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Turistas são vítimas de sequestro-relâmpago e de casos de extorsão na fronteira com o Paraguai
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Sequestro-relâmpago é uma das modalidades criminosas que tem chamado a atenção das equipes de investigação formadas pelas forças de segurança pública, na região de fronteira com o Paraguai. É da região de Foz do Iguaçu (PR), próximo à Ponte Internacional da Amizade e ainda em solo brasileiro que os casos se concentram. Foram 55 os registros desde o início de 2022, mas as denúncias aumentaram nos últimos meses.

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A estratégia dos golpistas é se infiltrar em uma prática bem comum na região: abordar motoristas e turistas que estão a pé, apresentando-se como supostos guias que querem indicar lojas no Paraguai. A abordagem costuma ser acintosa e muitos deles propõem entrar no carro da vítima, ainda no Brasil, e ir com ela até o ponto comercial do outro lado da fronteira.

Uma das vítimas do crime, que conversou com a reportagem da Gazeta do Povo, relata momentos de desespero ao passar por um sequestro-relâmpago, ver a família ser colocada em uma sala cheia de armas, ser extorquida e perder R$ 5 mil. Tudo em menos de duas horas entre Foz do Iguaçu e Cidade do Leste, maior centro comercial e segunda maior cidade do Paraguai. Segundo as autoridades em segurança que atuam na fronteira entre os dois países, o caso está longe de ser isolado, mas precisa ser denunciado.

O gaúcho, que por questões de segurança prefere não se identificar, ainda está traumatizado. Ele conta que estava a passeio em Foz do Iguaçu e resolveu fazer compras com a família no país vizinho no dia 28 de fevereiro, quando foi abordado por um suposto guia de compras paraguaio, na BR-277. “Fomos abordados ainda do lado brasileiro, tinha um grupo de mais ou menos dez guias chegando nos carros. Era nossa segunda vez no Paraguai e queríamos comprar perfumes e artigos de decoração. Não pensei que iriamos cair num golpe como esse”, conta o turista.

Foz do Iguaçu e Cidade do Leste estão a menos de dois quilômetros uma da outra, separadas apenas pelo Rio Paraná. O destino de compras é comum a turistas brasileiros e estrangeiros que visitam as Cataratas do Iguaçu. “O turismo de compras está no roteiro, mas para isso é preciso que as pessoas tomem muito cuidado”, alerta a Polícia Federal (PF) à reportagem da Gazeta do Povo.

A travessia do Brasil para o Paraguai na fronteira brasileira mais movimentada se dá exclusivamente pela Ponte da Amizade, por onde passam diariamente mais de 40 mil veículos e cerca de 80 mil pessoas. Quem está acostumado com o turismo de compras dali ignora a abordagem, mas aqueles que não conhecem a rotina ficam mais vulneráveis aos criminosos, avalia a PF.

No caso do turista gaúcho, ele disse ao "guia" o que procurava e foi direcionado por ele (de estatura mediana, magro e que falava em espanhol) para o que seria uma loja onde encontraria “tudo” o que estava procurando. Antes de entrar no estabelecimento indicado, no entanto, foi conduzido com a família para o estacionamento de um shopping na região central de Cidade do Leste. “Até aí não tinha passado pela minha cabeça que aquilo era um golpe. Quando chegamos na tal loja, era bem pequena, não tinha muita coisa. Entramos, trancaram as portas e aí caiu a ficha, vi tinha algo de errado e logo começou a tortura”, relembra.

Segundo a vítima, haviam armas na sala e a família foi fotografada bem perto delas. “Disseram que, se a gente denunciasse, iriam à polícia dizer que estávamos comprando armas ilegais para levar para o Brasil”, relata. Com medo de que algo pudesse acontecer à filha, de três anos, e à esposa, ele entregou todo o dinheiro que tinha na carteira, cerca de R$ 5 mil.

“Fizemos as contas, era mais ou menos o valor da cota que eu e minha esposa poderíamos comprar. Para não usar cartão, levamos o dinheiro. Perdemos tudo, mas o pior é o trauma. Poderia ter sido pior se eles tivessem conseguido acessar o celular. O tempo todo pediam para a gente abrir o aplicativo do banco, fazer PIX, mas a internet não funcionou”, completa. A cota para compras no Paraguai é de US$ 500, algo próximo a R$ 2,6 mil por pessoa.

Horas depois de ser submetida à tortura psicológica, a família foi liberada e voltou ao Brasil sem registrar a ocorrência às autoridades. “Saímos desesperados, voltamos ao Brasil tremendo, o mais rápido que podíamos, mas agradecendo por estarmos vivos. Só depois ficamos sabendo que não fomos os únicos a cair numa situação como essa”, diz a vítima.

Três casos registrados por mês

O crescente número de casos de sequestro-relâmpago e extorsões fez com que a polícia brasileira entrasse no circuito da investigação contra os grupos criminosos. A suspeita é que brasileiros e paraguaios estejam envolvidos no esquema.

Do início de 2022 até agora, a Polícia Turística do Paraguai registrou cerca de 55 casos muito parecidos - média de três por mês - mas a própria polícia acredita que o número de vítimas seja maior. O posto da Polícia Turística do país vizinho ao Brasil fica ao lado da Ponte Internacional da Amizade, logo na chegada em Cidade do Leste.

A orientação que vem sendo dada pela polícia paraguaia é que turistas de compras evitem conversar com estranhos, não atendam às abordagens e não procurem supostos guias para pedir informação.

Segundo Humberto Franco, chefe da Polícia Turística do Paraguai, os relatos registrados na unidade são parecidos, mas não se pode afirmar que há apenas uma quadrilha agindo. O relato da exposição das vítimas próximas a armas de fogo, como meio de chantagem, se repete. Desde que as denúncias se tornaram mais frequentes, três suspeitos de participarem do esquema foram presos.

Do lado brasileiro da fronteira, a Polícia Federal acredita se tratar de quadrilhas distintas, com envolvimento direto e indireto de dezenas de pessoas. Quem não registrou a ocorrência ou ficou com receio de formalizar o caso no Paraguai, pode fazer o boletim de ocorrência no Brasil. “Isso pode ser feito na estrutura da própria aduana”, orienta a Polícia Federal.

Brasileiros envolvidos nos casos de sequestro-relâmpago no Paraguai

O envolvimento de brasileiros nos crimes de extorsão e de sequestro-relâmpago está relacionado ao pedido dos suspeitos por PIX às vítimas, mecanismo nacional de transferência rápida de dinheiro, que não existe no Paraguai.

A PF investiga se as quadrilhas operam com laranjas que emprestam o nome e o CPF para abertura de conta que facilite uma chave PIX ou se os envolvidos diretamente no crime utilizam as próprias contas bancárias para fazer a transação. Mas o órgão federal reforça a necessidade de que as denúncias sejam feitas para que se possa avançar nas informações sobre o modo como a movimentação ocorre, chegar nos titulares das contas e, principalmente, na identificação dos envolvidos.

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