Estão marcadas para a próxima sexta-feira (20), no Fórum de Guarapuava, região centro-sul do Paraná, as audiências onde serão ouvidos dois dos presos suspeitos de participarem da tentativa de assalto a uma transportadora de valores na cidade, em abril do ano passado. A violenta ação criminosa, que não teve sucesso no roubo de valores, terminou com um policial morto, o sargento Ricieri Chagas.
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Outras audiências já vêm sendo realizadas desde o início da semana para ouvir as testemunhas de acusação e de defesa. Após os depoimentos dos dois suspeitos, estão previstas as alegações finais do Ministério Público e da defesa. Após cumprida esta etapa, será definida a sentença para os suspeitos.
Os suspeitos são réus pelos crimes de latrocínio – que é o roubo seguido de morte –, porte de armas de uso restrito, sequestro de oito pessoas que foram usadas como escudo humano durante a fuga, cinco incêndios e danos ao patrimônio público.
Ambos os suspeitos foram detidos em São Paulo, meses após o ataque. As prisões foram feitas em operações conjuntas das polícias de São Paulo e Paraná. Além desses dois réus, outros suspeitos foram presos e devem ser julgados em outros processos.
Para comandante-geral da PM do Paraná, lições foram aprendidas com o ataque a Guarapuava
Em entrevista à Gazeta do Povo, o comandante-geral da PM do Paraná, coronel Sérgio Almir Teixeira, disse que o ataque em Guarapuava deixou lições para a corporação. Ele reconheceu o que chamou de “reação rápida” tomada por seu antecessor, o coronel Hudson Teixeira, e destacou que hoje a Polícia Militar conta com um plano de ação melhor do que o que havia à época – plano cuja existência foi contestada por policiais militares de Guarapuava dias depois do ataque.
“Hoje nós temos planos de ação muito mais detalhados do que tínhamos no passado. Nós tivemos um plano de ação naquele momento, talvez não à altura do que aquela quadrilha tinha preparado. Precisávamos ter evoluído, e infelizmente conseguimos alcançar essa evolução somente após aquele ataque. Hoje nós ampliamos nossa inteligência para que possamos, de alguma forma, antecipar ou mesmo entrar no planejamento dessas quadrilhas, e também na parte operacional, com lições sobre o que fazer e como fazer em caso de novos ataques”, afirmou o comandante.
Relembre o caso do assalto à transportadora de valores em Guarapuava
Em um ação do novo cangaço, cerca de 30 bandidos fortemente armados tentaram assaltar uma empresa de transporte de valores em Guarapuava na madrugada de 18 de abril de 2022. Na ação, que começou perto da meia-noite e avançou pela madrugada, o grupo tentou acuar a Polícia Militar (PM), que reagiu. Até um blindado do Exército patrulhou algumas ruas durante a ação. Moradores também foram feitos de reféns em um escudo humano para que os bandidos não fossem alvejados.
Para prejudicar o trabalho da polícia, o bando armado queimou veículos em rodovias e em frente ao Batalhão da PM, onde também foram disparados tiros para impedir a saída dos policiais enquanto outra parte do grupo agia na empresa de transporte de valores. Os criminosos também fecharam os acessos a Guarapuava.
Dois policiais e um morador foram vítimas de disparos de armas de fogo. Um PM levou um tiro na cabeça e acabou morrendo. Outro policial teve fratura exposta na perna ao ser alvejado. Um terceiro policial chegou a ter o colete à prova de bala perfurado por um projétil no peito, exatamente na altura do coração, e foi salvo pelo celular que carregava no bolso. Já o morador levou um tiro no braço sem maiores consequências.
O comando da Polícia Militar (PM) do Paraná afirma que estava à espera do ataque à empresa de transporte de valores em Guarapuava. O grupo estaria sendo monitorado, inclusive com informações repassadas pelas polícias de São Paulo e Santa Catarina. Segundo a corporação, o plano de contingência executado pelo 16º Batalhão (16° BPM) na cidade impediu que os criminosos levassem dinheiro da empresa.
