Segunda cidade do Paraná a procurar o governo de São Paulo para comprar a vacina Coronavac, a prefeitura de Maringá também já negocia com outros seis laboratórios para ter a imunização da Covid-19. Após Curitiba fechar acordo para compra de R$ 4 milhões em doses, o prefeito reeleito de Maringá, Ulisses Maia (PSD), encaminhou semana passada ao Instituto Butantan intenção de aquisição de 100 mil unidades da Coronavac, quantidade suficiente para aplicação em 50 mil pessoas, já que são necessárias duas doses para a imunização. Além de Curitiba e Maringá, Ponta Grossa também encaminhou ao Butantan essa semana intenção de compra de 16 mil doses.
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Sobre a crítica do governo do Paraná em relação aos municípios e estados que estão buscando a vacina fora do Plano Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde, Maia afirma ter obrigação de buscar a vacina para os maringaenses, independentemente de onde venham a doses. “Sou do partido do governador Ratinho Jr e do secretário de Saúde Beto Preto e não tenho nenhum problema com eles. Mas sinto muito se isso possa não ter agradado outras pessoas. Estou pensando na população da minha cidade”, afirma o prefeito em entrevista à Gazeta do Povo.
Maia enfatiza que a vacinação na pandemia não pode ganhar contornos políticos. “Procurei o governador João Dória porque é o governo de São Paulo que comanda o Butantan e a Coronavac é a vacina mais avançada. Mas não sou aliado do Dória. Foi uma negociação institucional”, enfatiza o prefeito de Maringá. Confira a entrevista:
Como foi o acordo com o governo de São Paulo para que Maringá tenha a Coronavac?
O acordo foi com o Butantan. Semana passada entrei em contato com o governador de São Paulo, João Dória, que depois retornou a ligação em que acertamos a compra. Foi feito um protocolo de intenção de compra de 100 mil doses. Mas, além do Butantan, a prefeitura de Maringá também já encaminhou protocolos de intenção de compra a outros seis laboratórios, entre eles o Moderna, Pfizer, Astrazeneca e Sinopharm.
Por que a prefeitura tomou a decisão de buscar a vacina não só no Butantan, mas também de outros laboratórios, fora do plano do Ministério da Saúde e sem esperar o governo do estado?
O que queremos é, independentemente da origem da vacina - se é chinesa, inglesa, americana ou russa -, que ela chegue o mais rápido possível à população. Mesmo que esteja havendo tratativas dos governos federal e estadual para a vacina, Maringá tem condições de fazer a compra por conta própria. Nós mandamos protocolos de intenção de compra para sete laboratórios e já anunciamos o acordo com a Coronavac porque o Butantan é o laboratório que está com os trâmites mais adiantados. E os trâmites com o Butantan não são de exclusividade. Ou seja, podemos negociar com outros laboratórios.
Quanto Maringá vai pagar por essas 100 mil doses de Coronavac do Butantan?
O preço ainda não está ajustado. Maringá é uma cidade de 400 mil habitantes, portanto, vamos ter que fracionar por grupos essas 100 mil doses do Butantan. Provavelmente os primeiros vacinados serão profissionais de saúde e da educação, porque queremos retomar as aulas em fevereiro, e assim por diante. E essas 100 mil doses são uma previsão, porque temos que ver a capacidade de entrega do Butantan. Mas temos recurso para comprar.
Já há uma data para Maringá receber as 100 mil doses da Coronavac?
O Dória deu uma expectativa positiva de entrega da vacina. São Paulo começa a vacinação deles em 25 de janeiro e na sequência parte da produção do Butantan será destinada aos municípios e estados que requisitaram a Coronavac. Mas ainda não tem data para a entrega das doses em Maringá.
Qual é o recurso do município para a vacinação da Covid-19?
