Soja, carne de frango, madeira, automóveis, papel e celulose e açúcar. Esses produtos encabeçam a lista dos mais exportados pelo Paraná. O que eles têm para estar na liderança das exportações? O que outros setores podem aprender com esses para também chegar lá?
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Para a maioria deles, a resposta poderia ser: ‘a vocação natural do Paraná para o agronegócio’. Mas, não é só isso. As condições naturais ajudam, claro, mas há muito trabalho envolvido. “Não é só porque nossos solos são férteis. Há muito investimento em tecnologia e na profissionalização e organização do produtor rural”, observa Flávio Turra, gerente técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).
Ele cita o exemplo da soja: além das condições de solo, que garantem boa produtividade, a produção em escala e a organização dos produtores em cooperativas viabilizam a comercialização de grandes volumes.
O economista da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Marcelo Alves, destaca o volume de produção, a garantia da entrega e a qualidade do produto como essenciais para um setor conquistar o mercado externo e se manter nele.
No caso da carne de frango, tudo isso é bem evidenciado. É um trabalho de décadas, onde predomina o modelo de integração entre produtores e abatedouros e na especialização cada vez maior, com a customização da produção.
As indústrias do setor, muitas delas cooperativas, produzem cortes especiais para atender os principais mercados consumidores, China e Japão. E o frango griller, de tamanho pequeno, pesando cerca de 1 quilo e comercializado inteiro, para atender o mercado islâmico.
Para atender este mercado especificamente, o setor se especializou e hoje a maior parte das plantas frigoríficas do setor de aves no Paraná tem a certificação para realizar o abate halal, que segue as regras aceitas pelo consumidor muçulmano.
Carnes, madeira compensada e veículos estão entre os produtos que a Alemanha compra do Paraná e, de acordo com a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK Paraná), é a produtividade no agronegócio e a modernidade do parque fabril nesses setores que tornam os produtos atraentes. “Os bens produzidos têm qualidade e atendem as exigências do mercado alemão”, diz Andreas Hoffrichter, diretor da AHK.
Investimento em diversificação nas indústrias de base florestal
Os produtos de base florestal também têm destaque nas exportações. No caso da madeira, o que favorece a boa performance é o adequado manejo das florestas plantadas e a diversificação e estrutura do parque industrial. O Paraná produz tudo dentro do segmento, desde vigas para estruturas na construção civil, como molduras para esquadrias e acabamentos e chapas de MDF para pisos, forros e móveis. A madeira é exportada principalmente para os Estados Unidos e a China.
Cerca de 60% das exportações de produtos de madeira do Paraná têm como destino os Estados Unidos. “Fatores como qualidade, preço e oferta exportável favorecem essas vendas, recentemente impulsionadas também pelo aquecimento da construção civil e do mercado imobiliário norte-americanos”, diz Abrão Árabe Neto, vice-presidente executivo da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil).
O economista do Ipardes, Francisco Gouveia de Castro, cita também a produção de papel e celulose. “Esse setor ganhou um grande aporte de investimentos no Paraná com o grupo Klabin ampliando sua operação, o que contribuiu para a expansão das exportações. Além disso, o crescimento da demanda mundial por embalagens tem favorecido as vendas”, destaca.
O aquecimento do mercado de embalagens foi sentido pela Ibema, que tem sede administrativa em Curitiba, centro de distribuição em Araucária e fábrica em Turvo, no Centro-Sul do Paraná. “Nós exportamos hoje cerca de um quarto de nossa capacidade instalada, de 140.000 toneladas/ano, de papelcartão”, informa Leonardo Reis, gerente de Negócios Internacionais e Distribuição da Ibema.
Ele explica que o produto é utilizado em larga escala na produção de embalagens para indústrias de alimentos, remédios e cosméticos do mundo todo. Reis atribui a boa performance das exportações também ao desenvolvimento de novos produtos, como, por exemplo, cartões para copo ou com fibras recicladas para solucionar o problema do lixo. As exportações representam 25% das vendas da Ibema e os principais mercados fora do Brasil são Argentina, Portugal, Reino Unido e Paraguai.
Automóvel é único produto fora do agro entre os primeiros nas exportações do PR
“Em relação aos automóveis, único produto de fora do agronegócio que figura nas primeiras colocações da pauta de exportações do Paraná, pode-se atribuir às fábricas que o Paraná atraiu”, diz Naijla El Alam, do Centro Internacional de Negócios, do Sistema Fiep.
Uma delas é a francesa Renault, com o complexo industrial Ayrton Senna, instalado em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.
“Neste mês de setembro, completamos a marca de mais de 900 mil veículos exportados, ao longo dos 22 anos de produção no Paraná”, diz Ricardo Gondo, presidente da Renault do Brasil. Segundo ele, a planta paranaense é a única a produzir os veículos Kwid, Captur, Oroch e Master, sendo polo exportador.
Para o presidente da Renault do Brasil, o país pode avançar nas exportações. Mas para isso tem grandes desafios. Ele cita como necessárias as reformas tributária e administrativa e a segurança jurídica para dar previsibilidade e assegurar futuros investimentos.
“Na América Latina, o México tem sido um dos países mais competitivos do segmento, de acordo com estudos divulgados pela Anfavea. O México é 18% mais competitivo no custo da produção de automóvel em comparação ao Brasil”, pontua. Ele diz que por isso o Brasil perdeu em exportações, citando o exemplo do Duster, que é exportado para a Argentina e desde 2018 não é mais fabricado no Brasil.
Especialista em negócios internacionais, o professor João Alfredo Lopes Nyegray, da Universidade Positivo (UP), diz que o Brasil exporta muito pouco. “Singapura, que é muito menor, exporta muito mais que nós”, observa. O professor lembra que “na década de 50, quase 2% do mercado mundial era do Brasil e hoje sofremos para chegar a 0,8%. É ínfimo, considerando as potencialidades que o país tem”.
Em relação ao Paraná, para Nyegray, as exportações poderiam ser bem maiores. “O estado não só é o agronegócio, é muito mais que isso”, afirma. Ele cita como áreas potenciais para avançar nas exportações paranaenses: veículos, biocombustíveis, papel e celulose e alimentos em geral.
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