Temperaturas baixas, doenças respiratórias típicas do outono e do inverno, baixo índice de isolamento: esses fatores são apontados como agravantes da pandemia de Covid-19 no Paraná recentemente. Mas, no estado vizinho de Santa Catarina, que também passa por situação semelhante, a taxa de mortes atual é bem menor. Por que isso acontece?
O Paraná acumula 17.618 casos confirmados de contágio pelo novo coronavírus, com 526 óbitos, taxa de 46 por 1 milhão de habitantes, segundo o boletim da Sesa desta quinta-feira (25). Em Santa Catarina, são 21.951 confirmações, com 289 mortes, taxa de 40,3 por milhão. Considerando o número de casos confirmados, a letalidade no Paraná é de 3%, contra apenas 1,3% em Santa Catarina. Pelos dados dos boletins, o estado paranaense testou mais: 100 mil, dos quais 12,3 mil exames ainda não tiveram resultado divulgado; no estado catarinense, foram 92,8 mil testes, com 5,2 mil aguardando resultado.
Ambos os estados estão registrando mais óbitos por síndrome respiratória aguda grave (SRAG). Ao contrário de apontar para uma possível subnotificação de casos de coronavírus, o registro do SRAG mostra o número de pessoas que são testadas dentro de um amplo painel de vírus, mas que morrem por outras causas que não a Covid-19. No Paraná, até a 24.ª semana epidemiológica, foram 1.746 óbitos por SRAG em 2020, contra 275 no mesmo período do ano passado. Em Santa Catarina, foram 741 mortes por SRAG neste ano, contra 91 no mesmo período de 2019. Segundo especialistas, por causa da pandemia, toda pessoa com falta de ar entra como suspeita de SRAG, mesmo que seja um infarto, e por isso houve explosão de casos de SRAG não especificada neste ano.
Isolamento social é baixo no Paraná e em Santa Catarina
O governo do Paraná e várias prefeituras têm apelado para a população ficar em casa – medida necessária para evitar a disseminação descontrolada do coronavírus e demanda excessiva dos serviços de saúde. Entretanto, os índices de isolamento social não diferem muito do que vem sendo registrado em Santa Catarina. Em 20 de maio, o Paraná tinha 37,5% de isolamento, contra 36,9% no estado vizinho; em 1.º de junho, os índices foram de 38,2% (PR) e 39,4% (SC); em 10 de junho, os índices foram de 38,2% (PR) e 38,9% (SC); em 15 de junho, 36,8% (PR) e 38,9% (SC); e em 20 de junho, 39,9% (PR) e 38,5% (SC).
Santa Catarina suspende o transporte público
Tanto paranaenses como catarinenses se deslocaram bastante em maio e junho, mas com uma diferença: o meio de transporte. Em Santa Catarina, as frotas do transporte público voltaram a funcionar somente em 15 de junho, de forma gradativa, conforme autorização do governo estadual – em algumas cidades, só no dia 22. No Paraná, o transporte público não sofreu interrupções, apenas redução de frota para corresponder à queda da demanda no início do isolamento social, em março. Com o retorno das atividades comerciais e industriais, o fluxo de passageiros aumentou, mas durante o mês de maio não ocorreu nenhum surto diretamente relacionado com o transporte. Em algumas cidades do interior do Paraná, grandes empresas colocaram ônibus alugados para transportar seus funcionários. Em Cascavel, por exemplo, a Coopavel fez isso em 9 de junho, quando a cidade já acumulava 880 casos confirmados.
Comércio, shoppings e academias abertos
Na quarta-feira (24), Florianópolis voltou a implantar medidas restritivas, como forma de prevenir a disseminação do coronavírus. Mas isso ocorreu após dois meses de reabertura. Desde 22 de abril os shoppings e academias de Santa Catarina estão em operação, sem restrições de idade – agora permanecerão fechados por 14 dias na capital catarinense, que chegou a 1.493 casos confirmados e 14 óbitos – taxa de 27,9 por milhão de habitantes. Em Curitiba há 3.948 confirmados e 120 mortes – taxa de 63,6 por milhão. As academias continuam operando nas demais cidades de Santa Catarina, com horário agendado, e no dia 19 de junho foram liberados treinos esportivos com bola para o esporte profissional e amador.
No interior do Paraná, cinco cidades abriram os shoppings ainda em abril: Apucarana, Cascavel, Foz do Iguaçu, Ponta Grossa e São José dos Pinhais, com o aval das respectivas prefeituras. Em Curitiba, shoppings e academias voltaram a abrir a partir de 25 de maio, depois voltaram a funcionar de forma restrita.
Decretos estaduais se diferem
A atuação dos governos do Paraná e de Santa Catarina tem se diferenciado pelos decretos regulando atividades. O governo catarinense centralizou muitas decisões, determinando como seria a retomada das atividades em todo o território – municípios podem complementar as normas. Foi assim com o comércio de rua (11 de abril), shoppings, academias e serviços de alimentação (21 de abril), transporte público (15 de junho) e treino coletivo com bola (23 de junho)
O Paraná, por sua vez, deixou sob responsabilidade das prefeituras a maior parte das decisões. O decreto estadual de isolamento social assinado pelo governador Ratinho Junior no fim de março, por exemplo, apenas sugeriu o fechamento de comércio, shoppings e academias, sem determinar nenhuma regra.