O orçamento da saúde em Maringá em 2020 foi de R$ 500 milhões. Estamos investindo 22% do orçamento do município na Saúde, sendo que a média geral é de 15%. Vamos aplicar todo o nosso superávit deste ano, que foi em torno de R$ 100 milhões, na vacinação da Covid-19. Normalmente investimos R$ 5 milhões no Natal de Maringá, para enfeitar a cidade, mas cancelamos esse ano. Não tem clima para organizarmos isso e os atrativos poderiam causar aglomerações. E se temos restrições no comércio, nos restaurantes e em outros estabelecimentos para evitar o contágio do coronavírus, organizar campanha de Natal seria um contrassenso. Portanto, esse dinheiro do Natal também vai para a Saúde neste momento de pandemia.
A negociação de estados e municípios diretamente com o Butantan e outros laboratórios tem sido criticada por alguns governadores, inclusive o do Paraná, Ratinho Jr. Por que Maringá optou pela compra da Coronavac com o governo de São Paulo?
A decisão de comprar do Butantan não foi para politizar a vacina. Negociei com o Dória porque é o governo de São Paulo que comanda o Butantan. A compra da Coronavac não foi nada ideológica. Até porque não sou aliado político do Dória e nem estou pensando nisso. Foi uma negociação institucional. Eu, como prefeito, estou preocupado com a população de Maringá. Além disso, o Butantan já produz 70% de todas as vacinas aplicadas no Brasil, o que mostra que a qualidade da produção deles é inquestionável. Isso não é uma disputa política. A eleição já acabou.
Além da crítica do próprio governador Ratinho Jr, o secretário estadual de Saúde, Beto Preto, considerou como “esquizofrênica” a busca por parte de outros estados e municípios pela vacina fora do Plano Nacional de Imunização do Ministério da Saúde. O que o senhor, que é do mesmo partido do governador, acha desse posicionamento do governo do Paraná?
Eu sou não só do mesmo partido do governador Ratinho Jr como também do mesmo partido do secretário Beto Preto e não tenho nenhum problema com eles. Torço muito para que o acordo do governo do Paraná com a vacina russa vá para frente, para que a vacina chegue logo a todo o estado e nenhum município precise ir atrás da imunização. Portanto, se a vacina do governo do estado chegar logo, perfeito. E se for suficiente a quantidade de vacina que chegar do estado e do governo federal, podemos até remanejar o dinheiro que tínhamos para compra da vacina em outras ações.
Agora, sinto muito se isso [decisão de comprar vacina diretamente com os laboratórios] possa não ter agradado outras pessoas. Ao menos estou fazendo tudo o que posso para sair na frente na vacinação. Até porque o sofrimento de todos tem sido muito grande. Dos profissionais de saúde, dos alunos que não podem ir à escola, dos comerciantes que não podem abrir seus estabelecimentos. Eu estou pensando na população da minha cidade e para não ficar dependendo de ações do governo federal ou mesmo do governo estadual, resolvemos agir. Até porque temos condições de comprar a vacina, são quatro anos de superávit no nosso orçamento.
No anúncio do plano nacional de vacinação da Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro acenou para uma pacificação política em torno da imunização. Além disso, o ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, garantiu que todos os estados serão tratados igualmente na distribuição das doses dentro da estratégia federal. O que o senhor achou disso?
Eu senti o governo federal muito favorável à pacificação no anúncio da vacina no Brasil. Acho que se o Ministério da Saúde mantiver essa pacificação vamos entrar em um momento muito melhor no combate á Covid-19, inclusive no pacto federativo.
Além da própria Covid-19, a pandemia teve impacto no sistema de saúde de outras formas. Como foi isso em Maringá?
As filas de consultas e cirurgias eletivas estão represadas por causa da pandemia. Em 2021, teremos uma fila enorme de atendimentos para retomar, e que já era grande antes da pandemia, o que também vai exigir muito investimento. Só para se ter uma ideia, apenas no Hospital Municipal de Maringá deixamos de fazer 3 mil cirurgias em 2020. Quantas mais não ficaram represadas em todo o sistema de saúde? E o SUS sozinho não suporta toda essa demanda. Por isso o dinheiro tem que vir também do caixa do município.
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