Salas comerciais ocupadas, restaurantes lotados, lojas com clientes e oportunidades de emprego. Em meio à lenta retomada da economia brasileira, esse parece um cenário de sonhos, mas é a realidade observada em algumas regiões de Curitiba. Capitaneando esse movimento está o Ebanx, empresa local que atua em soluções de pagamentos globais e que em 16 de outubro entrou para o distinto clube de unicórnios – startups que ultrapassam o valor de mercado de US$ 1 bilhão.
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Ao que tudo indica, o Ebanx – primeiro unicórnio do Sul do e 9º do país – é apenas o primeiro dentre outros curitibanos a atingir a marca. A partir da sinergia entre prefeitura de Curitiba, governo estadual, universidades e iniciativa privada, está se formando um carrossel de inovações na capital do Paraná: são 368 negócios disruptivos listados, marcados pelo alto grau de tecnologia usado na busca de soluções replicáveis em larga escala. O dado é da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), que coloca Curitiba como a 5ª capital do ranking.
A Agência Curitiba de Desenvolvimento tem números ainda maiores. “Temos na nossa rede de startups algo em torno de 450 a 470. É um número dinâmico porque todo dia tem alguém se cadastrando”, diz Marlon Cardoso, gestor do Tecnoparque, programa de benefício fiscal para empresas de base tecnológica. “É um momento sensacional, de aquecimento da economia que tem sido proporcionado através da inovação tecnológica, e tem relação com a economia criativa, com a produção de novos conhecimentos, novos produtos ou novos usos daquilo já conhecido”, celebra.
O crescimento dessas startups locais tem sido tão grande que o impacto transborda para outros ramos da economia tradicional. O benefício direto atinge o setor imobiliário e de alimentação do Centro de Curitiba, lar de diversas empresas emergentes. Elas se concentram em prédios comerciais da Marechal Deodoro, especialmente em vários andares do Centro Comercial Itália. Proprietária de uma confecção infantil no Shopping Itália desde 1991, a empresária Cristina Sakaguti destaca a importância do fluxo de trabalhadores das startups: “Temos um pouco de turistas que frequentam, mas não há atrações como nos demais shoppings. Essas pessoas que frequentam no dia a dia é que se tornam grandes clientes.”
Na mesma quadra do Itália, o polo gastronômico Villa Urbana está completando um ano de existência com ampliações e novos serviços na área de 2.800 metros quadrados entre a Marechal e a José Loureiro. A presença das startups animou os investidores do projeto, e as expectativas se confirmaram, conta Roselis Aguiar, uma das sócias da Villa. “Grande parte dos clientes trabalham nessas empresas. A presença delas aqui pesou na escolha da área, e também nossa iniciativa de requalificar o Centro, que andava meio esquecido”, conta.
O empreendimento conta com 54 operações entre lojas, serviço e gastronomia, mas ainda há espaço para mais negócios no entorno. “Um restaurante ao lado da gente que estava abandonado já foi revitalizado e do outro lado da Marechal abriu uma operação de gastronomia bem legal. Isso é muito bom, as pessoas ocupando o Centro, a rua, apagando aquele estigma de que não é seguro. É bem seguro, com policiamento, muita gente andando, universidades próximas, estudantes”, acrescenta.
O aquecimento da economia em Curitiba também pode ser constatado pelo número de empregos. Entre janeiro e setembro de 2019, foram criadas 18,7 mil vagas com carteira assinada, o terceiro melhor desempenho entre as capitais, atrás de São Paulo (72,4 mil) e Belo Horizonte (19,4 mil). Também foi o melhor saldo na capital paranaense dos últimos cinco anos – a crise brasileira levou ao fechamento contínuo de vagas entre 2015 e 2017, com início da retomada em 2018. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério da Economia.
Outro indicador positivo é a arrecadação a partir das atividades empresariais. Acompanhando a tendência nacional, o Imposto sobre Serviços (ISS) rendeu R$ 1,3 bilhão aos cofres municipais de Curitiba nos 12 meses anteriores a agosto, alta de 12,9% em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse resultado é bem superior ao observado nas receitas correntes como um todo, que cresceram 6,2% no mesmo período, segundo os relatórios de execução orçamentária enviados ao Tesouro Nacional.
Vale do Pinhão
Em 2017, com o lançamento do Vale do Pinhão, a prefeitura de Curitiba se tornou protagonista institucional na relação com as startups. O projeto tem cinco pilares: sistema jurídico e incentivos fiscais para projetos inovadores; apoio à educação e ao empreendedorismo; tecnologia, conexão e integração e desenvolvimento urbano. No dia 21 de outubro, a Câmara de Vereadores aprovou projeto de iniciativa da prefeitura para a criação do Fundo de Inovação do Vale do Pinhão (Inova VP), com recursos públicos de R$ 10 milhões para impulsionar empreendedores inovadores, atrair mais negócios e fomentar o ecossistema de startups da cidade. O texto, que será sancionado pelo prefeito Rafael Greca (DEM) nesta segunda-feira (4), prevê ainda que o fundo poderá receber repasses de convênios governamentais e não governamentais, doações, rendimento de aplicações e outras fontes.
Atualmente, já são realizadas diversas palestras e oficinas para empreendedores locais. “Estamos em um movimento muito intenso, às vezes são mais de dez eventos no mesmo dia, não só promovidos pela prefeitura, mas pelos demais players que participam desse ecossistema de inovação”, diz Marlon Cardoso, do Tecnoparque.
Mesmo assim, ainda há muito o que fazer, opina Nayana Rogal, gerente de Cultura Corporativa do Ebanx. “A gente nunca fez algo todas as startups juntas, por exemplo. Isso está nos nossos planos em 2020”, revela.
Ainda não houve um grande evento conjunto, mas são inúmeras as trocas de informação e apoio no dia a dia. “Para colocar Ebanx no mapa precisamos levar junto as outras pessoas, todo mundo que está por aqui. Não existe rivalidade. Precisamos trabalhar para destacar Curitiba nesse mapa de inovação. Ainda há muitas oportunidades, mas, com certeza, aquela ideia de rede, de muito tempo atrás, é o que está acontecendo. É a comunidade entendendo que quando os grandes investimentos acontecem, todo mundo olha para cá, e é importante para todo mundo”, observa.
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