Mesmo sem ter a responsabilidade de prestar assistência direta à população, o estado do Paraná busca a integração de todas as bases de dados de saúde em um único sistema, a exemplo do que ocorre em Curitiba. E isso se coloca como um desafio aos gestores.
“Existem muitas bases de dados diferentes no Sistema Único de Saúde (SUS). Sistemas que cruzam mortalidade, processamento de atendimentos hospitalares, sistemas de consulta, de gestão de leitos. São muitos dados diferentes, de várias origens separadas. A secretaria de saúde tem a missão, nessa gestão, de organizar esses dados em um processo mais inteligível. Faremos cruzamentos dessas bases de dados compondo um sistema de gestão em saúde, para ter a informação em tempo real para poder rapidamente analisar uma situação de saúde, questão de internamento, uma cobertura populacional”, afirma o superintendente de gestão de sistemas de saúde da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), Vinícius Filipak.
O prontuário eletrônico estadual unificado é um desejo da Sesa. “Não temos no estado do Paraná um protocolo eletrônico unificado. Muitos municípios têm seus prontuários eletrônicos, mas o estado não tem ainda. Temos expectativa que nesta reorganização dos sistemas de informações, possamos evoluir para o prontuário único. Isso é essencial para gerenciar o fluxo desses doentes. O estado não tem a atribuição da assistência direta à população, que é do município. Mas os dados nos permitiriam gerenciar orçamentos, arranjos, fluxos necessários”, diz Filipak.
É preciso integrar os hospitais
Reconhecendo que não há mais como se trabalhar em saúde sem sistemas de gestão da informação, o presidente da Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná (Femipa), Flaviano Feu Ventorim, explica que ainda há barreiras tecnológicas e legais para um completo aproveitamento do que os sistemas já podem oferecer.
“Todos os hospitais já usam algum nível de sistema de informação. O que precisa, hoje, é integrar essas informações para que se possa fazer com que elas sejam comuns. Hoje, o sistema de prontuário eletrônico da prefeitura de Curitiba fala sozinho. Só a prefeitura tem acesso a ele. A gente enfrenta uma dificuldade de uniformidade da informação. De poder trocar a informação com outros softwares e disponibilizar acesso às informações a todos os agentes”, diz.
Ele lembra, ainda, que é necessária uma evolução da legislação para que essa integração dos sistemas seja viável. “O hospital, por exemplo, não consegue entrar no sistema da prefeitura. Consegue, em alguma situação, buscar as informações do prontuário, mas não instantaneamente e nem detalhadamente. Ainda há barreiras, até mesmo legais, pois o hospital, exemplificando, só pode entregar os prontuários de seu paciente ao próprio paciente ou a seu responsável legal, a não ser que haja determinação judicial”, disse, citando preocupação com a nova lei da proteção de dados que, para ele, pode dificultar ainda mais a distribuição de informações.
Enquanto isso, conta Ventorim, os órgãos de saúde trabalham em processos para facilitar a integração dos sistemas. “Um exemplo, é a unificação dos termos. Parece banal, mas, por exemplo, aqui no Sul falamos internamento, no Norte e Nordeste, é internação. Na conversa entre pessoas, a gente entende qualquer um dos termos, entre computadores, não.”
Central de leitos
Um dos principais sistemas em funcionamento na rede estadual é o Sistema Estadual de Regulação de Leitos - a central de leitos do estado. Ele foi implementado em 2012 e gere e regula a disponibilidade de leitos hospitalares no estado de acordo com a urgência, o tempo de espera e a especificidade de cada caso.
“A central de leitos tem a obrigação de adotar as medidas para colocar o paciente certo no local certo e no tempo certo. Cada paciente, cada diagnóstico, cada quadro clínico tem uma gravidade e um tempo ideal para ser atendido”, esclarece Vinícius Filipak. “No Paraná, já evoluímos para um complexo regulador da assistência. Não é uma simples central de leitos, que identifica se há uma cama de hospital disponível para o paciente da vez. Porque as camas nos hospitais não são iguais. Apesar de ter um leito disponível, no hospital pode não ter os especialistas e equipamentos necessários para o caso de determinado paciente.”
Filipak cita que a central de leitos teve grande contribuição para a redução, nos últimos oito anos, em 20% nos números de morte por acidentes e, em igual porcentual, nos óbitos de pacientes vítimas de infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
“Avançamos muito nos últimos anos, mas temos que seguir aperfeiçoando, com o foco de evitar que o paciente fique sequelado, que ele precise de menos tempo de internação e o leito fique disponível até mais cedo do que ficaria antes”, conclui.
Beatriz Battistella Nadas, superintendente executiva da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, também faz uma avaliação positiva do sistema de gerenciamento de leitos. “O sistema informatizado da central de leitos deixa muito pouco a desejar. O que temos é problema no sistema de saúde. Não tem leito sobrando. Há pessoas neste momento na fila aguardando por um leito, mas não vemos aquele caos de outros estados, com as macas nos corredores dos hospitais e os doentes morrendo ali. Os recursos e as vagas são justos, mas o sistema faz com que saibamos usar desta justeza”, analisa.
“Hoje, com a ferramenta, temos um bom diagnóstico de qual é o caso, para onde fazer o encaminhamento e quem vai antes. Para nós, é fundamental, porque direciona exatamente para o serviço correto. O melhor leito disponível para doença cardíaca pode não ser o que está disponível neste exato momento. Sabemos para onde encaminhar um acidentado com trauma, um queimado, a vítima de um AVC”, diz.
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