O deputado estadual Coronel Lee (DC), ex-comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar, subiu à tribuna da Assembleia Legislativa do Paraná no dia 18 de abril de 2022 para relatar que cruzou com o bloqueio feito pelos assaltantes, colidiu, e capotou seu carro no bloqueio e trocou tiros com a quadrilha enquanto esperava por socorro, que só chegou duas horas depois, segundo o deputado.
Além da PM, agentes das polícias Civil, Científica, Federal e Rodoviária Federal reforçaram a investigação e as buscas pelo grupo de assaltantes. O planejamento do comando da PM era de permanecer na área rural de Guarapuava por no mínimo quatro dias para tentar prender o grupo.
De acordo com o comando da PM à época, foi encontrado sangue no interior de alguns dos oito carros apreendidos e nas ruas próximas da empresa de transporte de valor atacada pelo grupo. Além do uso de cães farejadores, as amostras de sangue dos criminosos também foram recolhidas pelos peritos da Polícia Científica para auxiliar na investigação. Helicópteros e drones também foram usados nos primeiros momentos das buscas.
Um dos suspeitos de envolvimento na tentativa de assalto foi preso no fim do dia 18 de abril. De acordo com informações da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), o homem detido é morador de Guarapuava, e segundo as investigações conduzidas pela Polícia Civil ele estaria ligado ao fornecimento de armas à quadrilha, formada por cerca de 30 pessoas. Ele foi liberado dias depois.
A Sesp também confirmou que doze veículos usados pelos assaltantes foram localizados no mesmo dia do ataque. Quatro desses veículos foram queimados e utilizados como barreiras para bloquear o trânsito na rodovia BR-277. Também foram encontradas armas, munições, capacetes e coletes balísticos, balaclavas, facas, celulares, lanternas, um par de placas de veículo e R$ 1,4 mil em espécie.
Policiais do 16º Batalhão em Guarapuava (16° BPM) questionaram a versão da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) e do comando da Polícia Militar (PM) de que foi executado um plano de contingência para barrar a tentativa de assalto à transportadora de valores.
Em nota, os praças (militares que não são oficiais, com as patentes de soldado, cabo, sargento e subtenente) do 16º Batalhão afirmam que a contenção não foi resultado de um plano determinado pelo comando, mas sim de decisões tomadas pelos próprios policiais que estavam trabalhando.
Quase uma semana após os ataques criminosos ocorridos durante o feriado da Páscoa em Guarapuava, o governo estadual anunciou um reforço na força-tarefa responsável pelas investigações da tentativa de assalto. Um grupo especializado, de Curitiba, se juntou ao grupo - até então, a força-tarefa era composta pelas polícias do Paraná (Civil, Militar e Científica), Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal, além de Polícias Civis de outros estados. No dia anterior, o comando-geral da PM do Paraná havia substituído o comandante do 16º Batalhão da PM, em Guarapuava.
O coronel do Exército Romulo Marinho, que estava no cargo de secretário estadual da Segurança Pública desde 2019, foi substituído pelo delegado da Polícia Federal Wagner Mesquita, que estava na direção-geral do Detran-PR. Mesquita, que já fora secretário de Segurança durante o governo Beto Richa (PSDB), assumiu a Sesp pela segunda vez.
Marinho caiu após pressão política e das próprias forças de segurança por conta da condução do caso do ataque em Guarapuava. Parte do desgaste foi causado pelo posicionamento dos policiais em desmentirem a existência de um plano de contingência para o ataque.
Paralelamente, a bancada de oposição na Assembleia Legislativa e os deputados ligados às forças policiais tentaram retomar o requerimento de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Segurança Pública. O requerimento chegou a ter 17 assinaturas, uma a menos do que o necessário para abertura da CPI, o que levou o Palácio Iguaçu a realizar uma reunião às pressas para tentar conter a CPI em ano eleitoral.
Trinta e dois policiais do 16º Batalhão de Polícia Militar, de Guarapuava, que atuaram no enfrentamento ao “cerco” na cidade, estão sendo investigados em Inquérito Policial Militar (IPM) por comentários feitos em um grupo de WhatsApp após a confirmação da morte de um dos policiais que atuou na ocorrência.
