Os aumentos recentes nos números de casos e mortes por Covid-19 no Paraná, bem como o crescimento da curva de transmissão do novo coronavírus no estado e, principalmente, a alta taxa de ocupação dos leitos de UTI reservados para a pandemia, fizeram com que as cidades voltassem a endurecer as medidas de segurança. Entre as ações adotadas está a restrição no funcionamento do comércio e de serviços não essenciais para diminuir a circulação de pessoas e, com isso, conter a propagação. Municípios que, em março, no início da pandemia, apelaram a medidas mais drásticas, como o fechamento total do comércio e a adoção de toque de recolher, já tinham revogado tais medidas, acreditando terem a situação sob controle. Agora, precisaram voltar a restringir a circulação de pessoas. Este abre e fecha, que confunde a população, deve ser constante até que se tenha uma vacina ou um remédio efetivo para a população.
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“O estado teve isolamento social precoce, o que fez com que o número de casos crescesse de maneira mais lenta que o restante do Brasil. A partir do relaxamento social, os novos casos crescem naturalmente e se a curva se acentuar muito rapidamente, temos que voltar atrás. Mas isso é assim mesmo, monitorando os indicadores a cada semana e delineando de que forma o estado deve se comportar na promoção do distanciamento social”, avaliou Mirella Oliveira, chefe da UTI do Hospital do Trabalhador, o hospital de referência em Curitiba para a Covid-19.
“Para uma pandemia como a da Covid-19 se espalhar rapidamente por uma cidade ou um estado, bastam duas semanas. Para se controlar, leva-se de quatro a seis semanas, dependendo da capacidade de fazer a população fazer a sua parte. Estávamos com a epidemia sob controle e pudemos sim abrir shoppings, academias, cultos religiosos. Mas, infelizmente, houve aglomeração além do esperado, muita gente desrespeitando as orientações e a conta veio em duas semanas, com esse aumento nos casos. E, para controlar, precisamos fechar novamente”, reforçou o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Clóvis Arns da Cunha.
Com base nessa situação que Curitiba adotou, no início do mês, o sistema de bandeiras, que indica, conforme o quadro da pandemia na cidade, que estabelecimentos podem funcionar e quais devem ser fechados. A avaliação da cor da bandeira é semanal.
O diretor-geral da Secretaria de Estado da Saúde, Nestor Werner Júnior, lembrou, em entrevista à Gazeta do Povo, que o objetivo do isolamento social é achatar a curva de crescimento da doença, evitando que se atinja o pico de casos muito rapidamente, a ponto de que o número de pessoas doentes seja maior que a capacidade de atendimento do sistema de saúde. Ele citou que o vírus só deixará de preocupar quando houver vacina ou remédio efetivo para a cura da doença, e afirmou que seria impossível manter o estado fechado até o surgimento desta solução (a previsão mais otimista é de uma vacina até o final do ano).
Assim, disse, o meio termos natural seria aumentar ou diminuir as medidas restritivas conforme o quadro da pandemia se desenvolve no estado. “Mas é possível que tudo aquilo que a gente tenha construído, se não tomarmos cuidado, seja destruído em pouco tempo se a população não colaborar. Por isso a importância de se analisar os números e o mapa da doença todos os dias, identificar esses óbitos, saber onde ocorreram, como ocorreram, como se deu a contaminação, para tomar decisões políticas”, disse.
Alternativa ao lockdown
A adoção de medidas flexíveis de fechamento de determinados setores da cidade foi a alternativa adotada pela maioria dos estados e brasileiros para evitar o lockdown (fechamento total e determinação com força de lei para que as pessoas não saiam de casa), adotado por diversos países da Europa, por exemplo. Para o infectologista Bernardo Montesanti de Almeida, do serviço de epidemiologia do Hospital de Clínicas (HC) de Curitiba, o “lockdown intermitente” adotado pelo Paraná evita o impacto econômico e social imediato de uma ação como o fechamento absoluto, mas deixa claro o risco da queda de adesão com o passar do tempo. “O Brasil não fez um lockdown para valer, como Itália, Espanha, ou mesmo a China. Há diversos fatores positivos e negativos do lockdown, ninguém consegue afirmar, ainda, se é a melhor forma. E depende muito da adesão da população. O estado do Pará decretou lockdown em seus índices de isolamento sofreram pouquíssima alteração”, lembra.
Um dos principais fatores levados em consideração pelas autoridades em saúde para recomendar aos governantes maior ou menor rigor nas medidas que incentivem o isolamento é o fator de reprodução do vírus – o número de novos casos gerados a partir de um paciente infetado. Com esse número abaixo de 1, a região estaria com a curva da Covid-19 sob controle, com tendência de redução do número de novos casos diários. Com o índice acima de 1, cada contaminado estaria infectando mais que uma nova pessoa, o que indica um crescimento exponencial da doença. O Paraná manteve seu índice abaixo de 1 entre 6 e 18 de maio, mas, semanas após a reabertura de praticamente todo o comércio e serviços, o índice subiu. Chegou a 1,63 na última semana e estava em 1,21 na última segunda-feira (22), de acordo com estudo do departamento de estatística da Universidade Federal do Paraná, em parceria com a epidemiologia do HC.
Bernardo cita que alguns países da Europa também estão com a taxa de crescimento da Covid-19 acima de 1, “mas a partir de uma base muito baixa. Pois o lockdown foi rigoroso e reduziu significativamente a incidência do vírus, para só depois soltar”. Ele lembra que o Paraná tomou suas primeiras medidas de isolamento de forma bastante precoce, o que postergou o período de aumento de casos em grande velocidade, que está acontecendo agora. “Seria a hora de fechar novamente. Foi com números parecidos com os nossos de agora que os países europeus fecharam. Mas, agora, pode ser muito mais difícil, porque já tivemos todo o impacto negativo na economia e na vida das pessoas do primeiro fechamento”, avalia.
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