Pressionados por empresários e por parte da população por defenderem medidas de isolamento social; questionados por não adotarem protocolos de tratamento sem eficácia comprovada, mas utilizados em outras cidades; e cobrados pelos prefeitos por não darem respostas rápidas e com o menor impacto econômico possível para a pandemia em um ano de eleições municipais, secretários municipais de saúde estão no fogo cruzado do enfrentamento do coronavírus no Paraná. Os atos de insatisfação deixaram as redes sociais ou das salas de reunião virtuais e chegaram às ruas. Segundo o Conselho dos Secretários Municipais de Saúde do Paraná (Cosems-PR), vêm crescendo os relatos de secretários ameaçados, hostilizados ou, mesmo tendo o carro riscado e a casa apedrejada no estado. Com a maioria dos 399 municípios do Paraná tendo menos de 10 mil habitantes, os secretários relatam dificuldade em implementar medidas próprias de controle da pandemia e pedem decisões mais amplas por parte do estado.
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“São casos isolados, mas solicitei a nossas equipes regionais para concentrarmos esses relatos e podermos atuar. O gestor municipal de saúde é a ponta mais fraca de toda essa relação. Temos uma sensação de perseguição, porque é a secretaria mais fiscalizada de uma administração pública. É muito sensível, sofre pressão política, sofre pressão da população porque precisa dar uma resposta rápida, ao mesmo tempo em que tem que enfrentar a burocracia e a fiscalização de todos os órgãos de controle. E, ainda por cima, toda a discussão foi politizada”, comenta o presidente do Cosems, Carlos Andrade, secretário de Saúde de Araucária.
“Na Covid-19, os gestores tiveram problemas com a aquisição de respiradores, de EPI, de insumos e medicamentos, com a contratação de pessoal, temos que dar resposta urgente, mas se fizer aquisição emergencial, corremos o risco de comprar com sobrepreço e responder por isso. Então, ou o profissional vai ser questionado pela austeridade com o recurso público, ou pela falta de agilidade na resposta. E tudo isso ainda vivendo na dependência da regional de saúde, da Secretaria de Estado e até do Ministério, mas sem um alinhamento de gestão ou mesmo de informação”, diz.
“A grande maioria aceita o isolamento, mas uma parcela pequena ainda e resistente. Temos a facilidade de conhecer mais a nossa população. No entanto, em uma cidade pequena as questões politicas são vividas com maior proximidade da população, isso gera maior acesso às autoridades de saúde, com queixas que muitas vezes não têm fundamento técnico”, conta a secretária de Formosa do Oeste, Pollyana Santos Gimenes. “As pessoas têm sofrido grande influência das redes sociais e somos cobrados, questionados e até agredidos verbalmente por não adotarmos as posições que eles defendem”, relata, contando sofrer pressão pela adoção de medicamentos no protocolo do município e questionamentos quanto à necessidade do uso de máscara ou à eficácia do isolamento social.
“Tivemos lockdown em dois finais de semana, tivemos toque de recolher. Tivemos decreto de quarentena de 15 dias e, quando acabou o nosso decreto municipal, entrou em vigência o decreto estadual, que nos colocou em quarentena novamente. Ficamos 30 dias com tudo fechado e algumas pessoas se revoltaram com isso”, relata Gracieli Apolinario, secretária de Saúde em Santa Tereza do Oeste. “Mas nossos índices eram preocupantes, os números nos enquadravam no critério do estado para a quarentena”, emenda.
Para o presidente do Cosems, as primeiras medidas de isolamento social, decretadas pelo estado em março, foram as que tiveram maior compreensão e adesão da população. “Estava todo mundo assustado com a chegada do vírus e foram tomadas duras medidas. Analisando agora, talvez ainda não eram necessárias naquele momento e, agora, com o crescimento da transmissão do vírus, que tais medidas se fazem necessárias, a aceitação é menor e a pressão econômica bem maior, porque as pessoas já sofreram o impacto, já estão sem trabalho, já perderam renda”, analisa. “Mas não dá para julgar as primeiras medidas restritivas de março, porque a situação de momento assustava a todos e indicava aquele caminho. Além disso, serviu para que o estado pudesse preparar melhor sua estrutura”, complementa.
Para Andrade, se a curva do coronavírus não for controlada pelo estado nas próximas duas semanas, será necessário que o estado tome medidas mais duras, como um lockdown geral. “O Paraná é a bola da vez da Covid-19. Não descarto que precisaremos ser até mais duros agora e partir para um lockdown de verdade. O que esperamos agora é que, se for para se tomar uma medida dessas, seja feita com uma discussão técnica maior e que seja para o estado todo. Não temos barreira nos limites dos municípios. Se fechar tudo em Curitiba, o curitibano desce para o litoral. Se fechar toda a região leste, as pessoas vão visitar parentes no interior do estado. Se tiver que tomar uma próxima medida que ela seja bem efetiva e de consenso. E sem ficar repassando responsabilidades”, diz.
“A pressão do setor comercial sempre vai existir e isso gera uma pressão política sobre os prefeitos. Mas, até agora, as questões técnicas de saúde têm sido respeitadas pelos prefeitos. O que alguns não entendem são algumas particularidades: municípios com índices próprios baixos em termos de comunicação achando que não deveriam ser abrangidos por determinadas medidas, ignorando o conceito de rede e a distribuição de leitos por regional de saúde. Por isso que a ação do estado tem que ser global”, conclui.
“Acredito que as decisões devem ser pensadas de modo regional. Municípios menores dependem dos grandes centro para enviar pacientes críticos, por exemplo, os que vão para UTI. Os municípios pequenos têm um papel importante no tratamento dos pacientes que precisam de internamento, mas não de UTI. Precisamos nos unir regionalmente. Por exemplo, no último decreto estadual, Formosa do Oeste, não teria critérios epidemiológicos para seguir o decreto. No entanto o decreto do estado é soberano e nós temos a obrigação legal de cumpri-lo. O decreto estadual foi necessário e mostrou efetividade na região, pois houve uma melhora significativa nos números”, comenta Pollyana.
A secretária de saúde de Santa Tereza do Oeste também cobra uma medida mais rígida e abrangente. “Para o município pequeno, seria muito importante um lockdown total partindo do estado. O decreto anterior, do jeito que veio, o povo não entendeu por que tinha que fechar sua pequena loja de roupa, enquanto o frigorífico não fechou. Por que fechar o salão de beleza e a empresa com 200 funcionários seguiu funcionando?”.
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