Logo após a notícia da morte do 3º sargento Ricieri Chagas, os policiais do batalhão reagiram com indignação no grupo de WhatsApp que mantêm para comunicação. Houve críticas ao chefe do Batalhão, ao Comando da Polícia Militar e à Secretaria de Estado da Segurança Pública, principalmente por conta da divulgação da informação de que havia um plano de contingência para enfrentar aquela situação, o que foi contestado pelos policiais. O inquérito segue em aberto, sem previsão de término.
Policiais do 16º Batalhão de Polícia Militar (BPM) de Guarapuava declararam, em depoimento, que o setor de inteligência da corporação recebeu informações sobre o risco de invasão ao município pelo menos 10 dias antes da tentativa do assalto de grandes proporções à transportadora de valores, ocorrido no mês de abril de 2022.
Nos depoimentos, pelo menos dois policiais detalham ter avisado o setor de inteligência da PM sobre as chances de invasão à cidade. Os policiais disseram ter conseguido informações prévias, por meio de um informante, sobre o uso de armas de longo calibre pelos assaltantes, bem como uso de carros blindados. Segundo eles, essas informações também foram repassadas à PM.
Segundo os policiais, após o repasse das informações aos superiores, foram realizadas reuniões, mas nenhum plano de contingência foi apresentado ao efetivo do batalhão. Disseram também que, a pedido da inteligência da PM, foi solicitado sigilo sobre as informações envolvendo a possibilidade de invasão, que acabou se concretizando em abril.
Em 20 de setembro, as polícias do Paraná cumpriram 74 mandados de prisão e de busca e apreensão contra o grupo criminoso. A ação, que reuniu 500 agentes das polícias Civil, Militar e Científica do Paraná, ocorreu em 18 cidades, dez delas no Paraná: Curitiba, Campina Grande do Sul, Fazenda Rio Grande, São José dos Pinhais, Maringá, Mandirituba, Ortigueira, Pinhais, Tibagi e Piraquara. A operação também foi executada em cidades de Santa Catarina e São Paulo.
De acordo com a investigação, a organização criminosa é responsável, além do assalto em Guarapuava, também por roubos cometidos em Campina Grande do Sul, Cerro Azul, Lapa e Quitandinha, no Paraná; Criciúma, Araquari e Blumenau, em Santa Catarina; Araçatuba e Ourinhos, no estado de São Paulo; e em Itajubá (MG).
"Foi um questão de honra para a segurança pública do Paraná dar a devida resposta a uma afronta deste tamanho". Assim, o então secretário da Segurança Pública, Wagner Mesquita de Oliveira, definiu a megaoperação posta em ação em três estados contra participantes do grupo que sitiou Guarapuava.
Participaram da operação 700 policiais, sendo 500 do Paraná, dos quais 350, entre policiais militares, civis e da Polícia Científica, seguiram para cumprir mandados em São Paulo. No estado vizinho, tiveram o apoio de policiais civis e militares daquela unidade da federação. Segundo informações da Sesp, para chegar aos suspeitos foram realizados mais de 130 laudos periciais das mais diversas naturezas, como exames de DNA, exame de confronto balístico, de carros e equipamentos apreendidos.
Como reação à tentativa de assalto, vereadores de Guarapuava votaram uma lei que proibia novas empresas de transporte e guarda de valores de se instalarem na área urbana da cidade. O objetivo, explicam os vereadores, é trazer mais segurança para os moradores de Guarapuava. Empresas que já estejam estabelecidas na cidade terão um prazo de dois anos para procurarem um novo local para exercerem suas atividades.
As mais altas autoridades policiais do Paraná estiveram no Quartel do Comando-Geral da Polícia Militar do Paraná em 25 de outubro em uma homenagem a policiais militares e civis que desbarataram a quadrilha que levou pânico à Guarapuava em 17 de abril de 2022.
Ao todo, 44 agentes da segurança pública do Paraná e de São Paulo receberam a “Medalha de Mérito do Comando-Geral – Coronel PM Pedro Scherer Sobrinho” por participarem da Mega Operação Guarapuava, em 20 de setembro, que resultou em 24 pessoas presas, 8 suspeitos mortos em confrontos com os policiais e várias armas apreendidas.
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