O protagonismo paranaense na produção de madeira é uma tradição consolidada no estado. O desenvolvimento de florestas plantadas veio do século XX. Os empresários da época observaram que a produção de araucária estava diminuindo e precisavam de uma alternativa. Com características de boa durabilidade e crescimento mais rápido, a madeira de pinus entrou na indústria para alavancar a produção e a exportação. O solo fértil e o clima favorável também contribuíram para o Paraná deslanchar em área plantada, com mais de 713 mil hectares de pinus, liderando o ranking nacional.
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O Paraná tem 1,17 milhão de hectares plantados para fins comerciais, de acordo com a Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre). No estado, as madeiras mais cultivadas no são pinus e eucalipto. Mas a área plantada de pinus é maior. Eucalipto tem quase 450 mil hectares. Com um ponto de corte de 6 a 7 anos, o eucalipto é muito utilizado para biomassa e, na serraria, o corte pode ser feito de 13 a 14 anos.
Já o pinus pode variar o corte para o uso de biomassa e celulose de 13 a 14 anos e para serraria de 18 a 21 anos, com uso múltiplo. “O pinus é usado para laminação, compensado, madeira desdobrado, portas, molduras e fabricação de móveis. Também é usado na indústria de celulose e para energia”, explica José Mauro Moreira, pesquisador da Embrapa Florestas.
Junto com Santa Catarina, o Paraná tem o maior destaque nessa cadeia produtiva, evidencia ele. "Com destaque no pinus e exportação de produtos de madeira serrada, molduras, compensados e móveis de madeira”, acrescenta Moreira.
Com uma cadeira produtiva diversificada, Breno Menezes de Campos, chefe do Departamento de Florestas Plantadas da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, afirma que o Paraná tem instituições consolidadas, empresas e universidades que agregam qualidade ao setor florestal. “Temos uma cadeira madura e desenvolvida. Temos um parque industrial formado por grandes empresas e agrega valor na cadeia produtiva. O Paraná tem empresas privadas fortes no setor florestal. Um clima favorável e solo também”, aponta ele.
O amplo parque fabril instalado no Paraná também é evidenciado pelo superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), Paulo Pupo. "O Paraná tem ótimo nível tecnológico e de inovação, uma matriz florestal bem distribuída, especialmente da espécie pinus, sendo a principal área plantada do país nessa espécie. Essa distribuição abrange praticamente todas as regiões do estado, resultando no desenvolvimento e consolidação de polos industriais madeireiros de variados segmentos de produtos”, complementa.
Paraná é responsável por mais de 54% do volume de pinus no Brasil
O Paraná tem a maior área plantada de pinus do Brasil, com mais de 54% do volume, segundo dados da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre). Há mais de 713 mil hectares de pinus plantados. Santa Catarina aparece logo em seguida em área plantada de pinus. A logística e a localização geográfica favorecem a atender o mercado nacional e internacional.
O estado paranaense é líder nas exportações de compensado de pinus, painéis reconstituídos e molduras. Dados da Apre apontam que o crescimento no volume exportado de compensado de pinus foi de 3,5% em volume e em 87,1% em valor, em 2021. Naquele ano, o Paraná exportou 66,47% de compensado de pinus.
O principal destino das exportações de compensados de pinus foi os Estados Unidos, com US$ 550,8 milhões do total nacional e US$ 365,3 milhões da exportação paranaense do produto.
Na exportação de painéis reconstituídos, o Paraná é responsável por 38,6% do total. A produção de painéis reconstituídos de madeira foi de 8,2 milhões de m³ no Brasil, em 2021. Pelos dados da Apre, o Paraná registrou um crescimento na receita de exportação de 79% e, em volume, um aumento de 22,6%.
Em molduras, o Paraná também se destaca na exportação, com 70,6%. Mais de 122 mil toneladas de molduras foram exportadas em 2021. Novamente, a construção civil dos Estados Unidos é o principal mercado. “O estado consegue, com essa cadeia industrial, beneficiar esse produto para exportar para diversos países”, comenta Zaid Ahmad Nasser, presidente da Apre.
Empresa vanguarda do setor tem capacidade de produção de 3,5 milhões m³ por ano
O Paraná é responsável por 16,5% dos empregos do setor florestal do Brasil. O segmento emprega mais de 100 mil pessoas nas 5.680 empresas. Uma das empresas que é vanguarda no setor florestal é a Berneck, atuando há 71 anos no mercado.
“A gente, muito cedo, começou a exportar, ainda na década de 1970, vendíamos no Brasil, mas a exportação ganhou força e nos permitiu dar continuidade no negócio. Já fomos a maior do Brasil”, afirma Graça Berneck, copresidente e diretora comercial e marketing da Berneck.
Por volta dos anos 1980, a empresa começou a investir no cultivo florestal de pinus. “Em um determinado momento, tinha um incentivo fiscal para pinus e começamos a plantar sem muito saber o que íamos fazer. A gente entendia que aquele produto poderia se tornar um futuro. Nos anos 1980, ter a base florestal nos proporcionou entrar no negócio de madeira reconstituída, como MDP e MDF”, conta.
