• Carregando...
Vacina contra sarampo
Vacinação contra a Poliomielite e Sarampo.| Foto: Carlos Bassan/Fotos Públicas

A Secretaria de Saúde do Paraná (Sesa-PR) confirmou na última quarta-feira (7) o primeiro caso de sarampo no estado depois de 20 anos. Um alerta já havia sido emitido no fim de julho para todo o estado. A preocupação é grande desde que os surtos da doença chegaram a São Paulo, que já contabilizou 967 casos neste ano. Outro estado vizinho, Santa Catarina registrou a entrada de três turistas de outros estados infectados. O Paraná também tinha confirmado três casos importados, entre os meses de junho e julho. A única forma de prevenir o sarampo é a vacinação.

RECEBA notícias pelo messenger do Facebook

Dentro do Programa Nacional de Imunização (PNI), a vacina que protege do sarampo é a tríplice viral, que também previne contra a caxumba e a rubéola. Ela é ministrada em duas doses: uma aos 15 meses e outra entre 10 e 19 anos de idade. A vacina só é contraindicada para gestantes, bebês menores de seis meses de idade, pessoas imunocomprometidas ou que tenham suspeita de infecção pelo sarampo. Adultos que não tenham tomado - ou não têm certeza se foram vacinados - podem ser imunizados em duas doses (para indivíduos de 20 a 29 anos) ou em uma dose (para pessoas de 30 a 49 anos).

Antes da implementação do PNI, o sarampo era uma das principais causas de morte infantil no país. "Era uma doença endêmica (típica) e todo ano vitimizava milhares de crianças", conta a pediatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai. Com intensas campanhas de vacinação, a doença autóctone (contaminação local) foi eliminada, sendo que a cobertura vacinal garantia que ocorrências pontuais não se espalhassem.

Em 2016, o Brasil tinha sido declarado como livre do sarampo pela Organização Mundial da Saúde, mas, dois anos depois, mais de 10 mil pessoas foram infectadas com o vírus na região Norte do país. Agora, a doença chega à região Sudeste.

Extremamente infeccioso, o vírus do sarampo só está conseguindo se espalhar tão facilmente porque a cobertura vacinal está abaixo do suficiente para garantir a imunização em massa. Dados de fevereiro do Ministério da Saúde (MS) mostraram que 49% dos municípios do país (2.751 cidades) não atingiram a meta da cobertura vacinal para o sarampo. Para garantir a imunização coletiva contra a doença, é necessário que no mínimo 95% da população esteja vacinada. No Paraná, até o mês de junho deste ano, a cobertura era de 89,8% na faixa etária menor de 1 ano.

E essa não é a única doença que vem preocupando autoridades de saúde recentemente. Números expressivos de casos de infecção por HIV, febre amarela, sífilis, tuberculose e dengue chamam atenção no Paraná. Além da falha na cobertura vacinal, outros aspectos influenciam o ressurgimento de doenças que estavam sob controle - chamadas de doenças reemergentes. "Temos um acelerado processo de urbanização e de migração, então há uma alta mobilidade de pessoas no mundo todo", pontua a diretora de Atenção e Vigilância em Saúde da Sesa-PR, Maria Goretti Lopes. "Também temos muitas alterações no ecossistema, com alterações térmicas importantes, e doenças que antes só ocorriam em um período, agora acabam acontecendo no ano todo, já que os vetores se adaptam a esse novo clima."

O sucesso de estratégias de saúde pública traz consigo um problema involuntário. Quando as doenças "desaparecem" do cotidiano, a população - e, algumas vezes, até o próprio governo - esquece seus efeitos e que a prevenção de doenças é um trabalho constante, já que os vírus continuam circulando no mundo. "Nós, enquanto governo, não podemos parar nunca de informar a população. Temos que continuar permanentemente fazendo campanhas, produzindo materiais informativos, indo para praças públicas distribuir esses materiais. Temos que fazer chegar a informação", afirma Goretti.

No caso de doenças imunopreveníveis, como o sarampo, a vacinação é melhor solução. Isabela lembra que, até os anos 2000, a vacina tríplice viral não estava disponível na rede pública. Assim, procurar as unidades de saúde é importante também para os adultos. "Não tem problema vacinar mesmo que tenha tido sarampo, mesmo que já tenha sido vacinado. Mas, ficar na dúvida [sobre o seu status de imunização], esperando ter certeza se teve ou não a vacina, pode fazer você pegar o sarampo", alerta.

