, segundo os relatos dos primeiros passageiros. Além disso, um cooler com água gelada fica à disposição na cabine para que os passageiros possam se servir ao longo da viagem. Não há banheiro na aeronave, mas, como os voos são curtos, os passageiros ouvidos pela reportagem não consideram que seria necessário. O trecho mais longo, de Curitiba a Francisco Beltrão totaliza 1h40, incluindo uma parada de 10 minutos em União da Vitória.

Aperto para circular

A circulação dentro da aeronave é bastante limitada. “Tem que andar curvado por causa do teto, que é muito baixo”, conta Kurovski. As poltronas, que não reclinam, são dispostas em três fileiras com dois assentos de um lado (sem braço para separar os passageiros) e um de outro. “Para passar pelo corredor, é preciso andar de lado.” Pereira considera que, apesar de pequena, a aeronave é confortável, embora não se compare com aviões maiores. “O objetivo maior é o deslocamento rápido e a possibilidade de conexão”, ressalta o economista.

Voo mais baixo e celular funcionando

Cessna 208 Grand Caravan utilizado nas operações do Voe Paraná| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Uma das grandes diferenças sentidas ao voar em um turboélice como o Cessna 208 Grand Caravan é a altitude que atinge a aeronave. Enquanto o Boeing 737-800 pode voar a uma altura de 12 mil metros, a aeronave utilizada no Voe Paraná, por não ter cabine pressurizada, geralmente voa a uma altitude próxima de 3 mil metros. “Como o voo é mais baixo, consegui até acessar o 4G na maior parte da viagem”, conta Kurovski. Segundo ele, não houve orientação para desligar o celular durante o trajeto.

Vista e sensação de segurança

Vista do voo de Curitiba a Paranaguá no Cessna 208 Grand Caravan | Foto: Alexandro Kurovski
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“Foi muito tranquilo, praticamente não tivemos turbulência”, avalia Pereira sobre a primeira viagem. “Para o tamanho da aeronave, é bastante confortável”, diz. Kurovski concorda: “Como é um avião usado para transporte de carga, apesar de ser pequeno é bastante robusto e estável.” O visual também é mais agradável para quem não tem medo de altura: as janelas são mais amplas do que as de aeronaves comerciais de grande porte.