Hoje, a Berneck trabalha com 100% dos produtos de madeira de pinus, como portas, madeira serrada, laminado e painéis de fibra. A capacidade da empresa é de 3,5 milhões m³ por ano de madeira.
A empresa fornece 30% da produção para o mercado doméstico e os outros 70% vão alimentar o mercado externo. Com mais de 3.500 TEUs (medida de unidade para exportação em contêineres) por mês de volume exportado, a Berneck atende com força o mercado asiático.
Com três serrarias, em Araucária (PR), Curitibanos (SC) e Lages (SC), a empresa pretende investir em tecnologia. “Toda a produção é seca em estufa, nosso maquinário permite precisão milimétrica nos cortes. Nossas serrarias têm capacidade de fornecer uma capacidade infinita de dimensões e de classificações”, afirma Graça. “Para o wood frame requer uma classificação especial, uma medição de ultrassom para ver a resistência [da madeira]”, acrescenta.
O sistema wood frame é um tipo de construção que utiliza madeira de reflorestamento para compor a estrutura. As peças de madeira verticais e horizontais são usadas para formar a construção. A empresa enxerga potencial nesse modelo de produção e se prepara para que o sistema cresça no Brasil.
Empresa exporta 100% da produção de molduras em madeira
A BrasPine começou em 1997, em Jaguariaíva (PR). O empreendimento se instalou na região repleta de árvores. A empresa atua no segmento de molduras, como rodapés, marco de porta, componentes de decoração e itens de acabamento para construção civil. “Tudo é exportado e a grande maioria vai para os Estados Unidos, que tem um uso muito forte na construção civil”, destaca Giovani Giacomet, diretor administrativo e financeiro da BrasPine.
Com produção feita a partir de madeira pinus, em 2021, a BrasPine começou a investir em outro segmento: pellets. “Pellet é a serragem compactado em um formato cilíndrico pequeno e usado para queima e geração de energia. Substituem combustíveis de fontes não renováveis”, explica Giacomet. Por ano, a empresa produz mais de 170 mil toneladas do produto.
“A maior termoelétrica da Inglaterra funciona com carvão e passaram a converter para pellets de madeira”, cita. Na produção de pellets de madeira, uma parte é destinada para o mercado doméstico e outra é exportada para a Europa.
Com uma parte de base florestal própria, a empresa paranaense busca investir nos pellets, pela alternativa de energia renovável. “Em pellets, queremos desenvolver mais no mercado doméstico e acreditamos que pode substituir GLP e gás natural, que são combustíveis não renováveis e poluentes”, destaca Giacomet.
Setor florestal brasileiro é destaque em sustentabilidade
Quando se fala em sustentabilidade, o setor florestal brasileiro é destaque, de acordo com Paulo Pupo, superintendente da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente). Isso porque tem investido em pesquisas. “Por exemplo, em pesquisas genéticas que proporcionam às principais espécies plantadas no país (pinus e eucalipto) ótima produtividade por hectare. As práticas do ESG (sigla em inglês que significa Ambiental, Social e Governança) que agora passam a ser utilizadas por diversos segmentos já fazem parte da rotina das empresas há muito anos”, explica.
O setor também tem participação no processo de descarbonização e na absorção e retenção do carbono presente na atmosfera. “Este permanece estocado na madeira utilizada como matéria-prima para fabricação de produtos madeireiros e, consequentemente, durante todo o ciclo de vida dos produtos”, diz Pupo.
Zaid Ahmad Nasser, presidente da Apre, afirma que praticamente para cada hectare plantado com madeira de pinus há a preservação de outro um hectare de floresta nativa. “Temos vínculos com dez instituições de ensino e pesquisa para desenvolvimento de novas práticas florestais e com viés industrial para ter conectividade com a indústria. Nós vemos, durante esses mais de 50 anos de história, um desenvolvimento de técnicas industriais e ambientais para reduzir impacto”.
Inovação e tecnologia proporcionam melhor desempenho no setor de madeira
As empresas do setor florestal buscam inovação e tecnologia para atrair mais clientes e procurar alternativas variadas para o uso da madeira. Essa busca por inovação traz linhas de produção modernas capazes de aumentar a qualidade e produtividade.
“O setor madeireiro nacional tem boa posição de competitividade, sendo um dos principais setores produtivos da economia, gerando emprego e renda, e atendendo tanto à demanda do mercado nacional quanto a dos principais mercados internacionais”, destaca o superintendente da Abimci.
Um dos exemplos do avanço da tecnologia e da madeira é no uso pela construção civil. A técnica do wood frame, muito utilizada nos Estados Unidos e países da Europa, usa a madeira para a construção de residências.
O sistema de wood frame é uma alternativa do modelo convencional, a alvenaria. Uma construção que visa reduzir o tempo de execução da obra, diminuir os resíduos e economizar energia. A aposta é que o Paraná alavanque esse modelo na construção civil.
“Empresas investindo nesse segmento de construções em madeira, novas plantas sendo instaladas e o Paraná lidera o movimento para a consolidação desses sistemas no mercado brasileiro, em diferentes modelos de empreendimentos imobiliários”, evidencia Pupo.
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