Veja a lista das doenças que voltaram a registrar aumento no número de casos, mesmo facilmente preveníveis:

Sarampo

Doença viral grave que se manifesta produzindo alterações na pele. Extremamente infeccioso, o vírus pode ser transmitido pela fala, tosse, espirro e respiração. Os principais sintomas são febre alta (acima de 38,5°C); dor de cabeça; manchas vermelhas na pele, que surgem primeiro no rosto e atrás das orelhas, e, em seguida, se espalham pelo corpo; tosse; coriza; conjuntivite; manchas brancas na mucosa bucal (conhecidas como sinal de koplik, antecedem em um ou dois dias o aparecimento das manchas vermelhas).

O sarampo pode levar, principalmente em menores de dois anos a adultos jovens, a infecções respiratórias, otite, doenças diarreicas e neurológicas (encefalite). Essas complicações podem deixar sequelas como diminuição da capacidade mental, cegueira, surdez e retardo do crescimento. O agravamento da doença pode levar à morte de crianças e adultos.

A prevenção do sarampo é feita pela vacina tríplice viral, disponível no SUS. O último caso autóctone de sarampo confirmado no Paraná foi em 1999, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.

Aids/HIV

Doença sexualmente transmissível causada pela pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). O HIV tem um período de incubação prolongado antes do surgimento dos sintomas e ataca o sistema imunológico, o responsável por defender o organismo de doenças. As células mais atingidas são os linfócitos CD4 e a Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas derivados da queda da taxa dos linfócitos CD4, quando a infecção pelo HIV não é tratada.

Com a progressão da doença, o sistema imunológico vai sendo cada vez mais atacado e, consequentemente, o portador fica suscetível a mais infecções – as chamadas doenças oportunistas. Ter o HIV não é a mesma coisa que ter Aids, já que muitas pessoas vivem por vários anos com o vírus HIV sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença. Porém, elas ainda podem transmitir o vírus quando não são tomadas as devidas medidas de prevenção.

O HIV pode ser transmitido por relações sexuais desprotegidas (no sexo vaginal, anal ou oral), pelo compartilhamento de objetos perfurocortantes contaminados (como seringas), por transfusão de sangue contaminado ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação.

Enquanto o número de pessoas que chegam a desenvolver a Aids vem diminuindo progressivamente, devido à eficácia do tratamento, os casos de infecção pelo HIV têm crescido, especialmente entre os mais jovens. Segundo a Sesa-PR, entre 2010 e 2018, houve um aumento de 517% do número de casos de HIV na faixa etária de 15 a 24 anos.

Assim como no caso da sífilis, a contaminação pelo HIV pode ser evitada pelo uso da camisinha durante o sexo. Além disso, populações de risco - homens que fazem sexo com homens (HSH), pessoas trans, profissionais do sexo e casais sorodiferentes (em que um dos integrantes vive com o HIV e o outro não) - dispõem também de intervenções medicamentosas. O teste para infecção pelo HIV, preservativos e antirretrovirais usados preventivamente são ofertados pelo SUS.

Febre amarela

É uma doença viral potencialmente grave e a maioria dos infectados apresenta poucos ou nenhum sintoma. Para os que adoecem as consequências podem ser severas - a letalidade varia de 30 a 60%. Os que se recuperam garantem imunidade permanente. Em áreas urbanas, a febre amarela é transmitida principalmente pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo da dengue.

Os primeiros sintomas são febre alta, calafrios, cansaço, dor de cabeça, dor muscular, náuseas e vômitos por cerca de três dias. Depois de um breve período de bem-estar, de aproximadamente dois dias, o quadro pode melhorar ou evoluir para a forma mais grave da febre amarela. Nesse caso, o doente pode sofrer com insuficiências hepática e renal, icterícia (olhos e pele amarelados), manifestações hemorrágicas e cansaço intenso.

Além do combate ao vetor, a febre amarela é prevenida por meio da vacina. Feita com o vírus vivo, uma dose padrão imuniza para a vida toda. O SUS oferta vacina para a população.

De julho de 2018 a julho de 2019, foram confirmados 17 casos de febre amarela no estado, sendo que em um deles o doente morreu. Nos últimos dez anos, o estado tinha registrado apenas casos únicos e isolados em 2009, 2013 e 2015. Em 2008, quando um surto da doença atingiu o país, quatro casos foram confirmados.