Santa Catarina tem mais Atenção Básica
Em relação à estrutura hospitalar e médica para o combate à pandemia de Covid-19, o Paraná se destaca em indicadores relevantes, como número de leitos e respiradores. Foram consultados os dados mais recentes disponíveis de equipamentos hospitalares (maio), e de cobertura de atenção básica (abril). É neste quesito, porém, que o estado catarinense parece estar melhor preparado para atuar no controle de casos de coronavírus: a cobertura das equipes de Saúde da Família e de Agentes Comunitários de Saúde (ACS), cuja contratação é de responsabilidade das prefeituras, e não do estado. A Gazeta do Povo já publicou reportagens falando da importância dos ACS no monitoramento da saúde da população durante a pandemia.
A relevância dos ACS pode ser percebida em Chapecó, cidade do Oeste de Santa Catarina com 220 mil habitantes e que registra 2.645 casos de contaminação, com 10 mortes, letalidade de 0,4%. “Desde o início da pandemia, os idosos são monitorados pelos agentes comunitários da família, cada um em sua área de abrangência, fazendo ligações, sabendo se estão bem, se têm medicação. É feito o monitoramento a distância de todos os pacientes crônicos, tanto pelos médicos especialistas como toda a atenção básica. Acredito que isso está fazendo diferença nessa nossa mortalidade. Mas este é nosso momento atual, não sabemos o que virá posteriormente”, afirmou à Gazeta do Povo a diretora técnica da Secretaria da Saúde de Chapecó, Aldarice Pereira da Fonseca.
Em Foz do Iguaçu, por exemplo, cidade com porte semelhante (258,5 mil habitantes) ao de Chapecó, havia 562 casos confirmados e oito óbitos até a última quinta-feira (25), letalidade de 1,4%. O número de equipes de ACS na cidade paranaense permite uma cobertura de 71,8% da população, segundo dados do Departamento de Saúde da Família do Ministério da Saúde. Em Chapecó, esse índice é de 80,3%.
Veja, a seguir, detalhamento com dados do Paraná e de Santa Catarina:
Comparação das equipes de saúde e estrutura hospitalar de Paraná e Santa Catarina
Os dados mais recentes (abril/2020) indicam que Santa Catarina, com 7,1 milhão de habitantes, tem 9,3 mil agentes comunitários de saúde (ACS), o que permite uma cobertura populacional de 67,8% da população. Os ACS atuam como elo entre as unidades de saúde e a comunidade, levantando demandas de saúde e acompanhando o dia a dia das famílias. No Paraná, são 11,8 mil ACS que atendem uma população maior (11,4 milhões), por isso o índice de cobertura é de 54,7%. Considerando toda a atenção básica, que leva em conta equipes de Saúde da Família, compostos por médicos, enfermeiros e dentistas, a cobertura no estado catarinense é de 91,8%, contra 78,8% no Paraná. Os dados não contabilizam contratações após abril, como as que ocorreram em Curitiba, por exemplo, cidade que ainda conta com percentual muito baixo de cobertura de ACS. Fonte: Departamento de Saúde da Família do Ministério da Saúde.
O Paraná tem 24.993 médicos segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), o equivalente a 21,8 profissionais a cada 10 mil habitantes. Santa Catarina tem uma taxa de 22,9 por 10 mil. Mas, na divisão por macrorregiões de Saúde, o melhor índice está no Norte do Paraná, com taxa de 33,5; a taxa mais baixa no estado é na macrorregião Oeste, com 17,6. Em Santa Catarina, a distribuição é mais equilibrada: vai de um piso de 15,8 médicos por 10 mil habitantes na macrorregional Foz do Rio Itajaí a um teto de 23,3 no Alto do Vale Itajaí. Entre as macrorregionais que englobam as capitais dos estados, a Leste do Paraná está mais servida de médicos, com 21,7/10 mil; a Grande Florianópolis tem 17,6/10 mil. Fonte: CNES
Considerando todos os leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do SUS e da rede privada, o Paraná está melhor colocado, com um total de 2.162 pelos dados de maio do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), uma proporção de 1,9 a cada 10 mil habitantes. Esse total é semelhante ao divulgado atualmente pelos boletins do governo, que falam em 1.358 leitos de UTI geral e 749 leitos de UTI exclusivos Covid-19. Em Santa Catarina, o CNES listava apenas 873 leitos totais, taxa de 1,2 por 10 mil. Mas o boletim epidemiológico catarinense de quarta-feira (24) indica 1.316 leitos, equivalente a 1,8/10 mil, o aproximando do Paraná – desses, 18% estavam ocupados por Covid-19; 46% por outras enfermidades; e 36% estavam livres. Em relação aos respiradores, o Paraná tinha 3,4 equipamentos a cada 10 mil habitantes em maio, contra 3,1 em Santa Catarina, mas esses dados podem estar defasados por aquisições recentes.
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