São Paulo e Paraná lideraram o número de adoções realizadas no Brasil, nos últimos cinco anos, segundo o Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR), a partir de dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Entre 2019 e 2023, 2.443 crianças e adolescentes foram adotados no Paraná. Em São Paulo, que ocupa a primeira colocação no ranking de adoção, o número chega a 4.337. Apesar da boa colocação, ainda há desafios a serem superados, como mais campanhas de adoção e melhor preparação dos pais para receberem os futuros filhos.
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No Brasil, há 4.438 crianças e adolescentes aptos à adoção. Somente no Paraná, há 377 aguardando uma família. Em São Paulo, 1.114 esperam ser adotados. Já os pretendentes habilitados que aguardam na fila de adoção em todo o Brasil, há 35 mil pessoas. No estado paranaense, 2602 pessoas compõem a fila. Em São Paulo, 9.120 pessoas aguardam na fila de adoção.
Ao olhar os números, pode parecer que a conta não fecha, pois o natural seria que todas as crianças e adolescentes já estivessem em uma família, pois há mais habilitados do que crianças para serem adotadas. Contudo, a fila de espera acontece devido ao perfil que os pretendentes procuram.
“O que faz uma fila de espera acontecer é o perfil. Se olharmos as estatísticas, a grande maioria dos habilitados busca crianças de 0 a 3 anos ou até 7 anos. Mas quando passa para a adolescência, grupo de irmãos ou crianças com necessidades especiais, drasticamente reduz o número de pessoas com esse perfil”, explica a juíza Noeli Tavares Reback, dirigente da Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJ) do TJPR .
Segundo dados do CNJ, 94,7% querem apenas crianças e adolescentes sem deficiência e 62,4% sem nenhum tipo de doença, entre os pretendentes do Brasil. “Quando se quer um bebê, essa fila realmente pode demorar dois ou até cinco anos”, ressalta a juíza Noeli.
Como acontece um processo de adoção
Por meio do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, o pretendente pode fazer um cadastro prévio que demonstra interesse em adotar. Essa habilitação prévia pode ser feita de modo on-line. Após isso, será realizado um processo com o Tribunal de Justiça do estado para apresentação de documentos, realização de capacitações e avaliações psicológicas e sociais.
“A adoção é um processo simples que depois das pessoas estarem aptas, não precisam nem de advogado”, afirma Noeli.
Os pais interessados em se tornar adotantes podem se dispor a adotar uma criança que vive em outro estado. “Quando a pessoa se habilita, ela diz se quer receber o filho pelo município, estado ou nacionalmente. Ou optar por alguns estados. Quando existe a criança dentro do perfil, o próprio sistema faz essa busca”, complementa a juíza.
Elenice aguardou mais de 5 anos na fila de adoção
A técnica de enfermagem Elenice de Lima entrou na fila de adoção em agosto de 2017. Mas o desejo de adotar já era antigo. Aos 15 anos, Elenice participou de uma ação voluntária em uma casa de acolhimento. Ao ter contato com as crianças, teve uma experiência que guardou na memória. “Saindo de lá, eu falei para a minha mãe que queria adotar”, conta.
Passado os anos, em 2017, a técnica de enfermagem entrou na fila de adoção. Ela fez todo o processo padrão, com entrega de documentos, entrevistas com psicólogos e cursos de capacitação.
No começo deste ano, Elenice recebeu uma ligação da equipe de acolhimento informando que havia um menino de 10 meses, chamado José, que poderia ser adotado. Assim que recebeu a ligação, Elenice conta que pensou “estou sentindo que é o meu filho e quero conhecer”.
“Quando ele chegou, ele estava no bebê conforto e já comecei a chorar. Eu estava conhecendo meu filho. Ele começou a dar os braços e brinquei com ele”, conta a técnica de enfermagem sobre o momento que conheceu José.
Em 12 de maio deste ano, Elenice adotou a criança. “Ele chegou com 10 meses e hoje está com 1 ano e 3 meses. É uma emoção grande, uma alegria, ver ele engatinhar e começar a falar”, relata.
Grupo dá apoio aos pais por adoção
Por meio de rodadas de conversas e trocas de experiência, na capital paranaense, o grupo Chesed - Pais por Adoção vem auxiliando famílias que escolheram adotar. A iniciativa começou devido à necessidade de apoio que a própria cofundadora Ingrid Ewert precisou depois de ela e seu esposo adotarem cinco crianças.
Após ter três filhos, Ingrid e seu esposo decidiram entrar na fila de adoção, em 2012. Ao contrário da maioria dos pretendentes, eles optaram pelos “inadotáveis”. O termo se refere a crianças e adolescentes com grupos de irmãos, com alguma deficiência ou doença. São os grupos conhecidos como mais difíceis de serem adotados. “Adotamos um grupo de cinco irmãos e eu me tornei mãe de oito filhos. Começamos essa nova experiência”, relata Ingrid, presidente da associação. A criança mais nova tinha três anos e a mais velha, 12 anos.
Mas Ingrid conta que o primeiro ano, depois de finalizado o processo de adoção, foi desafiador. “O primeiro ano foi bem conturbado. Não conhecia o universo da adoção. Quando acontece de fato, você vê que é mais complexo”. Ao procurar uma rede de apoio, somente achou grupo de pré-adoção.
Ingrid e seu marido começaram a buscar terapia para ajudar nas dificuldades que estavam tendo em casa. Assim, algumas famílias começaram a compartilhar também os seus desafios de serem pais por adoção.
“Nós nos juntamos com outros profissionais e fundamos em 2015 o Chesed. A ideia, e é assim até hoje, é ser um grupo de conversa, em que as pessoas abrem o coração e contam suas experiências”, afirma Ingrid.
Formada em pedagogia, com pós-graduação em terapia familiar sistêmica, Ingrid buscou formação para ajudar os pais por adoção. Desde 2015, a organização se encontra toda semana para compartilhar os desafios da adoção.
Embora o Paraná tenha destaque em números de adoção, Ingrid ressalta que ainda há desafios pela frente. Ela afirma que deveriam ser públicos os dados de quantas pessoas desistem ou até devolvem as crianças. “Olhar para o número de adoções é muito pequeno. Há uma disposição dos paranaenses, mas precisamos de uma visão panorâmica”.
Para ela, é necessária uma formação mais completa dos pais que querem adotar, principalmente os que têm interesse em adoção de adolescentes ou grupo de irmãos. “São adoções complexas. Minha sugestão é pôr uma preparação específica de adoção de crianças maiores e grupo de irmãos”, diz a presidente da associação Chesed.
Segundo Ingrid, essa preparação mais completa ajudaria também a quebrar tabus. “Quebrando o tabu de que os pais [de crianças maiores] não vão ter o primeiro 'mamãe' e os primeiros passos. Mas isso é uma mentira. Eu tive com os meus cinco filhos a primeira fala de mamãe, a primeira ida ao shopping e primeira viagem. Tive tantos primeiros momentos tanto quanto [eu teria com] uma criança pequena”, conclui.
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