O Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR) identificou irregularidades em um processo de licitação aberto pela Secretaria de Estado da Educação (Seed) do Paraná para a locação de tablets para estudantes da rede pública de ensino. O pregão está previsto para esta quinta-feira (19), e tem como valor final cerca de R$ 75 milhões, destinados à locação de pouco mais de 2 mil tablets. Para o tribunal, porém, o valor seria suficiente para comprar mais de 68 mil equipamentos.
Receba as principais notícias do Paraná pelo WhatsApp
As irregularidades foram apontadas pela 2ª Inspetoria de Controle Externo da corte de contas, e acatadas pelo conselheiro Maurício Requião, que determinou cautelarmente a suspensão do pregão. Pelos termos do edital, a Seed pretende contratar a “locação de tablets para uso pedagógico, com a finalidade de atender as Unidades de Ensino, visando o acesso às plataformas de ensino”. Para tanto, foi destinado um valor de R$ 75.008.822,40 para a locação de 25.040 tablets.
Tablets poderiam ser comprados por cerca de um terço do valor, aponta TCE
A inspetoria do TCE fez as contas e indicou, na representação encaminhada ao conselheiro Maurício Requião, que a locação de cada tablet custaria aos cofres públicos um valor próximo dos R$ 3 mil. No valor não foram considerados os reajustes previstos no Termo de Referência do pregão.
O documento apresenta consultas feitas a sites de comércio eletrônico, nos quais os inspetores identificaram tablets similares sendo vendidos a preços entre R$ 1,6 mil e R$ 1,8 mil. No Portal Nacional de Contratações Públicas, o valor médio para compra do equipamento é de R$ 1,5 mil. A representação segue, mostrando que no Portal Nota Paraná foram encontrados tablets similares a menos de R$ 1,1 mil.
“Na contratação ora analisada, a administração pública jamais considerou alternativas de contratação, que não a locação. Para isso, apenas explicou sua escolha informando que ‘por se tratar de serviço, não será necessário utilizar todo orçamento imediatamente’, aponta a representação.
Para os analistas, “é importante destacar que os argumentos adotados pela Representada para optar pela ‘locação’ são extremamente simplistas e não cumprem com a obrigação legal do administrador público de motivar suas decisões para as escolhas adotadas e garantir competividade ao certame”.
Edital de locação de tablets recebeu questionamentos e pedidos de impugnação
Além da representação, o edital recebeu diversos questionamentos e dois pedidos de impugnação. Em um deles, uma das empresas interessadas requereu adequações ao edital sobre as responsabilidades do fornecedor em casos de perda, furto ou roubo dos tablets. O pedido de impugnação foi negado.
No segundo, outra empresa questiona os critérios de qualificação financeira adotados no edital, e pede adequações. A requisição foi acatada parcialmente pela Seed, de acordo com a documentação oficial do certame.
Secretaria diz que não pode usar recursos para a compra de equipamentos novos
À Gazeta do Povo, a Seed confirmou que a licitação segue aberta, apesar do pedido cautelar de suspensão do pregão. Em nota, a pasta explicou que o recurso destinado à locação dos tablets é proveniente de uma lei federal que destinou recursos a todas as secretarias de estado da Educação do Brasil.
O dinheiro, explica a nota, foi disponibilizado para a compra de chips para celulares em apoio às aulas remotas que viraram regra durante a pandemia de covid-19. “Como foi liberado em momento que as aulas presenciais já haviam retornado, a SEED entendeu que a destinação para tal não era mais viável”, aponta a nota.
Parte dos recursos foi direcionada à compra de 50 mil tablets, efetivada em 2023 pela secretaria. A outra parte da verba tem uso exclusivo no custeio de serviços, e por isso não pode ser utilizada para a compra de um novo lote de equipamentos.
“Os recursos de custeio não poderiam ser utilizados, sob nenhuma circunstância, para a compra de equipamentos, sendo obrigatoriamente aplicados em serviços. Caso o recurso não fosse usado, precisaria ser devolvido para Brasília”, completa a nota, apontando que o plano de aplicação foi devidamente aprovado pelo Ministério da Educação.
Por fim, a nota da Seed reforça que o processo licitatório vem sendo conduzido “de acordo com os trâmites legais, assegurando fiscalização e transparência”, e que não há decisão definitiva sobre a suspensão do certame.
Segurança pública: estados firmaram quase R$ 1 bi em contratos sem licitação
Franquia paranaense planeja faturar R$ 777 milhões em 2024
De café a salão de beleza, Curitiba se torna celeiro de franquias no Brasil
Eduardo Requião é alvo de operação por suspeita de fraudes em contratos da Portos do Paraná