O ex-procurador aposentado da República Carlos Fernando dos Santos Lima, que atuou na Operação Lava Jato, foi acusado de receber propina de doleiros para que estes não fossem processados na força-tarefa. A acusação foi feita pelo advogado Rodrigo Tacla Duran durante depoimento prestado nesta terça-feira (9) ao juiz Eduardo Appio, da 13ª Vara da Justiça Federal em Curitiba.
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Em seu depoimento, Tacla Duran, que atualmente mora na Espanha e participou da audiência por videoconferência, citou o nome de quatro doleiros supostamente envolvidos no esquema. Um dos denunciados é o chinês Wu-Yu Sheng, já falecido. Ele teria sido responsável, segundo o depoente, por pagar meio milhão de dólares a advogados supostamente envolvidos no esquema.
“Essa proteção era praticada mediante a cobrança de uma taxa, para que o doutor Carlos Fernando se comprometesse à não-persecução penal desses doleiros que participavam da mesada, entre eles o Wu. Ele passou a ajudar a pagar esse valor todo mês, por muito tempo”, afirmou Duran.
750 mil dólares entregues em espécie
Em outro trecho do depoimento, a testemunha alega que o doleiro chinês teria entregado 750 mil dólares em espécie em alguns escritórios de advocacia. “Escritórios dos quais esses valores se destinavam ao dr. Carlos Fernando Santos Lima, do pai dele, que rotineiramente frequentavam esses escritórios”, disse Duran.
A suposta proteção financiada pelos doleiros garantiria, segundo a testemunha, uma certa imunidade contra a Lava-Jato no Paraná. Porém, Wu acabou sendo acusado pela força-tarefa no Rio de Janeiro.
A reportagem tentou contato com o escritório de advocacia e com a defesa do ex-procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, mas até a noite desta quarta-feira (10) não obteve retorno. O espaço segue aberto para o posicionamento de Lima.
"Essa era a regra do jogo em Curitiba"
Tacla Duran foi ouvido pelo juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba como testemunha indicada pelo ex-vice-presidente do Equador, Jorge David Glas Espinel, em um processo que envolve a empreiteira Odebrecht – empresa para a qual prestou serviços como advogado. Na época, relatou ao magistrado, alguns executivos teriam sido “forçados e humilhados a delatar”.
O clima na construtora, alegou a testemunha, era de “perseguição”, a ponto de um executivo da Odebrecht no Equador ter supostamente forjado provas “para poder oferecer elementos aos procuradores para que se justificasse um acordo”. A atitude, reforçou Duran, foi resultado da pressão exercida pelos investigadores contra alguém que não tinha provas concretas de corrupção.
“Essa era a regra do jogo naquele momento em Curitiba. Tem que deletar quem, e o que era exigido, se não quem estava preso não tinha liberdade, e quem não estava preso era intimidado e coagido intensamente para fazer o acordo. Alguns não tinham o que delatar, na verdade, e eram forçados para não serem presos”, disse Duran.
Polícia Federal no Paraná foi acionada
A defesa do ex-vice-presidente do Equador Jorge Glas, em documento apresentado à Justiça, reforçou as alegações de Tacla Duran sobre a suposta produção de provas forjadas e classificou os bastidores dos acordos de delação premiada formalizado por executivos da Odebrecht como “ocorrências criminosas, abusivas e ilegais”. Na petição, o advogado de Glas também requereu “a formal instauração de Inquérito Policial para apuração dos fatos narrados”.
Diante das acusações, o juiz Eduardo Appio emitiu um despacho no qual encaminhou cópia da audiência para a superintendência da Polícia Federal no Paraná “para as providências que julgar cabíveis”. Os fatos supostamente criminosos noticiados por Duran, que depôs na condição de testemunha, foram classificados pelo magistrado como sendo de “imensa gravidade”. A Gazeta do Povo também está tenta contato com a superintendência da PF no Paraná, mas até a publicação da reportagem não havia recebido um retorno.
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