Sífilis

É uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) que pode apresentar diferentes estágios (primário, secundário, latente e terciário). Nos estágios primário e secundário, a possibilidade de transmissão é maior. Além da transmissão por relação sexual sem camisinha, a doença também pode passar para a criança durante a gestação ou parto.

Os sintomas variam de acordo com o estágio da doença. Na sífilis primária, geralmente se manifesta como uma única ferida, indolor, que aparece no local de entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca ou outros locais da pele) entre dez e 90 dias após o contágio. Na sífilis secundária, os sinais - manchas no corpo, febre, mal-estar, dor de cabeça e ínguas - aparecem entre seis semanas e seis meses depois do aparecimento e cicatrização da ferida inicial. A sífilis latente é assintomática. E na terciária, os sintomas podem surgir de dois a 40 anos depois do início da infecção, na forma de lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte.

Nos últimos anos, houve um aumento exponencial da doença em todo o território nacional, tanto de casos congênitos quanto por contaminação direta. De acordo com os dados mais recentes do MS, no Brasil, a taxa de detecção da sífilis adquirida chegou a 58,1 casos para cada 100 mil habitantes, em 2017. No Paraná, entre 2010 e 2018, os diagnósticos de sífilis adquirida dispararam de 75, em 2010, para 9.993, em 2018 - um aumento de mais de 130 vezes.

A única forma de prevenção da sífilis é o uso do preservativo durante as relações sexuais. Como os sintomas podem demorar a aparecer, também é importante fazer o exame para diagnóstico da doença. O teste rápido de sífilis está disponível nos serviços de saúde do SUS e o resultado fica pronto em, no máximo, 30 minutos.

Tuberculose

Causada pelo bacilo de Koch, é uma doença bacteriana infecciosa que afeta principalmente os pulmões, mas também pode atingir outros órgãos como ossos, rins e meninges (membranas que envolvem o cérebro). Principal responsável pela manutenção da cadeia de transmissão da doença, a forma pulmonar é a mais frequente e mais relevante para a saúde pública. A forma extrapulmonar ocorre mais frequentemente em pessoas que vivem com o HIV.

O principal sintoma é tosse por três semanas ou mais, que pode ter expectoração e sangue, falta de ar, dores no peito, fraqueza, perda de peso, febre e suores, principalmente ao final do dia. Transmitida por vias aéreas, a principal forma de prevenir a tuberculose em crianças é com a vacina BCG, ofertada gratuitamente pelo SUS. Ainda que a vacina BCG não tenha 100% de eficácia na prevenção da tuberculose pulmonar, ela previne formas graves da doença, como a meningite tuberculosa e a tuberculose miliar.

A tuberculose é a quarta causa de morte entre as doenças infecciosas no Brasil - e primeira entre doenças infecciosas em pessoas com HIV. Profundamente ligada a problemas sociais, todos os anos são diagnosticados aproximadamente 70 mil novos casos e ocorrem cerca de 4,5 mil mortes em decorrência da tuberculose no país, de acordo com o MS. Entre 2017 e 2018, o país registrou queda de 0,63% no número de diagnósticos. O Paraná, no entanto, teve um aumento de 15% no total de casos novos de tuberculose no mesmo período.

Dengue

Também transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti, existem quatro sorotipos do vírus da dengue. A infecção por um sorotipo gera imunidade permanente para ele, mas cada pessoa pode ter os quatro tipos da doença ao longo da vida.

A infecção pode ser assintomática ou causar um amplo espectro de sintomas: febre alta, dores musculares intensas, dor ao movimentar os olhos, mal-estar, falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas pelo corpo. A forma grave da doença inclui dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes e sangramento de mucosas, podendo levar à morte.

Dados preliminares da Sesa-PR mostram que foram diagnosticados, entre agosto de 2018 e julho de 2019, quase 23 mil casos de dengue no estado. Este já é o quinto maior surto de dengue no Paraná desde 2010.

A melhor forma de prevenção da dengue é evitar a proliferação do mosquito Aedes Aegypti, eliminando água armazenada em locais que podem se tornar possíveis criadouros. Só existe uma vacina contra dengue registrada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que está disponível na rede privada. Usada em três doses no intervalo de um ano, ela só deve ser aplicada em pessoas que já tiveram pelo menos uma infecção por dengue.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]